23. O anjo
Enquanto eu flutuava, eu sonhei.Onde eu flutuava, embaixo de uam água escura, eu ouvi o som mais feliz que minha mente poderia imaginar -tão lindo, tão animador, quanto era horrível. Era um outro rosnado; um rosnado mais profundo, mais selvagem que estava cheio de fúria.Eu fiu trazida de volta, quase á superfície, por uma dor pulsante na minha mão meio levantada, mas eu não consegui achar o caminho o suficiente pra abrir os olhos.E então eu sabia que estava morta.Porque, pela água pesada, eu ouvi o som de um anjo chamando meu nome, me chamando para o único céu que eu queria."Ah, não, Bella, não!", a voz do anjo chorava horrorizada.Por trás daquele som desejado havia outro barulho - um horrível ruído de tumulto do qual minha mente se afastava. Um violento rugido baixo, um chocante barulho de estalo, e um som alto e agudo, de repente apareceram...Em vez disso eu tentei me concentrar na voz do anjo."Bella, por favor! Bella, me ouça, por favor, por favor, Bella, por favor!", ele implorou.Sim, eu queria dizer. Qualquer coisa. Mas eu não conseguia encontrar meus lábios."Carlisle!", o anjo chamou, agonia na sua voz perfeita. "Bella, Bella, ah, não, por favor, não, não!" E o anjo chorava sem lágrimas, soluços despedaçados.Um anjo não deveria chorar, era errado. Eu tentei encontrá-lo, dizê-lo que estava tudo bem, mas a água era profunda demais, estava me pressionando, e eu não podia respirar.Ouve um ponto pressionado na minha cabeça. Doeu. Então, quando a dor quebrou a escuridão chegando até mim, outras dores vieram, dores mais fortes. Eu chorei, ofegante, quebrando o caminho pela escuridão."Bella!", o anjo chamou."Ela perdeu algum sangue, mas o corte na cabeça não é fundo", uma voz calma me informou. "Cuidado com a perna dela, está quebrada".Um rugido de raiva ficou estrangulado no lábios do meu anjo.Eu senti uma coisa me cutucando do meu lado. Isso não podia ser o paraíso, podia? Havia dor demais pra isso.
"e algumas costelas também, eu acho", continuou a voz metódica.
Mas as dores agudas estavam sumindo. Havia uma dor nova, uma dor escaldante na minha mão que apagava todas as outras.
Alguém estava me queimando.
"Edward", eu tentei dizer pra ele,mas minha voz estava muito pesada e lenta. Nem eu conseguia me entender.
"Bella, você vai ficar bem. Você pode me ouvir, Bella? Eu te amo."
"Edward", eu tentei de novo. Minha voz estava um pouco mais clara.
"Sim, eu estou aqui"
"Está doendo", eu solucei.
"Eu sei, Bella, eu sei" - então na outra direção, angustiado- "Você não pode fazer nada?"
"Minha bolasa, por favor... Tape a respiração, Alice, vai ajudar", Carlisle prometeu.
"Alice?", eu gemí.
"Ela está aqui, ela sabia onde te encontrar".
"Minha mão está doendo", eu tentei dizer pra ele.
"Eu sei, Bella. Carlisle vai te dar alguma coisa, a dor vai parar".
"Minha mão está quimando!", eu gritei, finalmente escapando dos últimos vestígios da escuridão, meus olhos se abrindo. Eu não podia ver o rosto dele, havia algo escuro e quentinho que estava nublando meus olhos. Porque eles não podiam ver o fogo e apagá-lo?
A voz dele estava amedrontada. "Bella?"
"O fogo! Alguém apague o fogo!", eu gritei enquanto ele me queimava.
"Carlisle! A mão dela!"
"Ele mordeu ela", a voz de Carlisle não estava mais calma, estava pasma.
Eu ouví Edward prender o fôlego, horrorizado.
"Edward, você tem que fazer isso". Era a voz de Alice, perto da minha cabeça. Dedos frios limparam a umidade dos meus olhos.
"Não!", ele berrou.
"Pode haver uma chance", Carlisle disse.
"O que?", Edward implorou.
"Veja se consegue sugar o veneno pra fora. A ferida ainda está limpa". Enquanto Carlisle falava, eu podia sentir uma pressão maior na minha cabeça, alguma coisa cutucando e puxando o meu couro cabeludo. A dor que isso causava estava perdida na dor do fogo.
"Isso vai funcionar?", a voz de Alice estava tensa.
"Eu não sei", Carlisle disse. "Mas temos que nos apressar".
"Carlisle, eu", Edward hesitou. "Eu não sei se consigo fazer isso".
Havia agonia na sua linda voz de novo.
"A decisão é sua, Edward, de qualquer forma. Eu não posso ajudá-lo. Eu preciso fazer esse sangramento parar aqui, se nós vamos tirar sangue da mão dela".
Eu me estorci na dor da tortura insuportável, o movimento fazendo a dor da minha perna queimar intensamente.
"Edward!", eu gritei. Eu me dei conta de que meus olhos estavam fechados de novo. Eu abri eles, desesperada para achar o rosto dele. E eu o encontrei. Finalmente eu conseguia ver o seu rosto perfeito, olhando pra mim, contorcido numa máscara de indecisão e dor.
"Alice, me dê alguma coisa para parar a perna dela!", Carlisle estava curvado sobre mim, trabalhando na minha cabeça. "Edward, você precisa fazer isso agora, ou então será tarde demais".
O rosto de Edward estava cansado. Eu observei enquanto a dúvida dos seus olhos era subitamente trocada por uam determinação gritante. A mandíbula dele se apertou. Eu senti seus dedos frios, fortes, na minha mão que estava queimando, ele colocou ela no lugar. Então sua cabeça se inclinou sobre ela, e os lábios frios dele se pressionaram na minha pele.
Primeiro a dor foi pior. Eu gritei e me contorci contra as mãos geladas que me seguravam no lugar. Eu ouví avoz de Alice tentando me acalmar. Alguma coisa pesada segurava minha perna no chão, e Carlisle segurava minha cabeça presa no vão do seu braço de pedra.
Então, lentamente, minhas estorções se acalmaram enquanto minha mão ia ficando mais e mais entorpecida. O fogo estava diminuindo, se concentrando em um pequeno ponto.
Eu senti minha consciência sumindo enquanto a dor diminuia. Eu estava com medo de cair nas águas escuras de novo, com medo de perdê-lo na escuridão.
"Edward", eu tentei dizer, mas eu não conseguia ouvir minha voz. Eles podiam me ouvir.
"Ele está bem aqui, Bella".
"Fique, Edward, fique comigo..."
"Eu vou". A voz dele estava tensa, mas de alguma forma triumfante.
Eu suspirei contente.
O fogo havia desaparecido, as outras dores estavam adormecidas, vazando pelo meu corpo.
"Está tudo fora?", Carlisle perguntou de algum lugar distante.
"O sangue dela está limpo", Edward disse baixinho. "Eu pude sentir o gosto da morfina".
"Bella?", Carlisle me chamou.
Eu tentei responder. "Mmmmmmmm?"
"O fogo foi embora?"
"Sim", eu suspirei. "Obrigada, Edward".
"Eu te amo.", ele respondeu.
"Eu sei", eu respirei, cansada demais.
Eu ouví o meu som favorito no mundo inteiro: a risada baixinha de Edward, fraca de alivio.
"Bella?", Carlisle chamou de novo.
Eu fiz uma careta; eu queria dormir. "O que?"
"Onde está a sua mãe?"
"Na Flórida", eu suspirei. "Ele me enganou, Edward. Ele assistiu aos nossos vídeos. O ultraje na minha voz era uma entonação frágil de dor.
Mas isso me lembrou.
"Alice", eu tentei abrir meus olhos. "Alice, o vídeo - ele conhecia você, Alice, ela sabia de onde você tinha vindo". Eu tentei falar urgentemente, mas minha voz estava grogue. "Eu cheirei gasolina", eu acrescentei, surpresa entre a neblina que havia no meu cérebro.
"É hora de mover ela", Carlisle disse.
"Não, eu quero dormir", eu reclamei.
"Você pode dormir, meu bem, eu vou carregar você", Edward me confortou.
E eu estava nos braços dele, embalada no peito dele - flutuando, toda a dor havia desaparecido.
"Durma agora, Bella", foram suas últimas palavras que eu ouvi.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Crepusculo (Stephenie Meyer) 22ª part
22. Esconde - esconde
Levou muito menos tempo do que eu espera - todo o terror, o desespero, a dor do meu coração partido. Os minutos estavam se passando mais devagar do que o normal. Jasper ainda não tinha voltado quando eu retornei para Alice. Eu estava com medo de ficar no mesmo quarto com ela, com medo que ela adivinhasse... e com medo de me esconder dela pela mesma razão.Eu teria pensado que estava longe da possibilidade de me surpreender, meus pensamentos estavam torturados e desestabilizados, mas eu fiquei surpresa quando ví Alice se inclinar na mesa, agarrando a borda com as duas mãos."Alice?"Ela não reagiu quando eu chamei o nome dela, mas a cabeça dela estava se balançando lentamente de um lado para o outro, e eu ví o rosto dela. Seus olhos estavam vazios, ofuscados... Meus pensamentos viajaram para a minha mãe. Eu já estava atrasada?Eu corri para o lado dela, me lançando automaticamente pra pegar na mão dela."Alice!", a voz de Jasper cortou, e então ele estava atrás dela, as mãos dele sobre as mãos dela, fazendo elas soltarem a borda da mesa. Do outro lado da sala, a porta estava se fechando com um click baixinho."O que foi?", ele quis saber.Ela desviou o rosto de mim e o colocou no peito dele. "Bella", ela disse.A cabeça dela se virou pra mim, os olhos dela se prendendo aos meus, a expressão deles ainda estava estranhamente vazia. Eu me dei conta na hora de que ela não estava falando comigo, ela estava respondendo á pergunta de Jasper."O que você viu?", eu disse - e não havia pergunta nenhuma no tom vazio, sem importância da minha voz.Jasper olhou pra mim asperamente. Eu mantive a expressão vazia e esperei. Os olhos dele estavam confusos enquanto passavam rapidamente do rosto de Alice para o meu, sentindo o caos... eu imagino que tenha sido pelo que Alice havia acabado de ver.Eu senti uma atmosfera tranquila pousar ao meu redor. Eu a recebí bem, usando ela pra manter os meus sentimentos em disciplina, sobre controle.Alice, também se recuperou.
"Nada, de verdade", ela respondeu finalmente, a voz dela incrivelmente calma e convincente. "Só o mesmo quarto de antes".
Ela finalmente olhou pra mim, sua expressão estava suave e reservada.
"Você queria tomar o café da manhã?"
"Não, eu vou comer no aeroporto". Eu estava muito calma também. Eu fui para o banheiro pra tomar um banho. Quase como se eu estivesse desenvolvendo o estranho poder de Jasper, eu podia sentir o desespero - bem dissimulado - selvagem de Alice para que eu saisse da sala, para estar sozinha com Jasper. Assim ela poderia dizer a ele que os dois estavam fazendo alguma coisa errada, que eles iam falhar...
Eu me aprontei metodicamente, me concentrando em cada pequena tarefa. Eu deixei meu cabelo solto, se torcendo, cobrindo meu rosto.
O sentimento de paz que Jasper criou funcionou e me ajudou a pensar com clareza. Me ajudou a planejar. Eu procurei na minha bolsa até que encontrei minha meia cheia de dinheiro. Eu coloquei tudo que havia nela no meu bolso.
Eu estava ansiosa para chegar ao aeroporto,e feliz quando nós saímos por volta das sete. Dessa vez eu me sentei sozinha no fundo do carro escuro. Alice estava inclinada na porta, seu rosto estava virado pra Jasper, mas por trás dos óculos escuros, seus olhos se viravam pra mim a cada segundo.
"Alice?", eu perguntei indiferente.
Ela estava sendo cautelosa. "Sim?"
"Como isso funciona? As coisas que você vê?", eu olhei pra fora pela janela, e minha voz soou aborrecida. "Edward disse que não era definitivo... que as coisas mudam?"
Dizer o nome dele era mais difícil do que eu pensei. Deve ter sido isso que alertou Jasper, porque um flash de serenidade invadiu o carro.
"Sim... as coisas mudam", ela murmurou - esperançosamente, eu esperava. "Algumas coisas são mais certas que outras...como o clima.
As pessoas são mais difíceis. Eu só vejo os caminhos onde as pessoas estão quando elas ainda estão neles. Somente elas podem mudar suas mentes - tomar uma decisão, não importa o quanto ela seja pequena - muda todo o futuro".
Eu balancei a cabeça pensativamente. "Então você não conseguiu ver James em Phoenix até que ele decidiu vir pra cá".
"Sim", ela respondeu, cautelosa de novo.
E ela não tinha me visto na sala dos espelhos com James até que eu decidí ir encontrá-lo lá. Eu tentei não pensar no que mais ela havia visto. Eu tentei não fazer o meu pânico deixar Jasper ainda mais suspeito. De qualquer forma, eles iam estar me observando ainda mais cuidadosamente depois da visão de Alice. Isso ia ser impossível.
Nós chegamos no aeroporto. A sorte estava comigo, ou talvez fosse somente pontos de desvantagem. O avião de Edward estava aterrisando no terminal quatro, o maior terminal, onde a maioria dos vôos desembarcava - então não era uma grande surpresa que o dele fosse aterrisar lá. Mas esse era o terminal que eu precisava: o maior o mais confuso. E havia uma porta no nível três que podia ser a minha única chance.
Nós paramos no quarto andar da enorme garagem. Eu guiei o caminho, por conhecer melhor o trajeto do que eles. Nós pegamos o elevador até o nível três, onde os passageiros desembarcavam. Alice e Jasper ficaram um longo tempo no balcão procurando os vôos que haviam chegado. Eu ouvia eles discutindo os prós e contras de Nova York, Atlanta, Chicago. Lugares que eu nunca havia visitado. E nunca visitaria.
Eu esperei pela minha oportunidade, impaciente, sem conseguir fazer meu pé parar de se mexer.
Nós nos sentamos numa longa fileira de cadeiras perto dos detectores de metal, Jasper e Alice estavam fingindo observar as pessoas, mas na cerdade estavam observando a mim. Cada centímetro que eu me mexia na cadeira era acompanhado por olhares nos cantos dos olhos deles. Eu não tinha esperanças. Será que eu deveria correr? Eles ousariam me deter fisicamente nesse local público? Ou eles simplesmente me seguiriam?
Eu puxei o envelope sem lacre da minha bolsa e o coloquei em cima da bolsa de couro preto de Alice. Ela olhou pra mim.
"Minha carta", eu disse.
Ela afirmou com a cabeça e o colocou embaixo da bolsa. Ele a encontraria rápido o suficiente.
Os minutos foram se passando e o momento da chegada de Edward se aproximava. Era impressionante como cada célula do meu corpo parecia saber que ele estava chegando, e ansiava pela sua chegada.
Isso dificultou as coisas. Eu me peguei tentando inventar desculpas pra ficar, pra vê-lo antes e depois escapar. Mas eu sabia que isso era impossível se eu queria ter alguma chance de escapar.
Várias vezes Alice se ofereceu pra ir pegar meu café da manhã comigo. Depois, eu disse pra ela, ainda não.
Eu olhei para o painel de vôos, observando enquanto vôos após vôos chegavam no horário. O vôo de Seattle se aproximava a cada segundo do topo do painél.
E então, quando eu só tinha meia hora para escapar, os números mudaram. O vôo dele estava dez minutos adiantado. Eu não tinha mais tempo.
"Eu acho que vou comer agora", eu disse rapidamente.
Alice ficou de pé. "Eu vou com você".
"Você se importa se Jasper vier?", eu perguntei. "Eu estou me sentindo um pouco...", eu não terminei a frase. Meus olhos já estavam selvagens o suficiente pra convencê-los do que eu não precisei dizer.
Jasper ficou de pé. Os olhos de Alice estavam confusos, mas - eu ví aliviada - não suspeitos. Ela deve estar atribuindo a visão dela á alguma manobra do perseguidor, e não a uma traição minha.
Jasper caminhou silenciosamente ao meu lado, sua mão na curva das minhas costas, como se ele estivesse me guiando. Eu fingi um pouco de interesse pelos poucos restaurantes do aeroporto, minha cabeça estava procurando aquilo que eu realmente queria. E lá estava ele, virando o corredor, fora da visão aguda de Alice: o banheiro feminino do terceiro nível.
"Você se importa?", eu perguntei a Jasper enquanto passavamos. "Só vai demorar um momentinho".
"Eu vou ficar aqui", ele disse.
Assim que a porta se fechou atrás de mim, eu já estava correndo. Eu me lembrei da outra vez que me perdi nesse banheiro, porque ele tem duas saídas.
Do lado de fora das portas, eu tinha que correr uma curta distância até os elevadores, e se Jasper ficasse onde ele disse que ficaria, ele jamais poderia me ver. Eu não olhei pra trás enquanto corria. Essa era a minha única chance, e mesmo que ele me visse, eu tinha que continuar correndo. As pessoas me olharam,mas eu ignorei elas. Virando na esquina, os elevadres estavam me esperando, eu corri em frente, jogando minha mão nas portas que estavam se fechando de um elevador que estava descendo. Dentro, eu me espremi entre os passageiros irritados, e chequei pra ter certeza de que haviam apertado o botão para o nível um. Ele já estava aceso e as portas se fecharam.
Assim que a porta se abriu eu já estava fora de novo, e ouvi o som de murmúrios aborrecidos atrás de mim. Eu me controlei enquanto passava pelos guardas nos carroséis de bagagem, mas comecei a correr de novo quando as portas da saída começaram a aparecer.
Eu não tinha como saber se Jasper já estava procurando por mim.
Se ele estivesse sentindo o meu cheiro, eu só tinha alguns segundos. Eu pulei pra fora pelas portas automáticas, quase me chocando com os vidros porque elas se abriram devagar demais.
Não havia nenhum taxí á vista na longa curva lotada.
Eu não tinha tempo. Alice e Jasper não demoraria a se dar conta que eu tinha ido embora, se é que já não haviam percebido. Eles me achariam num piscar de olhos.
Um transporte público para o Hyatt estava fechando as portas a alguns metros de distância atrás de mim.
"Espere!", eu chamei, correndo, acenando para o motorista.
"Esse é o transporte para o Hyatt", o motorista disse confuso enquanto abria as portas.
"Sim", eu gritei, "é pra lá que eu estou indo". Eu subí os degraus correndo.
Ele olhou curioso para as minhas poucas bagagens, mas então levantou os ombros, sem se importar o suficiente pra perguntar.
A maioria dos bancos estava vazia. Eu me sentei tão longe dos viajantes quanto foi possível, e olhei pra fora da janela enquanto primeiro a calçada, depois o aeroporto iam se afastando.
Eu não pude deixar de imaginar Edward, onde ele iria ficar na pista quando descobrisse até onde o meu cheiro ia. Eu não choraria ainda, eu disse pra mim mesma. Eu ainda tinha um grande caminho a percorrer.
Minha sorte continuou. Na frente do Hyatt, um casal de aparecia cansada estava tirando a última mala deles da mala de um táxi. Eu pulei pra fora do transporte e corri para o táxi, deslizando no banco atrás do motorista. O casal cansado e o motorista do transporte público olharam pra mim surpresos.
Eu disse o endereço da minha mãe ao surpreso motorista de táxi. "Eu preciso chegar aí o mais rápido possível".
"Isso é em Scottsdale", ele reclamou.
Eu joguei quatro notas de vinte no banco.
"Isso vai ser suficiente?"
"Claro, garota, sem problemas."
Eu me encostei no banco, cruzando meus braços no colo. A cidade familiar cmeçou a passar correndo por mim, mas eu não olhava para a janela.
Eu disse para mim mesma para manter o controle. Eu estava determinada a não estragar as coisas a esse ponto, agora que o meu plano estava completamente sucedido. Não havia motivo pra mergulhar em mais medo, mais ansiedade. Minha tarefa estava passada, agora eu só tinha que cumpri-la.
Então, ao invés de entrar em pânico, eu fechei meus olhos e passei os vinte minutos da viagem com Edward. Eu imaginei que tinha ficado no aeroporto pra me encontrar com Edward. Eu visualizei como eu ficaria na ponta dos pés, pra ver o seu rosto mais rápido. Como ele se moveria rapidamente, graciosamente entre as pessoas que nos separavam. E então eu correria para fechar os metros restantes entre nós - descuidada, como sempre - e eu estaria nos seus braços de mármore, finalmente a salvo.
Eu me perguntei pra onde nós teríamos ido. Pra algum lugar á Norte, pra que ele pudesse sair durante o dia. Ou talvez algum lugar muito remoto, para que pudéssemos sair juntos no sol de novo. Eu imaginei ele numa costa, sua pele brilhando como o mar. Não importaria quanto tempo nós tivéssemos que nos esconder.
Ficar presa num quarto de hotel com ele seria uma espécie de paraíso. Tantas perguntas que eu ainda tinha que fazer pra ele. Eu podia falar com ele pra sempre, não dormir nunca, nunca sair de perto dele.Eu podia ver o rosto dele tão claramente agora... quase ouvir a voz dele. E, a despeito de todo o terror e da falta de esperança, eu estava flutuando de felicidade. Eu estava tão envolvida nos meus sonhos de fuga, que perdi a noção dos segundos passando."Ei, qual é o número?"A pergunta do motorista perfurou minhas fantasias, deixando todas as cores escaparem das minhas adoráveis ilusões. Medo, vazio e dor estavam esperando pra preencher o vazio que elas deixaram pra trás."Cinqüenta e oito - vinte um", minha voz saiu estrangulada. O motorista olhou pra mim, nervoso por eu estar tendo uma crise ou alguma coisa assim."Então, aqui estamos". Ele estava ansioso pra me ver fora do carro dele, provavelmente com medo que eu pedisse o troco."Obrigada", eu murmurei. Não havia necessidade de ter medo, eu lembrei pra mim mesma. A casa estava vazia. Eu tinha que correr; minha mãe estava esperando por mim, assustada, dependendo de mim.Eu corri para a porta, me abaixando automaticamente pra pegar a chave embaixo do tapete. Eu destranquei a porta. Estava escuro lá dentro, vazio, normal. Eu corri para o telefone, ligando a luz da cozinha no caminho. Lá, no balcão branco, estava um número de dez dígitos escritos com uma letra pequena, organizada. Meus dedos tremiam no teclado, cometendo erros. Eu tive que desligar e começar tudo de novo. Dessa vez eu me concentrei só nos botões, cuidadosamente apertando um de cada vez. Eu conseguí. Eu segurei o telefone na minha orelha com a mão tremendo. Só chamou uma vez."Olá, Bella", a voz calma atendeu. "Isso foi muito rápido. Eu estou impressionado.""Minha mãe está bem?""Ela está perfeitamente bem. Não se preocupe, Bella, eu não estou disputando ela. A não ser que você não tenha vindo sozinha, é claro". Leve, divertido."Eu estou sozinha".
Eu nunca estive tão sozinha a minha vida inteira.
"Muito bom. Agora, você sabe onde é o estúdio de balé que fica na esquina da sua casa?"
"Sim, eu sei como chegar aí".
"Bem , então, eu te vejo em breve".
Eu desliguei.
Eu corrí para a porta, pela porta, e para o calor escaldante.
Não havia tempo de olhar pra trás para a minha casa, e eu não queriam vê-la como ela estava agora - vazia, um simbolo de medo e não um santuário. A última pessoa a andar entre aquelas paredes familiares era o meu inimigo.
Pelo canto do meu olho, eu quase conseguia ver aminha mãe na sombra do eucalipto onde eu brincava quando era criança. Ou ajoelhada no monte de sujeira perto da caixa de correio, o cemetério de todas as flores que ela tentou plantar. A smemórias eram melhores do que qualquer realidade que eu pudesse ver hoje. Mas eu corri pra longe delas, virei a esquina, deixando tudo pra trás.
Eu me sentia tão lenta, como se eu estivesse correndo na areia molhada- eu não parecia conseguir me impulsionar o suficiente no concreto. Eu tropecei várias vezes, caindo uma, me segurando com as mãos, arranhando elas na calçada, e então me levantando pra continuar correndo em frente. Mas pelo menos eu consegui chegar na esquina. Só mais uma rua agora; eu corrí, o suor caindo pelo meu rosto, eu estava ofegante. O sol estava quente ne minha pele, brilhando demais quando entrava em contato com o concreto branco e me cegava. Eu me sentí perigosamente exposta. Mais impetuosa do que eu jamais sonhei ser capaz, eu desejava as florestas verdes, protetoras de Forks... de casa.
Quando eu virei a esquina, na Cactus, eu podia ver o estúdio, exatamente como eu lembrava dele. O estacionamento estava vazio, as venezianas verticais estavam fechadas. Eu não conseguia mais correr - não conseguia mais respirar; o esforço e o medo me esgotaram. Eu pensei na minha mãe pra manter meus pés se movendo, um na frente do outro.
Enquanto eu me aproximava eu consegui ver a subscrição dentro da porta.
Estava escrito á mão num papel rosa escuro; dizia que o estúdio estava fechado para as férias de primavera. Eu toquei a maçaneta e virei ela cuidadosamente. Estava aberta. Eu lutei pra respirar e abrí a porta.
O saguão estava escuro e vazio, frio, o ar-condicionado estava funcionando. As cadeiras de plástico estavam expostas ao longo das paredes, e o tapete tinha cheiro de shampoo. O palco de dança oeste estava vazio, e eu podia ver pela janela de visão aberta. O palco de dança leste, a maior sala, estava com as luzes acesas. Mas as cortinas estavam fechadas na janela.
O terror me pegou tão forte que eu estava, literalmente, presa por ele. Eu não conseguia fazer meus pés se moverem.
E então a voz da minha mãe me chamou.
"Bella, Bella?", o mesmo tom histérico de pânico. Eu me grudei na porta para ouvir o som da voz dela.
"Bella, você me assustou! Nunca faça isso comigo de novo!", a voz dela continuou enquanto eu corria pela sala longa, de teto baixo.
Eu olhei em volta, tentando descobrir de onde a voz dela estava vindo. Eu ouvi uma risada, e me virei pra ver de onde ela estava vindo.
Lá estava ela, na tela da TV, espalhando meu cabelo de alívio. Era o dia de ação de gração, e eu tinha doze anos. Nós tinhamos ido para a Califórnia, no ano anterior á morte dela. Nós fomos para a praia um dia, e eu fui muito longe na beira do pier. Eu ví meus pés falhando, procurando equilíbrio.
"Bella? Bella?", ela chamou por mim amedrontada.
E a tela da Tv ficou azul.
Eu me virei lentamente. Ele estava em pé muito rígido perto da saída de emergência no fundo, então eu não havia notado ele antes. Na mão dele havia um controle remoto. Nós olhamos um para o outro por um longo momento, então ele sorriu.
Ele caminhou na minha direção, perto demais, e então passou por mim pra colocar o controle perto do video cassete. Eu me virei cuidadosamente pra observá-lo.
"Me perdoe por isso, Bella, mas não é melhor que a sua mãe não tenha que se envolver nisso?", a voz dele era cortês, carinhosa.
E então eu me toquei. Minha mãe estava a salvo. Ela ainda estava na Flórida. Ela nunca recebeu minha mensagem. Ela nunca sentiu medo pelos olhos vermelhos escuros no rosto anormalmente pálido que estava na minha frente agora. Ela estava a salvo.
"Sim", eu respondi, minha voz saturada de alívio.
"Você não parece estar com raiva por eu ter te enganado".
"Eu não estou". Minha súbita situação me encorajou. O que imporatava agora? Estaria acabado em breve. Charlie e minha mãe não se machucariam nunca, não haveria nada a temer. Eu me senti quase vertiginosa. Alguma parte analítica da minha mente me disse que eu estava perto de romper de tanto estresse.
"Que estranho. Você está falando a verdade". Seus olhos me estudaram com interesse. Sua iris estavam quase pretas, só um pouco da cor rubi perto dos cantos. Sede. "Eu vou dar esse crédito ao seu bando, vocês humanos podem ser bem interessantes. Eu acho que consigo ver a graça de observar vocês. É impressionante - alguns de vocês não tem o menor senso de interesse por sí próprios".
Ele estava a alguns passos de mim, com os braços cruzados, me olhando cheio de curiosidade.
Não havia nenhuma ameaça no seu rosto ou na sua posição. Ele tinha uma aparência muito comum, nada de especial nem no seu rosto nem no seu corpo. Só a pele branca e os círculos embaixo dos olhos aos quais eu já estava tão acostumada. Ele usava uma camisa azul clara de mangas compridas e jeans de um azul desgastado.
"Eu acho que você vai me dizer que o seu namorado vai te vingar?", ele me perguntou, parecendo esperançoso.
"Não, eu acho que não. Pelo menos eu pedí pra ele não fazer isso".
"E o que foi que ele respondeu?"
"Eu não sei", era estranhamente fácil conversar com esse gentíl caçador. "Eu deixei uma carta pra ele".
"Que romântico, uma última carta. E você acha que ele vai honrar seu pedido?". Sua voz estava um pouco mais dura agora, o sarcasmo casando com o seu tom educado.
"Eu espero que sim".
"Hmmmm. Então as nossas esperanças são diferentes. Veja, isso tudo foi fácil demais, rápido demais. Pra ser honesto, eu estou desapontado. Eu esperava um desafio muito maior. E, no final,tudo que eu precisei foi de um pouco de sorte".
Eu esperei em silêncio.
"Quando Victória não conseguiu pegar seu pai, eu tive que saber um pouco mais sobre você. Não havia nenhum sentido em correr o planeta inteiro a sua procura quando eu podia confortavelmente esperar por você no lugar de minha escolha. Então, depois que eu falei com Victória, eu decidi vir a Phoenix pra fazer uma visita a sua mãe. Eu ouvi você dizendo que estava indo pra casa. Primeiro eu nem sonhei que você estivesse falando sério. Mas depois eu imaginei. Os humanos podem ser muito previsíveis; eles gostam de estar em algum lugar familiar, algum lugar seguro. E seria a estratégia perfeita ir para o único lugar onde você não deveria estar se escondendo - o lugar pra onde você disse que iria.
"Mas é claro que eu não tinha certeza, foi só um chute. Eu geralmente tenho um pressentimento em relação á minha presa, um sexto sentido, se você preferir. Eu escutei a sua mensagem para a sua mãe quando cheguei na casa dela, mas é claro que eu não sabia de onde você estava ligando. Foi muito útili ter o seu telefone, mas pelo que eu sabia você podia estar até na Antártida, e o jogo não ia funcionar a não ser que você estivesse por perto.
"Então o seu namorado pegou um avião pra Phoenix. Victória estava monitorando eles pra mim, naturalmente; num jogo com tantos jogadores, não se pode estar sozinho. E então eles me disseram o que eu esperava saber, que você estava aqui afinal. Eu estava preparado; eu já tinha assistido os charmosos videos caseiros. E aí foi só uma questão de blefe.
"Fácil de mais, você vê, realmente não se aplica aos meus padrões. Então, você entende, eu estava esperando que você estivesse errada sobre o seu namorado. Edward, não é?"
Eu não respondi. O desafio já estava cansando. Eu sentí que ele já estava acabando de se regozijar.
O discurso não era pra mim mesmo. Não havia nenhuma glória em me derrotar, uma humana fraca.
"Você se importaria, muito, se eu mesmo deixasse uma carta para o seu Edward?"
Ele deu um passo pra trás e tocou uma câmera do tamanho de uma mão que estava cuidadosamente posicionada em cima do som. Uma pequena luz vermelha indicava que ela já estava ligada. Ele ajustou ela algumas vezes, abriu o visor. Eu olhei pra ele horrorizada.
"Me desculpe, mas eu não acho que ele será capaz de resistir eme caçar depois que ele assistir isso. E eu não quero que ele perca nada. Era tudo pra ele, é claro. Você é simplesmente uma humana, que infelizmente estava no lugar errado, na hora errada, e com o grupo errado, eu devo dizer".
Ele deu um passo em minha direçao, sorrindo. "Antes de começarmos..."
Eu senti uma pontada de náusea no meu estômago enquanto ele falava. Isso era lgo que eu não estava esperando.
"Eu só gostaria de esfregar isso, só um pouco. A resposta estava lá o tempo inteiro, e eu estava com medo que Edward a visse e estragasse toda a minha diversão. Isso aconteceu, oh, há muitos anos atrás. A única vez que uma presa me escapou.
"Veja, esse vampiro que estava tão apaixonado pela vítima, fez a escolha que seu Edward foi fraco demais pra fazer. Quando o velho que eu conhecia estava atrás da amiginha dele, ele roubou ela do asilo onde trabalhava - eu nunca vou entender essa obcessão que alguns vampiros têm por vocês humanos - e assim que ele a libertou ele a deixou em segurança. Ela nem pareceu notar a dor, a pobre criaturinha. Ela esteve presa naquele buraco negro da cela durante tanto tempo. Cem anos antes ela teria sido queimada numa estaca pelas visões dela. Na decada de 1920 ela foi jogada num asilo com tratamentos de choque. Quando ela abriu os olhos, forte com a fresca juventude, foi como se ela nunca tivesse visto o sol antes. O vampiro velho transformou ela numa nova forte vampira, então não havia mais motivo pra eu tocar nela". Ele suspirou. "Eu destruí o outro velho em vingança".
"Alice", eu respirei, aturdida.
"Sim, sua amiguinha. Eu fiquei surpreso por vê-la naquela clareira. Então eu acho que a seu grupo vai tirar algum conforto disso tudo. Eu peguei você, mas eles têm ela. Aúnica vítima que me escapou, uma honra, na verdade.
"E ela cheirava tão bem. Eu ainda lamento não ter podido prová-la. Ela cheirava ainda melhor que você. Desculpe - eu não pretendia te ofender. Você tem um cheiro bom. Floral, de alguma forma..."
Ele deu outro passo na minha direção, até ficar a apenas alguns centímentros de distância. Ele levantou uma mecha do meu cabelo e cheirou ela deliciado. Então ele gentlimente colocou a mecha de volta no lugar, e eu senti os dedos gelados dele na minha garganta. Ela alisou rapidamente a minha bochecha com o polegar, seu rosto estava curioso. Eu queria tanto correr, mas estava congelada. Eu não conseguia nem balançar.
"Não", ele murmurou pra sí mesmo enquanto abaixava a mão, "eu não entendo". Ele suspirou. "Bem, eu acho que devemos começar logo. E então eu vou poder ligar pra os seus amigos e dizer onde te encontrar, e a minha pequena mensagem".
Eu definitivamente estava passando mal agora. Havia dor se aproximando, eu podia ver nos olhos dele. Pra ele não seria suficiente ganhar, se alimentar e ir embora. Não haveria um fim rápido como eu esperava. Meus joelhos começaram a tremer, eu eu temia que fosse cair.
Ele deu um passo pra trás e começou a andar em círculos, casualmente, como se ele estivesse tentando ter uma visão melhor da estátua de um museu. Seu rosto ainda estava aberto e amigável enquanto ele decidia por onde começar.
Então ele rastejou pra frente, se arrastando daquele jeito que eu já conhecia, e seu sorriso prazeiroso cresceu lentamente, até que não era mais um sorriso e sim uma contorção dos dentes, expostos e brilhantes.
Eu não consegui me conter - eu tentei correr. Foi tão inútil quanto eu imaginei que seria, como meus joelhos já estavam fracos, o pânico tomou conta e eu tropecei no caminho á saída de emergência.
Ele estava na minha frente num flash. Eu não vi se ele usou as mãos ou os pés de tão rápido que foi. Um golpe destruidor atingiu meu peito - eu me senti voando pra trás, e então eu ouví o crash quando minha cabeça bateu contra os espelhos. O vidro rachou, alguns pedaços tremendo e alguns caindo no chão perto de mim.
Eu estava atordoada demais pra sentir a dor. Eu ainda não conseguia respirar.
Ele andou lentamente na minha direção.
"Esse é um efeito muito bom",ele disse, examinando o estado do vidro, sua voz amigável de novo. "Eu achei que essa sala daria um toque visual dramático ao meu filmezinho. Foi por isso que eu escolhi esse lugar pra te encontrar. É perfeito não é?"
Eu ignorei ele, lutando pra me equilibrar nas mãos e nos joelhos, rastejando até a outra porta.
Ele estava em cima de mim na hora, seu pé pisando com força na minha perna. Eu ouvi o estalo antes de sentir a dor. Mas então eu sentí, e então não pude segurar o meu grito de agonia. Eu me virei pra alcançar minha perna, e ele estava de pé ao meu lado, sorrindo.
"Você gostaria de repensar o seu último pedido?", ele perguntou prazeirosamente. A ponta do pé dele cutucou minha perna e eu ouví um grito penetrante, eu fiquei chocada ao perceber que ele era meu.
"Você não iria preferir que Edward tentasse me encontrar?", ele testou.
"Não!", eu resmunguei. "Não, Edward, não-", então alguma coisa atingiu meu rosto, me jogando de novo na direção dos espelhos.
Além da dor da minha perna, eu sentí o rasgo do vidro na minha cabeça onde ele entrou. Então, uma umidade quente começou a se espalhar no meu cabelo com uma velocidade alarmante. Eu podia sentir ela inundar o ombro da minha camisa, podia ouví-la pingando no chão de madeira. O cheiro dela fez meu estômago revirar.
Apesar da náusea e do enjôo eu ví algo que me deu uma repentina, final ponta de esperança. Seus olhos meramente intencionados antes, agora queimavam com uma necessidade incontrolável. O sangue - espalhando o vermelho na minha blusa branca, formando rapidamente uma poça no chão - estava deixando ele louco de sede. Não importava o quanto as intenções fossem originais, ele não poderia continuar com isso por muito tempo.
Que seja rápido agora, era tudo o que eu podia esperar enquanto o fluxo de sangue que saia da minha cabeça levava minha consciência com ele. Meus olhos estavam se fechando.
Eu ouvi, como se estivesse embaixo da água, o rosno final do caçador. Eu podia ver, através dos longos túneis em que meus olhos haviam se transformado, a figura escura dele vindo na minha direção. Como meu esforço final, eu levantei miha mão num gesto instintivo pra proteger meu rosto. Meus olhos se fecharam e eu flutuei.
Levou muito menos tempo do que eu espera - todo o terror, o desespero, a dor do meu coração partido. Os minutos estavam se passando mais devagar do que o normal. Jasper ainda não tinha voltado quando eu retornei para Alice. Eu estava com medo de ficar no mesmo quarto com ela, com medo que ela adivinhasse... e com medo de me esconder dela pela mesma razão.Eu teria pensado que estava longe da possibilidade de me surpreender, meus pensamentos estavam torturados e desestabilizados, mas eu fiquei surpresa quando ví Alice se inclinar na mesa, agarrando a borda com as duas mãos."Alice?"Ela não reagiu quando eu chamei o nome dela, mas a cabeça dela estava se balançando lentamente de um lado para o outro, e eu ví o rosto dela. Seus olhos estavam vazios, ofuscados... Meus pensamentos viajaram para a minha mãe. Eu já estava atrasada?Eu corri para o lado dela, me lançando automaticamente pra pegar na mão dela."Alice!", a voz de Jasper cortou, e então ele estava atrás dela, as mãos dele sobre as mãos dela, fazendo elas soltarem a borda da mesa. Do outro lado da sala, a porta estava se fechando com um click baixinho."O que foi?", ele quis saber.Ela desviou o rosto de mim e o colocou no peito dele. "Bella", ela disse.A cabeça dela se virou pra mim, os olhos dela se prendendo aos meus, a expressão deles ainda estava estranhamente vazia. Eu me dei conta na hora de que ela não estava falando comigo, ela estava respondendo á pergunta de Jasper."O que você viu?", eu disse - e não havia pergunta nenhuma no tom vazio, sem importância da minha voz.Jasper olhou pra mim asperamente. Eu mantive a expressão vazia e esperei. Os olhos dele estavam confusos enquanto passavam rapidamente do rosto de Alice para o meu, sentindo o caos... eu imagino que tenha sido pelo que Alice havia acabado de ver.Eu senti uma atmosfera tranquila pousar ao meu redor. Eu a recebí bem, usando ela pra manter os meus sentimentos em disciplina, sobre controle.Alice, também se recuperou.
"Nada, de verdade", ela respondeu finalmente, a voz dela incrivelmente calma e convincente. "Só o mesmo quarto de antes".
Ela finalmente olhou pra mim, sua expressão estava suave e reservada.
"Você queria tomar o café da manhã?"
"Não, eu vou comer no aeroporto". Eu estava muito calma também. Eu fui para o banheiro pra tomar um banho. Quase como se eu estivesse desenvolvendo o estranho poder de Jasper, eu podia sentir o desespero - bem dissimulado - selvagem de Alice para que eu saisse da sala, para estar sozinha com Jasper. Assim ela poderia dizer a ele que os dois estavam fazendo alguma coisa errada, que eles iam falhar...
Eu me aprontei metodicamente, me concentrando em cada pequena tarefa. Eu deixei meu cabelo solto, se torcendo, cobrindo meu rosto.
O sentimento de paz que Jasper criou funcionou e me ajudou a pensar com clareza. Me ajudou a planejar. Eu procurei na minha bolsa até que encontrei minha meia cheia de dinheiro. Eu coloquei tudo que havia nela no meu bolso.
Eu estava ansiosa para chegar ao aeroporto,e feliz quando nós saímos por volta das sete. Dessa vez eu me sentei sozinha no fundo do carro escuro. Alice estava inclinada na porta, seu rosto estava virado pra Jasper, mas por trás dos óculos escuros, seus olhos se viravam pra mim a cada segundo.
"Alice?", eu perguntei indiferente.
Ela estava sendo cautelosa. "Sim?"
"Como isso funciona? As coisas que você vê?", eu olhei pra fora pela janela, e minha voz soou aborrecida. "Edward disse que não era definitivo... que as coisas mudam?"
Dizer o nome dele era mais difícil do que eu pensei. Deve ter sido isso que alertou Jasper, porque um flash de serenidade invadiu o carro.
"Sim... as coisas mudam", ela murmurou - esperançosamente, eu esperava. "Algumas coisas são mais certas que outras...como o clima.
As pessoas são mais difíceis. Eu só vejo os caminhos onde as pessoas estão quando elas ainda estão neles. Somente elas podem mudar suas mentes - tomar uma decisão, não importa o quanto ela seja pequena - muda todo o futuro".
Eu balancei a cabeça pensativamente. "Então você não conseguiu ver James em Phoenix até que ele decidiu vir pra cá".
"Sim", ela respondeu, cautelosa de novo.
E ela não tinha me visto na sala dos espelhos com James até que eu decidí ir encontrá-lo lá. Eu tentei não pensar no que mais ela havia visto. Eu tentei não fazer o meu pânico deixar Jasper ainda mais suspeito. De qualquer forma, eles iam estar me observando ainda mais cuidadosamente depois da visão de Alice. Isso ia ser impossível.
Nós chegamos no aeroporto. A sorte estava comigo, ou talvez fosse somente pontos de desvantagem. O avião de Edward estava aterrisando no terminal quatro, o maior terminal, onde a maioria dos vôos desembarcava - então não era uma grande surpresa que o dele fosse aterrisar lá. Mas esse era o terminal que eu precisava: o maior o mais confuso. E havia uma porta no nível três que podia ser a minha única chance.
Nós paramos no quarto andar da enorme garagem. Eu guiei o caminho, por conhecer melhor o trajeto do que eles. Nós pegamos o elevador até o nível três, onde os passageiros desembarcavam. Alice e Jasper ficaram um longo tempo no balcão procurando os vôos que haviam chegado. Eu ouvia eles discutindo os prós e contras de Nova York, Atlanta, Chicago. Lugares que eu nunca havia visitado. E nunca visitaria.
Eu esperei pela minha oportunidade, impaciente, sem conseguir fazer meu pé parar de se mexer.
Nós nos sentamos numa longa fileira de cadeiras perto dos detectores de metal, Jasper e Alice estavam fingindo observar as pessoas, mas na cerdade estavam observando a mim. Cada centímetro que eu me mexia na cadeira era acompanhado por olhares nos cantos dos olhos deles. Eu não tinha esperanças. Será que eu deveria correr? Eles ousariam me deter fisicamente nesse local público? Ou eles simplesmente me seguiriam?
Eu puxei o envelope sem lacre da minha bolsa e o coloquei em cima da bolsa de couro preto de Alice. Ela olhou pra mim.
"Minha carta", eu disse.
Ela afirmou com a cabeça e o colocou embaixo da bolsa. Ele a encontraria rápido o suficiente.
Os minutos foram se passando e o momento da chegada de Edward se aproximava. Era impressionante como cada célula do meu corpo parecia saber que ele estava chegando, e ansiava pela sua chegada.
Isso dificultou as coisas. Eu me peguei tentando inventar desculpas pra ficar, pra vê-lo antes e depois escapar. Mas eu sabia que isso era impossível se eu queria ter alguma chance de escapar.
Várias vezes Alice se ofereceu pra ir pegar meu café da manhã comigo. Depois, eu disse pra ela, ainda não.
Eu olhei para o painel de vôos, observando enquanto vôos após vôos chegavam no horário. O vôo de Seattle se aproximava a cada segundo do topo do painél.
E então, quando eu só tinha meia hora para escapar, os números mudaram. O vôo dele estava dez minutos adiantado. Eu não tinha mais tempo.
"Eu acho que vou comer agora", eu disse rapidamente.
Alice ficou de pé. "Eu vou com você".
"Você se importa se Jasper vier?", eu perguntei. "Eu estou me sentindo um pouco...", eu não terminei a frase. Meus olhos já estavam selvagens o suficiente pra convencê-los do que eu não precisei dizer.
Jasper ficou de pé. Os olhos de Alice estavam confusos, mas - eu ví aliviada - não suspeitos. Ela deve estar atribuindo a visão dela á alguma manobra do perseguidor, e não a uma traição minha.
Jasper caminhou silenciosamente ao meu lado, sua mão na curva das minhas costas, como se ele estivesse me guiando. Eu fingi um pouco de interesse pelos poucos restaurantes do aeroporto, minha cabeça estava procurando aquilo que eu realmente queria. E lá estava ele, virando o corredor, fora da visão aguda de Alice: o banheiro feminino do terceiro nível.
"Você se importa?", eu perguntei a Jasper enquanto passavamos. "Só vai demorar um momentinho".
"Eu vou ficar aqui", ele disse.
Assim que a porta se fechou atrás de mim, eu já estava correndo. Eu me lembrei da outra vez que me perdi nesse banheiro, porque ele tem duas saídas.
Do lado de fora das portas, eu tinha que correr uma curta distância até os elevadores, e se Jasper ficasse onde ele disse que ficaria, ele jamais poderia me ver. Eu não olhei pra trás enquanto corria. Essa era a minha única chance, e mesmo que ele me visse, eu tinha que continuar correndo. As pessoas me olharam,mas eu ignorei elas. Virando na esquina, os elevadres estavam me esperando, eu corri em frente, jogando minha mão nas portas que estavam se fechando de um elevador que estava descendo. Dentro, eu me espremi entre os passageiros irritados, e chequei pra ter certeza de que haviam apertado o botão para o nível um. Ele já estava aceso e as portas se fecharam.
Assim que a porta se abriu eu já estava fora de novo, e ouvi o som de murmúrios aborrecidos atrás de mim. Eu me controlei enquanto passava pelos guardas nos carroséis de bagagem, mas comecei a correr de novo quando as portas da saída começaram a aparecer.
Eu não tinha como saber se Jasper já estava procurando por mim.
Se ele estivesse sentindo o meu cheiro, eu só tinha alguns segundos. Eu pulei pra fora pelas portas automáticas, quase me chocando com os vidros porque elas se abriram devagar demais.
Não havia nenhum taxí á vista na longa curva lotada.
Eu não tinha tempo. Alice e Jasper não demoraria a se dar conta que eu tinha ido embora, se é que já não haviam percebido. Eles me achariam num piscar de olhos.
Um transporte público para o Hyatt estava fechando as portas a alguns metros de distância atrás de mim.
"Espere!", eu chamei, correndo, acenando para o motorista.
"Esse é o transporte para o Hyatt", o motorista disse confuso enquanto abria as portas.
"Sim", eu gritei, "é pra lá que eu estou indo". Eu subí os degraus correndo.
Ele olhou curioso para as minhas poucas bagagens, mas então levantou os ombros, sem se importar o suficiente pra perguntar.
A maioria dos bancos estava vazia. Eu me sentei tão longe dos viajantes quanto foi possível, e olhei pra fora da janela enquanto primeiro a calçada, depois o aeroporto iam se afastando.
Eu não pude deixar de imaginar Edward, onde ele iria ficar na pista quando descobrisse até onde o meu cheiro ia. Eu não choraria ainda, eu disse pra mim mesma. Eu ainda tinha um grande caminho a percorrer.
Minha sorte continuou. Na frente do Hyatt, um casal de aparecia cansada estava tirando a última mala deles da mala de um táxi. Eu pulei pra fora do transporte e corri para o táxi, deslizando no banco atrás do motorista. O casal cansado e o motorista do transporte público olharam pra mim surpresos.
Eu disse o endereço da minha mãe ao surpreso motorista de táxi. "Eu preciso chegar aí o mais rápido possível".
"Isso é em Scottsdale", ele reclamou.
Eu joguei quatro notas de vinte no banco.
"Isso vai ser suficiente?"
"Claro, garota, sem problemas."
Eu me encostei no banco, cruzando meus braços no colo. A cidade familiar cmeçou a passar correndo por mim, mas eu não olhava para a janela.
Eu disse para mim mesma para manter o controle. Eu estava determinada a não estragar as coisas a esse ponto, agora que o meu plano estava completamente sucedido. Não havia motivo pra mergulhar em mais medo, mais ansiedade. Minha tarefa estava passada, agora eu só tinha que cumpri-la.
Então, ao invés de entrar em pânico, eu fechei meus olhos e passei os vinte minutos da viagem com Edward. Eu imaginei que tinha ficado no aeroporto pra me encontrar com Edward. Eu visualizei como eu ficaria na ponta dos pés, pra ver o seu rosto mais rápido. Como ele se moveria rapidamente, graciosamente entre as pessoas que nos separavam. E então eu correria para fechar os metros restantes entre nós - descuidada, como sempre - e eu estaria nos seus braços de mármore, finalmente a salvo.
Eu me perguntei pra onde nós teríamos ido. Pra algum lugar á Norte, pra que ele pudesse sair durante o dia. Ou talvez algum lugar muito remoto, para que pudéssemos sair juntos no sol de novo. Eu imaginei ele numa costa, sua pele brilhando como o mar. Não importaria quanto tempo nós tivéssemos que nos esconder.
Ficar presa num quarto de hotel com ele seria uma espécie de paraíso. Tantas perguntas que eu ainda tinha que fazer pra ele. Eu podia falar com ele pra sempre, não dormir nunca, nunca sair de perto dele.Eu podia ver o rosto dele tão claramente agora... quase ouvir a voz dele. E, a despeito de todo o terror e da falta de esperança, eu estava flutuando de felicidade. Eu estava tão envolvida nos meus sonhos de fuga, que perdi a noção dos segundos passando."Ei, qual é o número?"A pergunta do motorista perfurou minhas fantasias, deixando todas as cores escaparem das minhas adoráveis ilusões. Medo, vazio e dor estavam esperando pra preencher o vazio que elas deixaram pra trás."Cinqüenta e oito - vinte um", minha voz saiu estrangulada. O motorista olhou pra mim, nervoso por eu estar tendo uma crise ou alguma coisa assim."Então, aqui estamos". Ele estava ansioso pra me ver fora do carro dele, provavelmente com medo que eu pedisse o troco."Obrigada", eu murmurei. Não havia necessidade de ter medo, eu lembrei pra mim mesma. A casa estava vazia. Eu tinha que correr; minha mãe estava esperando por mim, assustada, dependendo de mim.Eu corri para a porta, me abaixando automaticamente pra pegar a chave embaixo do tapete. Eu destranquei a porta. Estava escuro lá dentro, vazio, normal. Eu corri para o telefone, ligando a luz da cozinha no caminho. Lá, no balcão branco, estava um número de dez dígitos escritos com uma letra pequena, organizada. Meus dedos tremiam no teclado, cometendo erros. Eu tive que desligar e começar tudo de novo. Dessa vez eu me concentrei só nos botões, cuidadosamente apertando um de cada vez. Eu conseguí. Eu segurei o telefone na minha orelha com a mão tremendo. Só chamou uma vez."Olá, Bella", a voz calma atendeu. "Isso foi muito rápido. Eu estou impressionado.""Minha mãe está bem?""Ela está perfeitamente bem. Não se preocupe, Bella, eu não estou disputando ela. A não ser que você não tenha vindo sozinha, é claro". Leve, divertido."Eu estou sozinha".
Eu nunca estive tão sozinha a minha vida inteira.
"Muito bom. Agora, você sabe onde é o estúdio de balé que fica na esquina da sua casa?"
"Sim, eu sei como chegar aí".
"Bem , então, eu te vejo em breve".
Eu desliguei.
Eu corrí para a porta, pela porta, e para o calor escaldante.
Não havia tempo de olhar pra trás para a minha casa, e eu não queriam vê-la como ela estava agora - vazia, um simbolo de medo e não um santuário. A última pessoa a andar entre aquelas paredes familiares era o meu inimigo.
Pelo canto do meu olho, eu quase conseguia ver aminha mãe na sombra do eucalipto onde eu brincava quando era criança. Ou ajoelhada no monte de sujeira perto da caixa de correio, o cemetério de todas as flores que ela tentou plantar. A smemórias eram melhores do que qualquer realidade que eu pudesse ver hoje. Mas eu corri pra longe delas, virei a esquina, deixando tudo pra trás.
Eu me sentia tão lenta, como se eu estivesse correndo na areia molhada- eu não parecia conseguir me impulsionar o suficiente no concreto. Eu tropecei várias vezes, caindo uma, me segurando com as mãos, arranhando elas na calçada, e então me levantando pra continuar correndo em frente. Mas pelo menos eu consegui chegar na esquina. Só mais uma rua agora; eu corrí, o suor caindo pelo meu rosto, eu estava ofegante. O sol estava quente ne minha pele, brilhando demais quando entrava em contato com o concreto branco e me cegava. Eu me sentí perigosamente exposta. Mais impetuosa do que eu jamais sonhei ser capaz, eu desejava as florestas verdes, protetoras de Forks... de casa.
Quando eu virei a esquina, na Cactus, eu podia ver o estúdio, exatamente como eu lembrava dele. O estacionamento estava vazio, as venezianas verticais estavam fechadas. Eu não conseguia mais correr - não conseguia mais respirar; o esforço e o medo me esgotaram. Eu pensei na minha mãe pra manter meus pés se movendo, um na frente do outro.
Enquanto eu me aproximava eu consegui ver a subscrição dentro da porta.
Estava escrito á mão num papel rosa escuro; dizia que o estúdio estava fechado para as férias de primavera. Eu toquei a maçaneta e virei ela cuidadosamente. Estava aberta. Eu lutei pra respirar e abrí a porta.
O saguão estava escuro e vazio, frio, o ar-condicionado estava funcionando. As cadeiras de plástico estavam expostas ao longo das paredes, e o tapete tinha cheiro de shampoo. O palco de dança oeste estava vazio, e eu podia ver pela janela de visão aberta. O palco de dança leste, a maior sala, estava com as luzes acesas. Mas as cortinas estavam fechadas na janela.
O terror me pegou tão forte que eu estava, literalmente, presa por ele. Eu não conseguia fazer meus pés se moverem.
E então a voz da minha mãe me chamou.
"Bella, Bella?", o mesmo tom histérico de pânico. Eu me grudei na porta para ouvir o som da voz dela.
"Bella, você me assustou! Nunca faça isso comigo de novo!", a voz dela continuou enquanto eu corria pela sala longa, de teto baixo.
Eu olhei em volta, tentando descobrir de onde a voz dela estava vindo. Eu ouvi uma risada, e me virei pra ver de onde ela estava vindo.
Lá estava ela, na tela da TV, espalhando meu cabelo de alívio. Era o dia de ação de gração, e eu tinha doze anos. Nós tinhamos ido para a Califórnia, no ano anterior á morte dela. Nós fomos para a praia um dia, e eu fui muito longe na beira do pier. Eu ví meus pés falhando, procurando equilíbrio.
"Bella? Bella?", ela chamou por mim amedrontada.
E a tela da Tv ficou azul.
Eu me virei lentamente. Ele estava em pé muito rígido perto da saída de emergência no fundo, então eu não havia notado ele antes. Na mão dele havia um controle remoto. Nós olhamos um para o outro por um longo momento, então ele sorriu.
Ele caminhou na minha direção, perto demais, e então passou por mim pra colocar o controle perto do video cassete. Eu me virei cuidadosamente pra observá-lo.
"Me perdoe por isso, Bella, mas não é melhor que a sua mãe não tenha que se envolver nisso?", a voz dele era cortês, carinhosa.
E então eu me toquei. Minha mãe estava a salvo. Ela ainda estava na Flórida. Ela nunca recebeu minha mensagem. Ela nunca sentiu medo pelos olhos vermelhos escuros no rosto anormalmente pálido que estava na minha frente agora. Ela estava a salvo.
"Sim", eu respondi, minha voz saturada de alívio.
"Você não parece estar com raiva por eu ter te enganado".
"Eu não estou". Minha súbita situação me encorajou. O que imporatava agora? Estaria acabado em breve. Charlie e minha mãe não se machucariam nunca, não haveria nada a temer. Eu me senti quase vertiginosa. Alguma parte analítica da minha mente me disse que eu estava perto de romper de tanto estresse.
"Que estranho. Você está falando a verdade". Seus olhos me estudaram com interesse. Sua iris estavam quase pretas, só um pouco da cor rubi perto dos cantos. Sede. "Eu vou dar esse crédito ao seu bando, vocês humanos podem ser bem interessantes. Eu acho que consigo ver a graça de observar vocês. É impressionante - alguns de vocês não tem o menor senso de interesse por sí próprios".
Ele estava a alguns passos de mim, com os braços cruzados, me olhando cheio de curiosidade.
Não havia nenhuma ameaça no seu rosto ou na sua posição. Ele tinha uma aparência muito comum, nada de especial nem no seu rosto nem no seu corpo. Só a pele branca e os círculos embaixo dos olhos aos quais eu já estava tão acostumada. Ele usava uma camisa azul clara de mangas compridas e jeans de um azul desgastado.
"Eu acho que você vai me dizer que o seu namorado vai te vingar?", ele me perguntou, parecendo esperançoso.
"Não, eu acho que não. Pelo menos eu pedí pra ele não fazer isso".
"E o que foi que ele respondeu?"
"Eu não sei", era estranhamente fácil conversar com esse gentíl caçador. "Eu deixei uma carta pra ele".
"Que romântico, uma última carta. E você acha que ele vai honrar seu pedido?". Sua voz estava um pouco mais dura agora, o sarcasmo casando com o seu tom educado.
"Eu espero que sim".
"Hmmmm. Então as nossas esperanças são diferentes. Veja, isso tudo foi fácil demais, rápido demais. Pra ser honesto, eu estou desapontado. Eu esperava um desafio muito maior. E, no final,tudo que eu precisei foi de um pouco de sorte".
Eu esperei em silêncio.
"Quando Victória não conseguiu pegar seu pai, eu tive que saber um pouco mais sobre você. Não havia nenhum sentido em correr o planeta inteiro a sua procura quando eu podia confortavelmente esperar por você no lugar de minha escolha. Então, depois que eu falei com Victória, eu decidi vir a Phoenix pra fazer uma visita a sua mãe. Eu ouvi você dizendo que estava indo pra casa. Primeiro eu nem sonhei que você estivesse falando sério. Mas depois eu imaginei. Os humanos podem ser muito previsíveis; eles gostam de estar em algum lugar familiar, algum lugar seguro. E seria a estratégia perfeita ir para o único lugar onde você não deveria estar se escondendo - o lugar pra onde você disse que iria.
"Mas é claro que eu não tinha certeza, foi só um chute. Eu geralmente tenho um pressentimento em relação á minha presa, um sexto sentido, se você preferir. Eu escutei a sua mensagem para a sua mãe quando cheguei na casa dela, mas é claro que eu não sabia de onde você estava ligando. Foi muito útili ter o seu telefone, mas pelo que eu sabia você podia estar até na Antártida, e o jogo não ia funcionar a não ser que você estivesse por perto.
"Então o seu namorado pegou um avião pra Phoenix. Victória estava monitorando eles pra mim, naturalmente; num jogo com tantos jogadores, não se pode estar sozinho. E então eles me disseram o que eu esperava saber, que você estava aqui afinal. Eu estava preparado; eu já tinha assistido os charmosos videos caseiros. E aí foi só uma questão de blefe.
"Fácil de mais, você vê, realmente não se aplica aos meus padrões. Então, você entende, eu estava esperando que você estivesse errada sobre o seu namorado. Edward, não é?"
Eu não respondi. O desafio já estava cansando. Eu sentí que ele já estava acabando de se regozijar.
O discurso não era pra mim mesmo. Não havia nenhuma glória em me derrotar, uma humana fraca.
"Você se importaria, muito, se eu mesmo deixasse uma carta para o seu Edward?"
Ele deu um passo pra trás e tocou uma câmera do tamanho de uma mão que estava cuidadosamente posicionada em cima do som. Uma pequena luz vermelha indicava que ela já estava ligada. Ele ajustou ela algumas vezes, abriu o visor. Eu olhei pra ele horrorizada.
"Me desculpe, mas eu não acho que ele será capaz de resistir eme caçar depois que ele assistir isso. E eu não quero que ele perca nada. Era tudo pra ele, é claro. Você é simplesmente uma humana, que infelizmente estava no lugar errado, na hora errada, e com o grupo errado, eu devo dizer".
Ele deu um passo em minha direçao, sorrindo. "Antes de começarmos..."
Eu senti uma pontada de náusea no meu estômago enquanto ele falava. Isso era lgo que eu não estava esperando.
"Eu só gostaria de esfregar isso, só um pouco. A resposta estava lá o tempo inteiro, e eu estava com medo que Edward a visse e estragasse toda a minha diversão. Isso aconteceu, oh, há muitos anos atrás. A única vez que uma presa me escapou.
"Veja, esse vampiro que estava tão apaixonado pela vítima, fez a escolha que seu Edward foi fraco demais pra fazer. Quando o velho que eu conhecia estava atrás da amiginha dele, ele roubou ela do asilo onde trabalhava - eu nunca vou entender essa obcessão que alguns vampiros têm por vocês humanos - e assim que ele a libertou ele a deixou em segurança. Ela nem pareceu notar a dor, a pobre criaturinha. Ela esteve presa naquele buraco negro da cela durante tanto tempo. Cem anos antes ela teria sido queimada numa estaca pelas visões dela. Na decada de 1920 ela foi jogada num asilo com tratamentos de choque. Quando ela abriu os olhos, forte com a fresca juventude, foi como se ela nunca tivesse visto o sol antes. O vampiro velho transformou ela numa nova forte vampira, então não havia mais motivo pra eu tocar nela". Ele suspirou. "Eu destruí o outro velho em vingança".
"Alice", eu respirei, aturdida.
"Sim, sua amiguinha. Eu fiquei surpreso por vê-la naquela clareira. Então eu acho que a seu grupo vai tirar algum conforto disso tudo. Eu peguei você, mas eles têm ela. Aúnica vítima que me escapou, uma honra, na verdade.
"E ela cheirava tão bem. Eu ainda lamento não ter podido prová-la. Ela cheirava ainda melhor que você. Desculpe - eu não pretendia te ofender. Você tem um cheiro bom. Floral, de alguma forma..."
Ele deu outro passo na minha direção, até ficar a apenas alguns centímentros de distância. Ele levantou uma mecha do meu cabelo e cheirou ela deliciado. Então ele gentlimente colocou a mecha de volta no lugar, e eu senti os dedos gelados dele na minha garganta. Ela alisou rapidamente a minha bochecha com o polegar, seu rosto estava curioso. Eu queria tanto correr, mas estava congelada. Eu não conseguia nem balançar.
"Não", ele murmurou pra sí mesmo enquanto abaixava a mão, "eu não entendo". Ele suspirou. "Bem, eu acho que devemos começar logo. E então eu vou poder ligar pra os seus amigos e dizer onde te encontrar, e a minha pequena mensagem".
Eu definitivamente estava passando mal agora. Havia dor se aproximando, eu podia ver nos olhos dele. Pra ele não seria suficiente ganhar, se alimentar e ir embora. Não haveria um fim rápido como eu esperava. Meus joelhos começaram a tremer, eu eu temia que fosse cair.
Ele deu um passo pra trás e começou a andar em círculos, casualmente, como se ele estivesse tentando ter uma visão melhor da estátua de um museu. Seu rosto ainda estava aberto e amigável enquanto ele decidia por onde começar.
Então ele rastejou pra frente, se arrastando daquele jeito que eu já conhecia, e seu sorriso prazeiroso cresceu lentamente, até que não era mais um sorriso e sim uma contorção dos dentes, expostos e brilhantes.
Eu não consegui me conter - eu tentei correr. Foi tão inútil quanto eu imaginei que seria, como meus joelhos já estavam fracos, o pânico tomou conta e eu tropecei no caminho á saída de emergência.
Ele estava na minha frente num flash. Eu não vi se ele usou as mãos ou os pés de tão rápido que foi. Um golpe destruidor atingiu meu peito - eu me senti voando pra trás, e então eu ouví o crash quando minha cabeça bateu contra os espelhos. O vidro rachou, alguns pedaços tremendo e alguns caindo no chão perto de mim.
Eu estava atordoada demais pra sentir a dor. Eu ainda não conseguia respirar.
Ele andou lentamente na minha direção.
"Esse é um efeito muito bom",ele disse, examinando o estado do vidro, sua voz amigável de novo. "Eu achei que essa sala daria um toque visual dramático ao meu filmezinho. Foi por isso que eu escolhi esse lugar pra te encontrar. É perfeito não é?"
Eu ignorei ele, lutando pra me equilibrar nas mãos e nos joelhos, rastejando até a outra porta.
Ele estava em cima de mim na hora, seu pé pisando com força na minha perna. Eu ouvi o estalo antes de sentir a dor. Mas então eu sentí, e então não pude segurar o meu grito de agonia. Eu me virei pra alcançar minha perna, e ele estava de pé ao meu lado, sorrindo.
"Você gostaria de repensar o seu último pedido?", ele perguntou prazeirosamente. A ponta do pé dele cutucou minha perna e eu ouví um grito penetrante, eu fiquei chocada ao perceber que ele era meu.
"Você não iria preferir que Edward tentasse me encontrar?", ele testou.
"Não!", eu resmunguei. "Não, Edward, não-", então alguma coisa atingiu meu rosto, me jogando de novo na direção dos espelhos.
Além da dor da minha perna, eu sentí o rasgo do vidro na minha cabeça onde ele entrou. Então, uma umidade quente começou a se espalhar no meu cabelo com uma velocidade alarmante. Eu podia sentir ela inundar o ombro da minha camisa, podia ouví-la pingando no chão de madeira. O cheiro dela fez meu estômago revirar.
Apesar da náusea e do enjôo eu ví algo que me deu uma repentina, final ponta de esperança. Seus olhos meramente intencionados antes, agora queimavam com uma necessidade incontrolável. O sangue - espalhando o vermelho na minha blusa branca, formando rapidamente uma poça no chão - estava deixando ele louco de sede. Não importava o quanto as intenções fossem originais, ele não poderia continuar com isso por muito tempo.
Que seja rápido agora, era tudo o que eu podia esperar enquanto o fluxo de sangue que saia da minha cabeça levava minha consciência com ele. Meus olhos estavam se fechando.
Eu ouvi, como se estivesse embaixo da água, o rosno final do caçador. Eu podia ver, através dos longos túneis em que meus olhos haviam se transformado, a figura escura dele vindo na minha direção. Como meu esforço final, eu levantei miha mão num gesto instintivo pra proteger meu rosto. Meus olhos se fecharam e eu flutuei.
Crepusculo (Stephenie Meyer) 21ª part
21. Ligação
Eu podia sentie que era cedo demais quando eu acordei de novo, e eu sabia que os meus horários do dia e da noite estavam mudando lentamente. Eu fiquei deitada na minha cama ouvindo as vozes baixinhas de Alice e Jasper na outra sala. Era muito estranho que elas fossem altas o suficiente pra eu ouvir. Eu rolei até que meus pés tocassem o chão e então me arrastei até a sala.O relógio da TV dizia que havia acabado de passar das duas da manhã. Alice e Jasper ainda estavam sentados no sofá, Alice rabiscando de novo enquanto Jasper olhava por cima do ombro dela. Eles não olharam pra cima quando eu entrei, de tão concentrados que estavam no trabalho de Alice.Eu engatinhei até o lado de Jasper pra espionar."Ela viu mais alguma coisa?", eu perguntei baixinho pra ela."Sim. Alguma coisa trouxe ele de volta á sala de videocassete, agora está claro".Eu observei enquanto Alice desenhava uma sala quadrada com vigas escuras que atravessavam o teto. As paredes eram cobertas de madeiras, um pouco escuras demais, fora de moda. Um dos lados da entrada era de pedra - uma lareira de pedra cor de broze que ficava entre a entrada de duas salas. Haviam uma grande janela na parede que dava para o Sul, e uma abertura na parede do lado oeste que dava uma visão para a sala de estar.O foco da sala por essa perspectiva, a TV e o videocassete, que ficavam equilibrados num aparedor pequeno demais, estavam no lado do corredor que ficava mais próximo do lado sul. Um sofá antigo ficava no lado contrário ao da TV, uma mesa de café redonda ficava na frente dele."O telefone fica aqui", eu sussurrei, apontando.Os dois pares de olhos me encararam."É a casa da minha mãe".Alice já estava fora do sofé, com o telefone na mão, discando. Eu olhei para a precisa descrição da sala familiar da minha mãe. Como não era do seu costume, Jasper escorregou pra perto de mim. Ele colocou levemente sua mão no meu ombro, e o seu contato físico pareceu fazer sua inflência calmante ser ainda mais forte.
O pânico ficou nublado, desfocado.Os lábios de Alice estavam tremendo com a rapidez de suas palavras, o ruído baixo era impossível de decifrar. Eu não conseguia me concentrar."Bella", Alice disse, eu olhei pra ela entorpecida."Bella, Edward está vindo te buscar. Ele e Emmett e Carlisle vão te levar para algum lugar, pra te esconder por algum tempo"."Edward está vindo?", as três palavras eram como um manto de vida, que segurava minha cabeça pra cima durante um dilúvio."Sim, ele está pegando o primeiro vôo para Seattle. Nós vamos encontrá-lo no aeroporto e você irá com ele"."Mas, minha mãe... ele veio aqui pra pegar minha mãe, Alice!", a despeito de Jasper, a histeria estava borbulhando nas minhas palavras."Jasper e eu ficaremos até que ela esteja a salvo"."Eu não vou vencer, Alice. Vocês não podem cuidar de todas as pessoas que eu conheço pra sempre. Ele vai achar alguém, ele vai machucar alguém que eu amo... Alice, eu não consigo-"."Nós vamos pegá-lo, Bella", ela me assegurou."E se você se machucar, Alice? Você acha que vai ficar tudo bem pra mim? Você acha que ele só pode me machucar com a minha família humana?"Alice deu um olhar cheio de significado pra Jasper. Uma pesada e profundo nuvem de legargia passou por mim e os meus olhos fecharam sem minha permissão. Minha mente lutou contra a nuvem , se dando conta do que estava acontecendo. Eu forcei meus olhos a se abrirem e me levantei, me distanciando das mãos de Jasper."Eu não quero voltar a dormir", eu falei.Eu andei para o quarto e fechei a porta, bati ela na verdade, assim eu estaria livre para ficar despedaçada em privacidade. Dessa vez Alice não me seguiu. Por três horas e meia eu olhei para a parede, curvada como uma bola, me balançando. Minha mente estava dando voltas, tentando encontrar uma forma de sair desse pesadelo. Não havia escapatória, não havia como adiar. Eu só podia ver um final aparecendo sombriamente no meu futuro. A única pergunta era quantas pessoas se machucariam até que eu chegasse la´.
O único consolo, a única esperança que eu tinha, era que eu veria Edward em breve. Talvez, se eu pudesse apenas ver o rosto dele de novo, eu também poderia ver a solução que me iludia agora.Quando o telefone tocou, eu voltei para a sala, um pouco envergonhada pelo meu comportamento. Eu esperava não ter ofendido nenhum dos dois, que eles soubessem o quanto eu estava grata pelos sacrifícios que eles estavam fazendo por minha culpa.Alice estava atendendo ele tão rapidamente como sempre, mas o que chamou minha atenção foi que, pela primeira vez, Jasper não estava no quarto. Eu olhei para o relógio - eram cinco e meia da manhã."Eles estão entrando no avião", Alice me disse. "Eles vão aterrisar as nove e quarenta e cinco". Só mais algumas hora para respirar até que ele estivesse alí."Onde está Jasper?""Ele foi fazer o check-out"."Vocês não vão ficar aqui?""Não, nós vamos nos relocar para algum lugar mais próximo da casa da sua mãe".Meu estômago revirou desconfortavelmente com as palavras dela.Mas o telefone tocou de novo, me distraindo. Ela pareceu surpresa, mas eu já estava me aproximando, pegando esperançosamente o telefone."Alô?", Alice perguntou. "Não, ela está bem aqui". Ela me passou o telefone. Sua mãe, ela murmurou."Alô?""Bella, Bella", era avoz da minha mãe, num tom famíliar que eu já havia ouvido milhares de vezes na minha infância, toda vez que ficava na beira da calçada ou desaparecia de vista num lugar lotado.Era o som do pânico.Eu suspirei. Eu já estava esperando isso, apesar de ter tentado poassar a mensagem da forma mais calma possível, levando em consideração a emergência da situação."Mãe, fique calma", eu disse na minha voz mais tranquilizadora, caminhando vagarosamente pra longe de Alice. Eu não tinha certeza de que conseguiria mentir convenientemente com os olhos dela grudados em mim."Está tudo bem, tá legal? Só me dê um minuto e eu vou explicar tudo, eu prometo".Eu pausei, surpresa por ela ainda não ter me interrompido."Mãe?"
"Tome muito cuidado pra não falar nada até que eu diga". A voz que eu ouvi agora não era familiar e era inesperada. Era uma voz masculina baixa, uma voz muito agradável, genérica - o tipo de voz que você ouve no fundo de um comercial de carros luxuosos. Ele falava muito rapidamente.
"Agora, eu não preciso machucar sua mãe, então por favor, faça exatamente o que eu disser e ela vai ficar bem". Ele pausou por uma minuto enquanto eu só ouvia, muda de horror. "Isso é muito bom", ele parabenizou. "Agopra repita depois de mim, e tente parecer natural. Por favor diga, 'Não, mãe, fique onde você está'".
"Não, mãe,fique onde você está", minha voz mal passava de um sussurro.
"Eu vejo que isso vai ser bem difícil". A voz estava divertida, ainda leve e amigável. "Porque você não vai para outro lugar pra que o seu rosto não arruine tudo? Não há nenhuma razão pra sua mãe sofrer. Enquanto você está andando, por favor diga 'Mãe, por favor, me ouça'. Diga isso agora".
"Mãe, por favor, me ouça", minha voz implorou. Eu andei bem devagar para o quarto, sentindo os olhos preocupados de Alice na minhas costas. Eu fechei a porta atrás de mim, tentando pensar claramente apesar do terror que prendia meu cérebro.
"Agora, você está sozinha? Só responda sim ou não".
"Sim".
"Mas eles ainda podem te ouvir, eu tenho certeza".
"Sim".
"Tudo bem então", a voz de concordância continuou. "diga, 'Mãe, confie em mim'".
"Mãe, confie em mim".
"Isso está funcionando melhor do que eu esperava. Eu estava preparado para esperar, mas a sua mãe chegou antes do horário. É mais fácil assim, não é? Menos suspense, menos ansiedade pra você".
Eu esperei.
""Agora eu quero que você me ouça muito cuidadosamente. Eu vou precisar que você se afaste dos seus amigos; você acha que consegue fazer isso? Responda sim ou não".
"Não".
"Eu lamento ouvir isso. Eu esperava que você fosse um pouco mais criativa que isso. Você acha que poderia se afastar deles se a vida da sua mãe dependesse disso? Rsponda sim ou não".
De alguma forma, tinha que haver um jeito. Eu me lembrei que estavamos indo ao aeroporto. Aeroporto Sky Harbor Internacional: lotado, pessoas atrasadas...
"Sim".
"Isso é melhor. Eu tenho certeza que não será fácil, mais se eu tiver a mínima impressão de que você tem companhia, bem, isso vai ser muito ruim para a sua mãe", a voz amigável prometeu. "Você já deve nos conhecer suficientemente bem pra saber o quão rapidamente eu vou saber se você tentar trazer alguém com você. E como eu poderia lidar rapidinho com a sua mãe se esse fosse o caso. Você está me entendendo? Responda sim ou não".
"Sim", minha voz quebrou.
"Miuto bom, Bella. Agora aqui está o que você precisa fazer. Eu quero que você vá para a casa da sua mãe. Perto do telefone haverá um número. Ligue pra ele e eu te direi pra onde ir a partir daí". Eu já sabia pra onde iria, e onde isso iria acabar. Mas eu seguiria exatamente as instruções dele. "Você pode fazer isso? Responda sim ou não".
"Sim".
"Antes do meio dia, por favor, Bella. Eu não tenho o dia inteiro", ele disse educadamente.
"Onde está Phil?", eu perguntei.
"Aw, tome cuidado, Bella. Espere até que eu te peça pra falar, por favor".
Eu esperei.
"Agora, isso é importante, não deixe os seus amigos suspeitarem quando você voltar pra eles. Diga pra eles que sua mãe ligou, e que você conseguiu convencê-la a ficar longe de casa por mais algum tempo. Agora repita depois de mim 'Obrigada, mãe'. Diga agora".
"Obrigada, mãe", as lágrimas estavam chegando. Eu tentei afastá-las.
"Diga 'Eu te amo, mãe, a gente se vê logo'. Diga agora".
"Eu te amo, mãe", minha voz estava grossa. "A gente se vê logo", eu prometi.
"Adeus, Bella. Eu estou ansioso pra vê-la de novo". Ele desligou.
Eu segurei o telefone no meu ouvido. Meu corpo estava congelado de terror - eu não conseguia fazer meus dedos solta-lo.
Eu sabia que tinha que pensar, mas minha cabeça estava cheia com o som de pânico da voz da minha mãe.. Os segundos foram se passando enquanto eu lutava pra me controlar.
Lentamente, lentamente, meus pensamentos começaram a transpor a parede de tijolos que a dor havia construido. Para planejar. Eu não tinha escolhas, a não ser uma: ir para a sala espelhada e morrer. Eu não tinha garantias, nada pra dar que pudesse manter minha mãe viva. Eu só podia esperar que James se desse por satisfeito depois que James ganhasse o jogo, que derrotar Edward fosse o suficiente.
O desespero tomou conta de mim; não tinha como barganhar, não havia nada que eu pudesse oferecer ou recusar que influenciasse ele. Mas eu ainda não tinha escolha. Eu tinha que tentar.
Eu afastei o terror tão bem quanto pude. Minha decisão estava tomada. Eu não ganhava nada perdendo meu tempo agonizando por causa do desfecho. Eu tinha que pensar com clareza, porque Alice e Jasper estavam esperando por mim, e despistá-los era absolutamente essencial, e absolutamente impossível.
Eu estava subitamente aliviada por Jasper não estar lá. Se ele estivesse aqui pra sentir a minha angústia nos últimos cinco minutos, como era que eu ia evitar as suspeitas deles? Eu afastei o medo, a ansiedade, tentei sufocá-los. Eu não podia me dar ao luxo de sentí-los. Eu não sabia quando ele voltaria.
Eu me concentrei na minha fuga. Eu tinha que rezar pra que a familiaridade com o aeroporto funcionasse a meu favor. D e alguma forma, eu tinha que manter Alice longe...
Eu sabia que Alice estaria na outra sala esperando por mim, curiosa. Mas eu tinha que lidar com mais uma coisa em particular, antes que Jasper voltasse.
Eu tinha que aceitar o fato de que não veria Edward novamente, nem uma imagem do seu rosto pra levar comigo para a sala dos espelhos. Eu ai magoá-lo, e não podia dizer adeus. Eu deixei as ondas de tortura me lavarem por algum tempo, seguir seu caminho por um tempo.
Então eu afastei elas também, e fui enfrentar Alice.
A única expressão que eu consegui controlar foi um olhar bobo, morto. Eu ví o alarme dela e não esperei que ela perguntasse. Eu só tinha um script, e agora não consegui improvisar.
"Minha mãe estava preocupada, ela queria voltar voltar pra casa. Mas está tudo bem, eu convencí ela a ficar longe". Minha voz estava sem sem vida.
"Nós vamos cuidar pra que ela fique bem, Bella, não se preocupe".
Eu me virei; eu não podia permitir que ela visse meu rosto agora.
Meu olho caiu sobre uma folha vazia com o emblema do hotel em cima da mesa. Eu fui até ela, um plano se formando. Havia um envelope lá, também. Isso era bom.
"Alice", eu perguntei lentamente, sem me virar, mantendo o nível da minha voz. "Se eu escrever uma carta para a minha mãe, você entregaria pra ela? Deixar na casa, eu quero dizer".
"Claro, Bella", a voz dela era cuidadosa. Ela podia me ver perdendo o controle. Eu tinha que controlar melhor as minhas emoções.
Eu fui para o meu quarto de novo, e me ajoelhei na mesinha de cabeceira para escrever.
"Edward", eu escrevi. Minha mão estava tremendo, a letra quase não era legível.
Eu te amo. Eu lamento muito. Ele está com a minha mãe. Eu sei que isso pode não funcionar. Eu lamento muito, muito.
Não fique com raiva de Alice e Jasper. Se eu conseguir me afastar deles vai ser um milagre. Agradeça eles por mim. Especialmente Alice, por favor.
E por favor, por favor, não vá atrás dele. É isso que ele quer. Eu acho. Eu não vou conseguir aguentar se alguém se machucar por minha causa, especialmente você. Por favor, isso é a única coisa que eu posso te pedir agora. Por mim.
Eu te amo. Me perdoe.
Bella.
Eu dobrei a carta cuidadosamente, e a coloquei no envelope. Eventualmente ele irai encontrá-la. Eu esperava que ele pudesse entender, e m
Eu podia sentie que era cedo demais quando eu acordei de novo, e eu sabia que os meus horários do dia e da noite estavam mudando lentamente. Eu fiquei deitada na minha cama ouvindo as vozes baixinhas de Alice e Jasper na outra sala. Era muito estranho que elas fossem altas o suficiente pra eu ouvir. Eu rolei até que meus pés tocassem o chão e então me arrastei até a sala.O relógio da TV dizia que havia acabado de passar das duas da manhã. Alice e Jasper ainda estavam sentados no sofá, Alice rabiscando de novo enquanto Jasper olhava por cima do ombro dela. Eles não olharam pra cima quando eu entrei, de tão concentrados que estavam no trabalho de Alice.Eu engatinhei até o lado de Jasper pra espionar."Ela viu mais alguma coisa?", eu perguntei baixinho pra ela."Sim. Alguma coisa trouxe ele de volta á sala de videocassete, agora está claro".Eu observei enquanto Alice desenhava uma sala quadrada com vigas escuras que atravessavam o teto. As paredes eram cobertas de madeiras, um pouco escuras demais, fora de moda. Um dos lados da entrada era de pedra - uma lareira de pedra cor de broze que ficava entre a entrada de duas salas. Haviam uma grande janela na parede que dava para o Sul, e uma abertura na parede do lado oeste que dava uma visão para a sala de estar.O foco da sala por essa perspectiva, a TV e o videocassete, que ficavam equilibrados num aparedor pequeno demais, estavam no lado do corredor que ficava mais próximo do lado sul. Um sofá antigo ficava no lado contrário ao da TV, uma mesa de café redonda ficava na frente dele."O telefone fica aqui", eu sussurrei, apontando.Os dois pares de olhos me encararam."É a casa da minha mãe".Alice já estava fora do sofé, com o telefone na mão, discando. Eu olhei para a precisa descrição da sala familiar da minha mãe. Como não era do seu costume, Jasper escorregou pra perto de mim. Ele colocou levemente sua mão no meu ombro, e o seu contato físico pareceu fazer sua inflência calmante ser ainda mais forte.
O pânico ficou nublado, desfocado.Os lábios de Alice estavam tremendo com a rapidez de suas palavras, o ruído baixo era impossível de decifrar. Eu não conseguia me concentrar."Bella", Alice disse, eu olhei pra ela entorpecida."Bella, Edward está vindo te buscar. Ele e Emmett e Carlisle vão te levar para algum lugar, pra te esconder por algum tempo"."Edward está vindo?", as três palavras eram como um manto de vida, que segurava minha cabeça pra cima durante um dilúvio."Sim, ele está pegando o primeiro vôo para Seattle. Nós vamos encontrá-lo no aeroporto e você irá com ele"."Mas, minha mãe... ele veio aqui pra pegar minha mãe, Alice!", a despeito de Jasper, a histeria estava borbulhando nas minhas palavras."Jasper e eu ficaremos até que ela esteja a salvo"."Eu não vou vencer, Alice. Vocês não podem cuidar de todas as pessoas que eu conheço pra sempre. Ele vai achar alguém, ele vai machucar alguém que eu amo... Alice, eu não consigo-"."Nós vamos pegá-lo, Bella", ela me assegurou."E se você se machucar, Alice? Você acha que vai ficar tudo bem pra mim? Você acha que ele só pode me machucar com a minha família humana?"Alice deu um olhar cheio de significado pra Jasper. Uma pesada e profundo nuvem de legargia passou por mim e os meus olhos fecharam sem minha permissão. Minha mente lutou contra a nuvem , se dando conta do que estava acontecendo. Eu forcei meus olhos a se abrirem e me levantei, me distanciando das mãos de Jasper."Eu não quero voltar a dormir", eu falei.Eu andei para o quarto e fechei a porta, bati ela na verdade, assim eu estaria livre para ficar despedaçada em privacidade. Dessa vez Alice não me seguiu. Por três horas e meia eu olhei para a parede, curvada como uma bola, me balançando. Minha mente estava dando voltas, tentando encontrar uma forma de sair desse pesadelo. Não havia escapatória, não havia como adiar. Eu só podia ver um final aparecendo sombriamente no meu futuro. A única pergunta era quantas pessoas se machucariam até que eu chegasse la´.
O único consolo, a única esperança que eu tinha, era que eu veria Edward em breve. Talvez, se eu pudesse apenas ver o rosto dele de novo, eu também poderia ver a solução que me iludia agora.Quando o telefone tocou, eu voltei para a sala, um pouco envergonhada pelo meu comportamento. Eu esperava não ter ofendido nenhum dos dois, que eles soubessem o quanto eu estava grata pelos sacrifícios que eles estavam fazendo por minha culpa.Alice estava atendendo ele tão rapidamente como sempre, mas o que chamou minha atenção foi que, pela primeira vez, Jasper não estava no quarto. Eu olhei para o relógio - eram cinco e meia da manhã."Eles estão entrando no avião", Alice me disse. "Eles vão aterrisar as nove e quarenta e cinco". Só mais algumas hora para respirar até que ele estivesse alí."Onde está Jasper?""Ele foi fazer o check-out"."Vocês não vão ficar aqui?""Não, nós vamos nos relocar para algum lugar mais próximo da casa da sua mãe".Meu estômago revirou desconfortavelmente com as palavras dela.Mas o telefone tocou de novo, me distraindo. Ela pareceu surpresa, mas eu já estava me aproximando, pegando esperançosamente o telefone."Alô?", Alice perguntou. "Não, ela está bem aqui". Ela me passou o telefone. Sua mãe, ela murmurou."Alô?""Bella, Bella", era avoz da minha mãe, num tom famíliar que eu já havia ouvido milhares de vezes na minha infância, toda vez que ficava na beira da calçada ou desaparecia de vista num lugar lotado.Era o som do pânico.Eu suspirei. Eu já estava esperando isso, apesar de ter tentado poassar a mensagem da forma mais calma possível, levando em consideração a emergência da situação."Mãe, fique calma", eu disse na minha voz mais tranquilizadora, caminhando vagarosamente pra longe de Alice. Eu não tinha certeza de que conseguiria mentir convenientemente com os olhos dela grudados em mim."Está tudo bem, tá legal? Só me dê um minuto e eu vou explicar tudo, eu prometo".Eu pausei, surpresa por ela ainda não ter me interrompido."Mãe?"
"Tome muito cuidado pra não falar nada até que eu diga". A voz que eu ouvi agora não era familiar e era inesperada. Era uma voz masculina baixa, uma voz muito agradável, genérica - o tipo de voz que você ouve no fundo de um comercial de carros luxuosos. Ele falava muito rapidamente.
"Agora, eu não preciso machucar sua mãe, então por favor, faça exatamente o que eu disser e ela vai ficar bem". Ele pausou por uma minuto enquanto eu só ouvia, muda de horror. "Isso é muito bom", ele parabenizou. "Agopra repita depois de mim, e tente parecer natural. Por favor diga, 'Não, mãe, fique onde você está'".
"Não, mãe,fique onde você está", minha voz mal passava de um sussurro.
"Eu vejo que isso vai ser bem difícil". A voz estava divertida, ainda leve e amigável. "Porque você não vai para outro lugar pra que o seu rosto não arruine tudo? Não há nenhuma razão pra sua mãe sofrer. Enquanto você está andando, por favor diga 'Mãe, por favor, me ouça'. Diga isso agora".
"Mãe, por favor, me ouça", minha voz implorou. Eu andei bem devagar para o quarto, sentindo os olhos preocupados de Alice na minhas costas. Eu fechei a porta atrás de mim, tentando pensar claramente apesar do terror que prendia meu cérebro.
"Agora, você está sozinha? Só responda sim ou não".
"Sim".
"Mas eles ainda podem te ouvir, eu tenho certeza".
"Sim".
"Tudo bem então", a voz de concordância continuou. "diga, 'Mãe, confie em mim'".
"Mãe, confie em mim".
"Isso está funcionando melhor do que eu esperava. Eu estava preparado para esperar, mas a sua mãe chegou antes do horário. É mais fácil assim, não é? Menos suspense, menos ansiedade pra você".
Eu esperei.
""Agora eu quero que você me ouça muito cuidadosamente. Eu vou precisar que você se afaste dos seus amigos; você acha que consegue fazer isso? Responda sim ou não".
"Não".
"Eu lamento ouvir isso. Eu esperava que você fosse um pouco mais criativa que isso. Você acha que poderia se afastar deles se a vida da sua mãe dependesse disso? Rsponda sim ou não".
De alguma forma, tinha que haver um jeito. Eu me lembrei que estavamos indo ao aeroporto. Aeroporto Sky Harbor Internacional: lotado, pessoas atrasadas...
"Sim".
"Isso é melhor. Eu tenho certeza que não será fácil, mais se eu tiver a mínima impressão de que você tem companhia, bem, isso vai ser muito ruim para a sua mãe", a voz amigável prometeu. "Você já deve nos conhecer suficientemente bem pra saber o quão rapidamente eu vou saber se você tentar trazer alguém com você. E como eu poderia lidar rapidinho com a sua mãe se esse fosse o caso. Você está me entendendo? Responda sim ou não".
"Sim", minha voz quebrou.
"Miuto bom, Bella. Agora aqui está o que você precisa fazer. Eu quero que você vá para a casa da sua mãe. Perto do telefone haverá um número. Ligue pra ele e eu te direi pra onde ir a partir daí". Eu já sabia pra onde iria, e onde isso iria acabar. Mas eu seguiria exatamente as instruções dele. "Você pode fazer isso? Responda sim ou não".
"Sim".
"Antes do meio dia, por favor, Bella. Eu não tenho o dia inteiro", ele disse educadamente.
"Onde está Phil?", eu perguntei.
"Aw, tome cuidado, Bella. Espere até que eu te peça pra falar, por favor".
Eu esperei.
"Agora, isso é importante, não deixe os seus amigos suspeitarem quando você voltar pra eles. Diga pra eles que sua mãe ligou, e que você conseguiu convencê-la a ficar longe de casa por mais algum tempo. Agora repita depois de mim 'Obrigada, mãe'. Diga agora".
"Obrigada, mãe", as lágrimas estavam chegando. Eu tentei afastá-las.
"Diga 'Eu te amo, mãe, a gente se vê logo'. Diga agora".
"Eu te amo, mãe", minha voz estava grossa. "A gente se vê logo", eu prometi.
"Adeus, Bella. Eu estou ansioso pra vê-la de novo". Ele desligou.
Eu segurei o telefone no meu ouvido. Meu corpo estava congelado de terror - eu não conseguia fazer meus dedos solta-lo.
Eu sabia que tinha que pensar, mas minha cabeça estava cheia com o som de pânico da voz da minha mãe.. Os segundos foram se passando enquanto eu lutava pra me controlar.
Lentamente, lentamente, meus pensamentos começaram a transpor a parede de tijolos que a dor havia construido. Para planejar. Eu não tinha escolhas, a não ser uma: ir para a sala espelhada e morrer. Eu não tinha garantias, nada pra dar que pudesse manter minha mãe viva. Eu só podia esperar que James se desse por satisfeito depois que James ganhasse o jogo, que derrotar Edward fosse o suficiente.
O desespero tomou conta de mim; não tinha como barganhar, não havia nada que eu pudesse oferecer ou recusar que influenciasse ele. Mas eu ainda não tinha escolha. Eu tinha que tentar.
Eu afastei o terror tão bem quanto pude. Minha decisão estava tomada. Eu não ganhava nada perdendo meu tempo agonizando por causa do desfecho. Eu tinha que pensar com clareza, porque Alice e Jasper estavam esperando por mim, e despistá-los era absolutamente essencial, e absolutamente impossível.
Eu estava subitamente aliviada por Jasper não estar lá. Se ele estivesse aqui pra sentir a minha angústia nos últimos cinco minutos, como era que eu ia evitar as suspeitas deles? Eu afastei o medo, a ansiedade, tentei sufocá-los. Eu não podia me dar ao luxo de sentí-los. Eu não sabia quando ele voltaria.
Eu me concentrei na minha fuga. Eu tinha que rezar pra que a familiaridade com o aeroporto funcionasse a meu favor. D e alguma forma, eu tinha que manter Alice longe...
Eu sabia que Alice estaria na outra sala esperando por mim, curiosa. Mas eu tinha que lidar com mais uma coisa em particular, antes que Jasper voltasse.
Eu tinha que aceitar o fato de que não veria Edward novamente, nem uma imagem do seu rosto pra levar comigo para a sala dos espelhos. Eu ai magoá-lo, e não podia dizer adeus. Eu deixei as ondas de tortura me lavarem por algum tempo, seguir seu caminho por um tempo.
Então eu afastei elas também, e fui enfrentar Alice.
A única expressão que eu consegui controlar foi um olhar bobo, morto. Eu ví o alarme dela e não esperei que ela perguntasse. Eu só tinha um script, e agora não consegui improvisar.
"Minha mãe estava preocupada, ela queria voltar voltar pra casa. Mas está tudo bem, eu convencí ela a ficar longe". Minha voz estava sem sem vida.
"Nós vamos cuidar pra que ela fique bem, Bella, não se preocupe".
Eu me virei; eu não podia permitir que ela visse meu rosto agora.
Meu olho caiu sobre uma folha vazia com o emblema do hotel em cima da mesa. Eu fui até ela, um plano se formando. Havia um envelope lá, também. Isso era bom.
"Alice", eu perguntei lentamente, sem me virar, mantendo o nível da minha voz. "Se eu escrever uma carta para a minha mãe, você entregaria pra ela? Deixar na casa, eu quero dizer".
"Claro, Bella", a voz dela era cuidadosa. Ela podia me ver perdendo o controle. Eu tinha que controlar melhor as minhas emoções.
Eu fui para o meu quarto de novo, e me ajoelhei na mesinha de cabeceira para escrever.
"Edward", eu escrevi. Minha mão estava tremendo, a letra quase não era legível.
Eu te amo. Eu lamento muito. Ele está com a minha mãe. Eu sei que isso pode não funcionar. Eu lamento muito, muito.
Não fique com raiva de Alice e Jasper. Se eu conseguir me afastar deles vai ser um milagre. Agradeça eles por mim. Especialmente Alice, por favor.
E por favor, por favor, não vá atrás dele. É isso que ele quer. Eu acho. Eu não vou conseguir aguentar se alguém se machucar por minha causa, especialmente você. Por favor, isso é a única coisa que eu posso te pedir agora. Por mim.
Eu te amo. Me perdoe.
Bella.
Eu dobrei a carta cuidadosamente, e a coloquei no envelope. Eventualmente ele irai encontrá-la. Eu esperava que ele pudesse entender, e m
Crepusculo (Stephenie Meyer) 20ª part
20. Impaciência
Quando eu acordei eu estava confusa. Meus pensamentos estavam nebulosos, ainda confusos com sonhos e pesadelos; demorou mais tempo do que devia até que eu lembrasse de onde eu estava.Esse quarto era insípido demais pra pertencer á outro lugar que não um hotel. Os abajures de cabeceira, aparafusados ás mesas, eram uma pista muito clara, assim como as longas cortinas que combinavam com os forros de cama, e as paredes cobertas com uma tinta genérica aguada.Eu tentei lembrar de como havia chegado aqui, mas primeiro não me veio nada.Eu lembrava do carro preto brilhante, os vidros das janelas eram mais escuros do que os de uma limusine. O motor era quase silencioso, apesar de estarmos correndo na pista escura com o dobro da velocidade permitida por lei.E eu me lembrava de Alice estar sentada á meu lado no banco de couro preto. De alguma forma, ao longo da noite minha cabeça acabou descansando no seu pescoço de granito. Minha aproximação não pareceu incomodá-la nem um pouco, e a sua pele fria, dura, era estranhamente reconfortante para mim. A frente da sua leve camisa de algodão estava fria, encharcada com as lágrimas que jorravam dos meus olhos, até que eles, vermelhos e doloridos, ficaram secos.O sono já havia desaparecido; meus olhos doloridos continuaram abertos apesar de a noite já ter finalmente acabado e de o sol já ter aparecido em algum pico na Califórnia. A luz cinza fraca, aparecendo no céu sem nuvens, machucou meus olhos. Mas eu não conseguia fechá-los; quando eu fechava, as imagens que apareciam vividas demais, como slides atrás das minhas pálpebras eram insuportáveis. A expressão devastada de Charlie - o rosno gutural de Edward, com os dentes á amostra - o olhar ressentido de Rosalie - o estudo nos olhos do perseguidor - os olhos mortos de Edward quando ele me beijou pela última vez... eu não agüentava vê-los. Então eu lutei contra o meu cansaço enquanto o sol aparecia mais alto no céu.
Eu ainda estava acordada quando passamos por uma pequena montanha através do sol, que agora estava atrás de nós, refletido nos telhados do Vale do Sol. Eu não tinha emoções suficientes sobrando para ficar surpresa por termos feito uma viagem de três dias em um. Eu olhei sem inexpressivamente para a expansão na minha frente. Phoenix- as palmeiras, o creosoto inferior, as faixas de pedestres na horizontal no meio da rua, os campos de golfe enfileirados e os splashes de azul turquesa nas piscinas, todos submergiam numa leve névoa baixa, serras de pedra que não eram grandes o suficiente para serem chamadas de montanhas. As sombras das palmeiras se inclinavam sobre a rodovia - definidas, mais pontudas do que eu lembrava, mais pálidas do que elas deviam ser. Nada podia se esconder nessas sombras. A estrada clara, aberta, parecia benigna o suficiente. Mas eu não me sentia aliviada, não me sentia nem um pouco bem vinda ao lar.
“Qual é o caminho para o aeroporto, Bella?”, Jasper perguntou, e eu vacilei, apresar da sua voz ser suave e sem alarmes. Esse foi o primeiro som, além do barulho do carro, a quebrar o longo silêncio da noite.
“Fique na 1-10”, eu respondi automaticamente. “Nós vamos passar bem na frente”.
Meu cérebro trabalhava muito devagar pela névoa da falta do sono.
“Nós vamos para algum lugar de avião?”, eu perguntei á Alice.
“Não, mas é melhor ficar por perto, na dúvida”.
Eu me lembro do início da curva ao redor do Sky Harbor Internacional... mas não lembro do final dela. Eu acho que foi aí que eu cai no sono.
Contudo, agora que eu tento me lembrar, eu tenho uma vaga impressão de ter saído do carro - o sol estava se pondo no horizonte - meu braço caiu sobre o ombro de Alice e ela firmou seu braço na minha cintura, me carregando enquanto eu tropeçava nas sombras mornas, secas.
Eu não me lembrava desse quarto.
Eu olhei para o relógio digital na cabeceira da cama. Os números vermelhos diziam que eram três horas, mas eles não indicavam se era de noite ou de dia. Nem um pouco de luz escapava pela cortina fina, mas o quarto estava claro por causa da luz do abajur.
Eu me levantei rigidamente e me arrastei até a janela, puxando as cortinas.
Estava escuro lá fora. Três da manhã então.meu quarto ficava de frente para um lado deserto da estrada e para o novo estacionamento do aeroporto. Era levemente confortante poder distinguir tempo e espaço.
Eu olhei para mim mesma. Eu ainda estava usando as roupas de Esme, e elas não me caiam nem um pouco bem. Eu olhei ao redor para o quarto, feliz por encontrar a minha bolsa de viagem numa penteadeira baixa. Eu estava indo pegar as minhas roupas quando uma batidinha de leve na porta me fez pular.
“Posso entrar?”, Alice perguntou.
Eu respirei fundo. “Claro”.
Ela entrou e olhou pra mim cuidadosamente. “Parece que você poderia dormir um pouco mais”, ela disse.
Eu só balancei a cabeça.
Ela se moveu até as cortinas e fechou elas seguramente antes de se virar pra mim.
“Vamos precisar ficar aqui dentro”, ela disse pra mim.
“Tudo bem”, minha voz estava rouca; ela estalou.
“Sede?”, ela perguntou.
Eu levantei os ombros. “Eu estou bem. E você?”
“Nada que não possa ser arranjado”, ela sorriu. “Eu pedi comida pra você, está na sala da frente. Edward me lembrou de que você tem que comer mais frequentemente que nós”.
Eu fiquei mais alerta instantaneamente. “ Ele ligou?”
“Não”, ela falou, e observou meu rosto cair. “Isso foi antes de irmos embora”.
Ela pegou minha mão cuidadosamente e me levou até a sala de estar da suíte do hotel. Eu podia ouvir leves ruídos de vozes vindos da televisão. Jasper estava sentado no canto da mesa, seus olhos assistiam as notícias sem nenhuma ponta de interesse.
Eu sentei no chão perto da mesa de café, onde a badeja de comida estava esperando, e comecei a pegar as coisas sem me dar conta do que estava comendo.
Alice se sentou no braço do sofá e começou a olhar para a TV de um jeito vazio que nem Jasper.
Eu comi devagar, olhando pra ela, me virando de vez em quando pra olhar rapidamente pra Jasper. Eu comecei a perceber que eles estavam rígidos demais. Eles nunca tiravam os olhos da tela, apesar de os comerciais já terem começado agora. Eu empurrei a bandeja para o lado, meu estômago estava abruptamente inquieto. Alice olhou pra mim.
“Qual é problema, Alice?”, eu perguntei.
“Não há nada errado”. Seus olhos eram grandes e honestos... e eu não acreditava neles.
“O que nós fazemos agora?”
“Nós esperamos Carlisle ligar”.
“E ele já devia ter ligado?”. Eu podia ver que estava chegando perto. Seus olhos flutuaram para o telefone em cima da sua bolsa preta de couro e de volta pra mim.
“O que isso significa?”. Minha voz termia e eu lutei para controlá-la. “Que ele não ligou ainda?”
“Isso só significa que eles ainda não têm nada para nos dizer”.
Mas a voz dela estava uniforme demais, e o ar ficou mais difícil de respirar.
Jasper estava de repente ao lado de Alice, mais perto de mim do que o normal.
“Bella”, ele disse numa voz suspeitosamente confortante. “Você não tem nada com o que se preocupar. Você está completamente segura aqui”.
“Eu sei disso”.
“Então porque você está assustada?”, ele perguntou confuso. Ele deve ter sentido a tenacidade das minhas emoções, mas ele não conseguia ler as razões por trás delas.
“Você ouviu o que Laurent disse”, minha voz era só um sussurro, mas eu tinha certeza de que eles conseguia me ouvir. “Ele disse que James era letal.
E se alguma coisa der errado, e eles se separarem? E se alguma coisa acontecer com algum deles, Carlisle, Emmett... Edward...”, eu engoli seco. “E se a fêmea machucar Esme...”, minha voz havia ficado mais alta, uma ponta de histeria estava começando a aparecer nela. “Como eu poderia viver comigo mesma sabendo que é minha culpa? Nenhum de vocês devia estar se arriscando por mim- “
“Bella, Bella, pare”, ele me interrompeu, as palavras dele vertiam tão rapidamente que era difícil compreendê-las. “Você está se preocupando com as coisas erradas, Bella. Confie em mim - nenhum de nós corre risco. Você já tem coisas de mais com as quais se estressar; não adicione isso tudo á preocupações desnecessárias. Me ouça!”, ele ordenou quando eu desviei o olhar. “Nossa família é forte. Nosso único medo é perder você”.
“Mas porque vocês deveriam -“
Dessa vez foi Alice que interrompeu , tocando minha bochecha com seus dedos frios. “Já faz um século que Edward está sozinho. Agora ele encontrou você. Você não consegue ver as diferenças que nós vemos, nós que temos estado com ele há tanto tempo. Você acha que algum de nós vai querer olhar nos olhos dele pelos próximos cem anos se ele perder você?”
Minha sensação de culpa foi diminuindo enquanto eu olhava para os seus olhos escuros. Mas mesmo com a calma se espalhando pelo meu corpo, eu não conseguia confiar nos meus sentimentos com Jasper lá.
Foi um dia muito longo.
Nós ficamos no quarto. Alice ligou para a recepção e pediu que cancelassem o nosso serviço de camareiras por enquanto. As janelas continuaram fechadas e a TV ligada, apesar de ninguém estar assistindo. O telefone prateado em cima da bolsa de Alice parecia ficar maior enquanto as horas passavam.
Minhas babás conseguiam agüentar o suspense melhor que eu. Enquanto eu me preocupava e andava pra lá e pra cá, eles só ficavam cada vez mais imóveis, aquelas duas estátuas cujos olhos me seguiam imperceptivelmente enquanto eu me movia. Eu me ocupei em memorizar o quarto; as listras padronizadas do sofá, bronze, pêssego, creme, dourado escuro, e então bronze de novo. As vezes eu olhava para as pinturas abstratas, ocasionalmente achando desenhos nas formas, como eu encontrava os desenhos nas nuvens quando eu era criança. Eu encontrei uma mão azul, uma mulher penteando o cabelo, um gato se estirando. Mas quando o círculo vermelho se transformou num olho me encarando, eu desviei o olhar.
Enquanto a tarde passava, eu voltei para a cama, simplesmente pra ter algo pra fazer. Eu esperava que estando sozinha no quarto, eu poderia me entregar aos terríveis medos que pairavam na minha consciência, impossibilitados de se libertarem por causa da supervisão cuidadosa de Jasper.
Mas Alice me seguiu casualmente, como se por coincidência ela tivesse se cansado da sala ao mesmo tempo que eu. Eu estava começando a imaginar exatamente que tipo de instruções Edward havia dado á ela. Eu me estirei na cama, e ela sentou, com as pernas cruzadas, perto de mim. No início eu ignorei ela, repentinamente cansada o suficiente para dormir. Mas depois de alguns minutos, o pânico que estava se escondendo na presença de Jasper começou a aparecer. Nessa hora eu desisti da idéia de dormir rapidamente, me curvando numa pequena bola, abraçando minhas pernas com os braços.
“Alice?”, eu perguntei.
“Sim?”
Eu mantive minha voz muito calma. “O que você acha que eles estão fazendo?”
“Carlisle pretendia levar o perseguidor tão longe para o Norte quanto fosse possível, esperar que ele se aproximasse, e então encurralar ele. Esme e Rosalie deviam ir para o oeste enquanto a fêmea ainda estivesse atrás delas. Se ela fosse embora, elas deveriam voltar pra Forks pra tomar conta do seu pai. Então eu imagino que se eles não podem ligar eles estão indo bem. Significa que o perseguidor está muito perto e eles não querem que ele os ouça”.
“E Esme?”
“Eu acho que ela já deve ter voltado pra Forks. Ela não vai ligar se houver alguma chance de que a fêmea ouça. Eu espero que eles todos estejam apenas sendo cuidadosos”.
“Você acha que eles estão a salvo, mesmo?”
“Bella, quantas vezes teremos que te dizer que não há perigo pra nós?”
“Contudo, você me contaria a verdade?”
“Sim. Eu sempre vou te contar a verdade”. A voz dela era intensa.
Eu pensei por um momento, e decidi que ela estava sendo sincera.
“Então me diga... como é que você se tornou uma vampira?”
Minha pergunta pegou ela fora de guarda. Ela ficou quieta. Eu me virei pra olhar pra ela, e a expressão dela parecia ambivalente.
“Edward não quer que eu te diga”, ela disse firmemente, mas eu senti que ela não concordava com isso.
“Isso não é justo. Eu acho que tenho o direito de saber”.
“Eu sei”.
Eu olhei pra ela esperando.
Ela suspirou. “Ele vai ficar extremamente zangado”.
“Isso não é da conta dele. Isso é entre eu e você. Alice, como amiga, eu estou te implorando”. E nós éramos amigas agora, de alguma forma - e ela já devia saber que seria assim desde o início.
Ela olhou pra mim com seus olhos esplêndidos, inteligentes... escolhendo.
“Eu vou te contar o lado mecânico da coisa”, ela disse finalmente. “mas nem eu mesma me lembro do que aconteceu, e eu nunca fiz isso ou vi sendo feito, então fique consciente de que só posso te contar o que eu sei na teoria”.
Eu esperei.
“Como predadores, nós temos um excesso de armas em nosso arsenal físico - muito, muito mais do que aquilo que realmente necessitamos. A força, a velocidade, os sentidos aguçados, sem mencionar aqueles como Edward, Jasper e eu, que temos sentidos extras também. E então, como uma flor carnívora, nós somos atraentes para a nossa presa”.
Eu estava muito rígida, me lembrando do quão sugestivamente Edward havia me explicado esse mesmo conceito na clareira.
Ela sorriu um sorriso largo, nefasto. “Nós temos outra arma um tanto quanto supérflua. Nós também somos venenosos”, ela disse, seus dentes brilhando. “O veneno não mata - é meramente incapacitante. Ele se espalha lentamente, se espalhando na corrente sanguínea, pra que, uma vez mordida, a presa sente dor física demais para escapar. Um tanto quanto supérfluo, como eu disse. Se nós estivermos tão perto, a presa não vai escapar. É claro que sempre existem exceções. Carlisle, por exemplo”.
“Então... o veneno é deixado lá pra se espalhar...”, eu murmurei.
“Levam alguns dias para a transformação estar completa, dependendo de quanto veneno há na corrente sanguínea, de quão devagar o veneno entra no coração. Enquanto o coração continua batendo, o veneno se espalha, curando, mudando o corpo enquanto passa por ele. Eventualmente o coração para, e a conversão chega ao fim. Mas durante todo o tempo, durante cada minuto, a vítima estará desejando estar morta”.
Eu tremi.
“Não é muito prazeroso, você vê”.
“Edward disse que era uma coisa muito difícil de fazer...eu não entendi muito bem”.
“Nós também somos como tubarões, de certa forma. Quando nós experimentamos o sangue, ou mesmo se tivermos apenas sentido o cheiro dele, se torna muito difícil não se alimentar dele. As vezes é impossível. Então veja, morder alguém de verdade, experimentar do sangue, isso começaria o frenesi. É difícil para os dois lados - a luxúria pelo sangue de uma lado, a dor horrível do outro.”
“Porque você acha que não lembra?”
“Eu não sei. Pra todos os outros, a dor da transformação é a memória mais forte da vida humana. Eu não me lembro de como é ser humana”.
Sua voz estava severa.
Nós ficamos em silêncio, cada uma envolvida em seus próprios pensamentos.
Os segundos se passaram, e eu quase esqueci da presença dela, de tão envolvida que estava nos meus pensamentos.
Então, sem aviso, Alice saltou da cama, pousando levemente nos seus pés. Minha cabeça deu um pulo e eu encarei ela, alarmada.
“Algo mudou”. A voz dela estava alarmada, e ela não estava mais falando comigo.
Ela alcançou a porta ao mesmo tempo que Jasper. Ele obviamente estava ouvindo a nossa conversa e ouviu a exclamação súbita. Ele colocou as mãos nos ombros dela e a guiou de volta para a cama, sentando ela na beirada.
“O que você vê?”, ele perguntou atentamente, olhando dentro dos olhos dela. Os olhos estavam focados em alguma coisa que estava muito longe. Eu sentei perto dela, me inclinando para entender sua voz rápida e baixa.
“Eu vejo um quarto. É longo, e tem espelhos me todo lugar. O chão é de madeira. Ele está nesse quarto, e ele está esperando. Há dourado... uma faixa dourada por entre os espelhos”.
“Onde é o quarto?”
“Eu não sei. Está faltando alguma coisa - outra decisão que ainda não foi tomada”.
“Quanto tempo?”
“Em breve. Ele estará na sala dos espelhos hoje, ou talvez amanhã. Isso depende. Ele está esperando por alguma coisa. E ele está no escuro agora”.
A voz de Jasper estava calma, metódica, enquanto ele interrogava ela cheio de prática.
“O que ele está fazendo?”
“Ele está assistindo Tv... não, ele está passando uma fita de vídeo, no escuro, em outro lugar”.
“Você consegue ver onde é?”
“Não, é escuro demais”.
“Eu não sei. Pra todos os outros, a dor da transformação é a memória mais forte da vida humana. Eu não me lembro de como é ser humana”.
Sua voz estava severa.
Nós ficamos em silêncio, cada uma envolvida em seus próprios pensamentos.
Os segundos se passaram, e eu quase esqueci da presença dela, de tão envolvida que estava nos meus pensamentos.
Então, sem aviso, Alice saltou da cama, pousando levemente nos seus pés. Minha cabeça deu um pulo e eu encarei ela, alarmada.
“Algo mudou”. A voz dela estava alarmada, e ela não estava mais falando comigo.
Ela alcançou a porta ao mesmo tempo que Jasper. Ele obviamente estava ouvindo a nossa conversa e ouviu a exclamação súbita. Ele colocou as mãos nos ombros dela e a guiou de volta para a cama, sentando ela na beirada.
“O que você vê?”, ele perguntou atentamente, olhando dentro dos olhos dela. Os olhos estavam focados em alguma coisa que estava muito longe. Eu sentei perto dela, me inclinando para entender sua voz rápida e baixa.
“Eu vejo um quarto. É longo, e tem espelhos me todo lugar. O chão é de madeira. Ele está nesse quarto, e ele está esperando. Há dourado... uma faixa dourada por entre os espelhos”.
“Onde é o quarto?”
“Eu não sei. Está faltando alguma coisa - outra decisão que ainda não foi tomada”.
“Quanto tempo?”
“Em breve. Ele estará na sala dos espelhos hoje, ou talvez amanhã. Isso depende. Ele está esperando por alguma coisa. E ele está no escuro agora”.
A voz de Jasper estava calma, metódica, enquanto ele interrogava ela cheio de prática.
“O que ele está fazendo?”
“Ele está assistindo Tv... não, ele está passando uma fita de vídeo, no escuro, em outro lugar”.
“Você consegue ver onde é?”
“Não, é escuro demais”.
“E o quarto dos espelhos, o que mais há lá?”
“Só os espelhos, e o dourado. É uma faixa, ao redor da sala. E há uma mesa preta com um grande som e uma TV. Ele está tocando um videocassete lá, mas ele não está assistindo como faz na sala escura. Nessa sala ele só espera”. Os olhos dela vaguearam, e então se focaram no rosto de Jasper.
“Não há mais nada?”
Ela balançou a cabeça. Eles olharam um para o outro, imóveis.
“O que isso significa?”, eu perguntei.
Nenhum deles respondeu por um momento, e então Jasper olhou pra mim.
“Significa que os planos do perseguidor mudaram. Ele tomou uma decisão que vaio guiá-lo ao quarto dos espelhos, e ao quarto escuro”.
“Mas nós não sabemos onde esses quartos são?”
“Não”.
“Mas nós sabemos que ele não estará nas montanhas á Norte de Washington, sendo caçado. Ele vai enganá-los”. A voz de Alice estava vazia.
“Devemos ligar?”, eu perguntei. Eles trocaram um olhar sério, indecisos.
E então o telefone tocou.
Alice já estava do outro lado da sala antes que eu pudesse levantar minha cabeça pra olhar.
Ela apertou um botão e colocou o telefone no ouvido dela, mas ela não foi a primeira a falar.
“Carlisle”, ela respirou. Ela não pareceu surpresa ou aliviada, como eu estava.
“Sim”, ela disse, olhando pra mim. Ela escutou por um momento.
“Eu acabei de vê-lo”, ela descreveu de novo a visão que tinha acabado de ter. “O que quer que tenha colocado ele naquele avião... está levando ele para aquelas salas”. Ela parou. “Sim”, Alice disse para o telefone, e então falou comigo. “Bella?”
Ela segurou o telefone na minha direção. Eu corri pra ele.
“Alô”, eu respirei.
“Bella”, Edward disse.
“Oh, Edward! Eu estava tão preocupada”.
“Bella”, ele suspirou frustrado. “Eu te disse pra não se preocupar com nada a não ser você mesma”. Era tão incrivelmente bom poder ouvir a voz dele. Eu senti a nuvem de desespero enfraquecer e ir embora enquanto ele falava.
“Onde vocês estão?”
“Nós estamos em Vancouver. Bella, me desculpe - nós o perdemos. Ele parece estar suspeitando de nós - ele está sendo cuidadoso o suficiente pra não ficar a uma distância que possamos ouvir os pensamentos dele. Mas agora ele foi embora - parece que ele entrou num avião. Nós achamos que ele voltou pra Forks pra recomeçar tudo”. Eu podia ouvir Alice conversando com Jasper atrás de mim, as palavras rápidas dela saíam acompanhadas de um zumbido.
“Eu sei. Alice disse que ele havia escapado”.
“Contudo, você não precisa se preocupar. Ele não encontrará nada que o leve a você. Você só tem que esperar aí até que nós o encontremos de novo”.
“Eu vou ficar bem. Esme está com Charlie?”
“Sim- a fêmea esteve na cidade. Ela esteve na casa, mas só enquanto Charlie estava no trabalho. Ela não se aproximou dele, então não tenha medo. Ele está a salvo com Esme e Rosalie tomando conta”.
“O que ela está fazendo?”
“Possivelmente tentando encontrar uma pista. Ela vasculhou a cidade inteira durante a noite. Rosalie encontrou ela no aeroporto, em todas as estradas ao redor, na escola... ela está vasculhando, Bella, mas não há nada para encontrar”.
“E você tem certeza que Charlie está a salvo?”
“Sim, Esme não vai perder ele de vista. E nós estaremos lá em breve. Se o perseguidor chegar perto de Forks, nós pegamos ele”.
“Eu sinto sua falta”, eu sussurrei.
“Eu sei, Bella. Acredite em mim, eu sei. É como se você tivesse levado metade de mim com você”.
“Então, venha pegá-la”, eu desafiei.
“Breve, assim que eu puder. Mas eu vou te deixar a salvo primeiro”. A voz dele estava dura.
“Eu te amo”, eu lembrei ele.
“Será que você poderia acreditar que, a despeito de tudo em que eu te envolvi, eu te amo também?”
“Sim, na verdade, eu posso”.
“Eu vou te buscar logo”.
“Eu estarei esperando”.
Assim que o telefone ficou mudo, a nuvem de depressão começou a pairar sobre mim de novo.
Eu me virei pra entregar o celular pra Alice, e encontrei Jasper inclinado sobre a mesa, onde Alice estava fazendo desenhos num papel com o emblema do hotel. Eu me inclinei no sofá, olhando por cima dos ombros dela.
Ela desenhou uma sala: longa, retangular, com uma sessão quadrada, mais fina lá no final.
As placas de madeira estavam expostas na longitudinal em todo o chão da sala. Nas paredes, as linhas denotavam o espaço de um espelho para o outro. E então, atravessando os espelhos, acima da altura cintura, uma longa faixa. A faixa que Alice dizia ser dourada.
“É um estúdio de Balé”, eu disse, repentinamente reconhecendo as formas familiares.
Eles olharam pra mim, surpresos.
“Você conhece essa sala?”. A voz de Jasper parecia calma, mas havia algo por baixo dela que eu não podia identificar. Alice abaixou a cabeça para o seu trabalho, agora sua mão voava sobre o papel, o formato da saída de emergência no fundo da sala, o som e a TV numa mesa baixa que ficava no canto da frente da sala.
“Parece com um lugar que eu costumava freqüentar para ter aulas de dança - quando eu tinha oito ou nove anos. O formato é o mesmo”.
Eu toquei o papel no local onde a parte quadrada aparecia, estreitando a parte de trás da sala. “É aqui que eram os banheiros - as portas passavam pela outra sala de dança. Mas o som ficava aqui” - eu apontei o canto esquerdo - “Era mais velho e não havia uma TV. Havia uma janela na sala de espera - você podia ver a sala nessa posição se você olhasse por ela”.
Alice e Jasper estavam olhando pra mim.
“Você tem certeza de que é a mesma sala?” Jasper perguntou, ainda calmo.
“Não, nem um pouco - eu creio que todos os estúdios de dança sejam parecidos - os espelhos, as barras”. Eu tracei as barras nos espelhos com o dedo.
“É só que o formato me pareceu familiar”. Eu toquei a porta, que ficava exatamente no lugar onde eu lembrava.
“Você teria algum motivo pra ir lá agora?” Alice perguntou, me tirando do devaneio.
“Não, fazem quase dez anos que eu não vou lá. Eu era uma dançarina horrível - eles sempre me colocavam no fundo dos recitais”, eu admiti.
“Então não tem jeito disso estar ligado á você?”, Alice perguntou atentamente.
“Não, eu nem acho que o dono seja o mesmo. Eu estou certa de que é algum outro estúdio de dança, em outro lugar”.
“Onde era o estúdio que você freqüentava?”, Jasper perguntou numa voz casual.
“Era na esquina da casa da minha mãe. Eu costumava ir andando pra lá depois da escola...”, eu disse, minha voz fugindo. Eu não perdi o olhar que eles trocaram.
“Aqui em Phoenix, então?”, a voz dele ainda estava casual.
“Sim”, eu sussurrei. “Rua cinqüenta e oito com Cactus”.
Nós todos sentamos em silêncio, olhando para o desenho.
“Alice, o telefone é seguro?”
“Sim”, ela me assegurou. “O número vai ser localizado em Washigton”.
“Então eu posso usá-lo para ligar para a minha mãe”.
“Eu pensei que ela estivesse na Flórida”.
“Ela está - mas ela vai voltar pra casa em breve, e ela não pode voltar pra casa enquanto...” Minha voz tremeu. Eu estava pensando no que Edward havia dito, sobre a fêmea ter estado na casa de Charlie, na escola, onde meus documentos estariam.
“Como é que você vai encontrá-la?”
“Eles não têm números permanentes exceto em casa - ela tem que checar as mensagens regularmente”.
“Jasper?”, Alice perguntou.
Ele pensou. “Eu acho que não pode fazer mal nenhum - mas tome o cuidado de não dizer onde está, é claro”.
Eu peguei o telefone ansiosamente e disquei o número familiar. Ele tocou quatro vezes, e então eu ouvi a voz a voz suave da minha mãe me dizendo pra deixar uma mensagem.
“Mãe”, eu falei depois do bipe. “sou eu. Escute, eu preciso que você faça uma coisa. É importante. Assim que você escutar essa mensagem, me ligue neste número”. Alice já estava a meu lado, escrevendo o número pra mim em cima do desenho dela. Eu o li cuidadosamente, duas vezes. “Por favor, não vá a lugar nenhum antes que eu tenha falado com você. Não se preocupe, eu estou bem, mas eu preciso falar com você imediatamente, não importa a hora que você receber esta ligação, está bem? Eu te amo, mãe, tchau”. Eu fechei meus olhos e rezei com todas as minhas forças pra que ela recebesse a mensagem antes de ir pra casa.
Eu sentei no sofá, batucando no prato que continha as frutas, antecipando a longa noite.
Eu pensei em ligar pra Charlie, mas eu não sabia se ele estaria em casa agora ou não. Eu me concentrei no jornal, assistindo histórias sobre a Flórida ou sobre o treinamento de Primavera - greves, ou furacões ou algum ataque terrorista - qualquer coisa que pudesse fazer eles voltarem mais cedo pra casa.
Imortalidade deve garantir paciência infinita. Nem Jasper nem Alice pareciam sentir a necessidade de alguma coisa pra fazer. Por algum tempo, Alice desenhou os traços da sala escura que ela havia visto, tudo o que ela podia ver pela leve luz da TV. Mas quando ela terminou, ela simplesmente ficou olhando para o vazio das paredes, com seus olhos eternos. Jasper, também, parecia não ter nenhuma necessidade de se mover, ou de dar uma olhadinha pelas cortinas, eu sair correndo pela porta, como eu queria.
Eu devo ter pego no sono no sofá, esperando o telefone tocar de novo. O toque frio de Alice me acordou brevemente enquanto ela me carregava para a cama, mas eu já estava inconsciente antes de encostar no travesseiro.
Quando eu acordei eu estava confusa. Meus pensamentos estavam nebulosos, ainda confusos com sonhos e pesadelos; demorou mais tempo do que devia até que eu lembrasse de onde eu estava.Esse quarto era insípido demais pra pertencer á outro lugar que não um hotel. Os abajures de cabeceira, aparafusados ás mesas, eram uma pista muito clara, assim como as longas cortinas que combinavam com os forros de cama, e as paredes cobertas com uma tinta genérica aguada.Eu tentei lembrar de como havia chegado aqui, mas primeiro não me veio nada.Eu lembrava do carro preto brilhante, os vidros das janelas eram mais escuros do que os de uma limusine. O motor era quase silencioso, apesar de estarmos correndo na pista escura com o dobro da velocidade permitida por lei.E eu me lembrava de Alice estar sentada á meu lado no banco de couro preto. De alguma forma, ao longo da noite minha cabeça acabou descansando no seu pescoço de granito. Minha aproximação não pareceu incomodá-la nem um pouco, e a sua pele fria, dura, era estranhamente reconfortante para mim. A frente da sua leve camisa de algodão estava fria, encharcada com as lágrimas que jorravam dos meus olhos, até que eles, vermelhos e doloridos, ficaram secos.O sono já havia desaparecido; meus olhos doloridos continuaram abertos apesar de a noite já ter finalmente acabado e de o sol já ter aparecido em algum pico na Califórnia. A luz cinza fraca, aparecendo no céu sem nuvens, machucou meus olhos. Mas eu não conseguia fechá-los; quando eu fechava, as imagens que apareciam vividas demais, como slides atrás das minhas pálpebras eram insuportáveis. A expressão devastada de Charlie - o rosno gutural de Edward, com os dentes á amostra - o olhar ressentido de Rosalie - o estudo nos olhos do perseguidor - os olhos mortos de Edward quando ele me beijou pela última vez... eu não agüentava vê-los. Então eu lutei contra o meu cansaço enquanto o sol aparecia mais alto no céu.
Eu ainda estava acordada quando passamos por uma pequena montanha através do sol, que agora estava atrás de nós, refletido nos telhados do Vale do Sol. Eu não tinha emoções suficientes sobrando para ficar surpresa por termos feito uma viagem de três dias em um. Eu olhei sem inexpressivamente para a expansão na minha frente. Phoenix- as palmeiras, o creosoto inferior, as faixas de pedestres na horizontal no meio da rua, os campos de golfe enfileirados e os splashes de azul turquesa nas piscinas, todos submergiam numa leve névoa baixa, serras de pedra que não eram grandes o suficiente para serem chamadas de montanhas. As sombras das palmeiras se inclinavam sobre a rodovia - definidas, mais pontudas do que eu lembrava, mais pálidas do que elas deviam ser. Nada podia se esconder nessas sombras. A estrada clara, aberta, parecia benigna o suficiente. Mas eu não me sentia aliviada, não me sentia nem um pouco bem vinda ao lar.
“Qual é o caminho para o aeroporto, Bella?”, Jasper perguntou, e eu vacilei, apresar da sua voz ser suave e sem alarmes. Esse foi o primeiro som, além do barulho do carro, a quebrar o longo silêncio da noite.
“Fique na 1-10”, eu respondi automaticamente. “Nós vamos passar bem na frente”.
Meu cérebro trabalhava muito devagar pela névoa da falta do sono.
“Nós vamos para algum lugar de avião?”, eu perguntei á Alice.
“Não, mas é melhor ficar por perto, na dúvida”.
Eu me lembro do início da curva ao redor do Sky Harbor Internacional... mas não lembro do final dela. Eu acho que foi aí que eu cai no sono.
Contudo, agora que eu tento me lembrar, eu tenho uma vaga impressão de ter saído do carro - o sol estava se pondo no horizonte - meu braço caiu sobre o ombro de Alice e ela firmou seu braço na minha cintura, me carregando enquanto eu tropeçava nas sombras mornas, secas.
Eu não me lembrava desse quarto.
Eu olhei para o relógio digital na cabeceira da cama. Os números vermelhos diziam que eram três horas, mas eles não indicavam se era de noite ou de dia. Nem um pouco de luz escapava pela cortina fina, mas o quarto estava claro por causa da luz do abajur.
Eu me levantei rigidamente e me arrastei até a janela, puxando as cortinas.
Estava escuro lá fora. Três da manhã então.meu quarto ficava de frente para um lado deserto da estrada e para o novo estacionamento do aeroporto. Era levemente confortante poder distinguir tempo e espaço.
Eu olhei para mim mesma. Eu ainda estava usando as roupas de Esme, e elas não me caiam nem um pouco bem. Eu olhei ao redor para o quarto, feliz por encontrar a minha bolsa de viagem numa penteadeira baixa. Eu estava indo pegar as minhas roupas quando uma batidinha de leve na porta me fez pular.
“Posso entrar?”, Alice perguntou.
Eu respirei fundo. “Claro”.
Ela entrou e olhou pra mim cuidadosamente. “Parece que você poderia dormir um pouco mais”, ela disse.
Eu só balancei a cabeça.
Ela se moveu até as cortinas e fechou elas seguramente antes de se virar pra mim.
“Vamos precisar ficar aqui dentro”, ela disse pra mim.
“Tudo bem”, minha voz estava rouca; ela estalou.
“Sede?”, ela perguntou.
Eu levantei os ombros. “Eu estou bem. E você?”
“Nada que não possa ser arranjado”, ela sorriu. “Eu pedi comida pra você, está na sala da frente. Edward me lembrou de que você tem que comer mais frequentemente que nós”.
Eu fiquei mais alerta instantaneamente. “ Ele ligou?”
“Não”, ela falou, e observou meu rosto cair. “Isso foi antes de irmos embora”.
Ela pegou minha mão cuidadosamente e me levou até a sala de estar da suíte do hotel. Eu podia ouvir leves ruídos de vozes vindos da televisão. Jasper estava sentado no canto da mesa, seus olhos assistiam as notícias sem nenhuma ponta de interesse.
Eu sentei no chão perto da mesa de café, onde a badeja de comida estava esperando, e comecei a pegar as coisas sem me dar conta do que estava comendo.
Alice se sentou no braço do sofá e começou a olhar para a TV de um jeito vazio que nem Jasper.
Eu comi devagar, olhando pra ela, me virando de vez em quando pra olhar rapidamente pra Jasper. Eu comecei a perceber que eles estavam rígidos demais. Eles nunca tiravam os olhos da tela, apesar de os comerciais já terem começado agora. Eu empurrei a bandeja para o lado, meu estômago estava abruptamente inquieto. Alice olhou pra mim.
“Qual é problema, Alice?”, eu perguntei.
“Não há nada errado”. Seus olhos eram grandes e honestos... e eu não acreditava neles.
“O que nós fazemos agora?”
“Nós esperamos Carlisle ligar”.
“E ele já devia ter ligado?”. Eu podia ver que estava chegando perto. Seus olhos flutuaram para o telefone em cima da sua bolsa preta de couro e de volta pra mim.
“O que isso significa?”. Minha voz termia e eu lutei para controlá-la. “Que ele não ligou ainda?”
“Isso só significa que eles ainda não têm nada para nos dizer”.
Mas a voz dela estava uniforme demais, e o ar ficou mais difícil de respirar.
Jasper estava de repente ao lado de Alice, mais perto de mim do que o normal.
“Bella”, ele disse numa voz suspeitosamente confortante. “Você não tem nada com o que se preocupar. Você está completamente segura aqui”.
“Eu sei disso”.
“Então porque você está assustada?”, ele perguntou confuso. Ele deve ter sentido a tenacidade das minhas emoções, mas ele não conseguia ler as razões por trás delas.
“Você ouviu o que Laurent disse”, minha voz era só um sussurro, mas eu tinha certeza de que eles conseguia me ouvir. “Ele disse que James era letal.
E se alguma coisa der errado, e eles se separarem? E se alguma coisa acontecer com algum deles, Carlisle, Emmett... Edward...”, eu engoli seco. “E se a fêmea machucar Esme...”, minha voz havia ficado mais alta, uma ponta de histeria estava começando a aparecer nela. “Como eu poderia viver comigo mesma sabendo que é minha culpa? Nenhum de vocês devia estar se arriscando por mim- “
“Bella, Bella, pare”, ele me interrompeu, as palavras dele vertiam tão rapidamente que era difícil compreendê-las. “Você está se preocupando com as coisas erradas, Bella. Confie em mim - nenhum de nós corre risco. Você já tem coisas de mais com as quais se estressar; não adicione isso tudo á preocupações desnecessárias. Me ouça!”, ele ordenou quando eu desviei o olhar. “Nossa família é forte. Nosso único medo é perder você”.
“Mas porque vocês deveriam -“
Dessa vez foi Alice que interrompeu , tocando minha bochecha com seus dedos frios. “Já faz um século que Edward está sozinho. Agora ele encontrou você. Você não consegue ver as diferenças que nós vemos, nós que temos estado com ele há tanto tempo. Você acha que algum de nós vai querer olhar nos olhos dele pelos próximos cem anos se ele perder você?”
Minha sensação de culpa foi diminuindo enquanto eu olhava para os seus olhos escuros. Mas mesmo com a calma se espalhando pelo meu corpo, eu não conseguia confiar nos meus sentimentos com Jasper lá.
Foi um dia muito longo.
Nós ficamos no quarto. Alice ligou para a recepção e pediu que cancelassem o nosso serviço de camareiras por enquanto. As janelas continuaram fechadas e a TV ligada, apesar de ninguém estar assistindo. O telefone prateado em cima da bolsa de Alice parecia ficar maior enquanto as horas passavam.
Minhas babás conseguiam agüentar o suspense melhor que eu. Enquanto eu me preocupava e andava pra lá e pra cá, eles só ficavam cada vez mais imóveis, aquelas duas estátuas cujos olhos me seguiam imperceptivelmente enquanto eu me movia. Eu me ocupei em memorizar o quarto; as listras padronizadas do sofá, bronze, pêssego, creme, dourado escuro, e então bronze de novo. As vezes eu olhava para as pinturas abstratas, ocasionalmente achando desenhos nas formas, como eu encontrava os desenhos nas nuvens quando eu era criança. Eu encontrei uma mão azul, uma mulher penteando o cabelo, um gato se estirando. Mas quando o círculo vermelho se transformou num olho me encarando, eu desviei o olhar.
Enquanto a tarde passava, eu voltei para a cama, simplesmente pra ter algo pra fazer. Eu esperava que estando sozinha no quarto, eu poderia me entregar aos terríveis medos que pairavam na minha consciência, impossibilitados de se libertarem por causa da supervisão cuidadosa de Jasper.
Mas Alice me seguiu casualmente, como se por coincidência ela tivesse se cansado da sala ao mesmo tempo que eu. Eu estava começando a imaginar exatamente que tipo de instruções Edward havia dado á ela. Eu me estirei na cama, e ela sentou, com as pernas cruzadas, perto de mim. No início eu ignorei ela, repentinamente cansada o suficiente para dormir. Mas depois de alguns minutos, o pânico que estava se escondendo na presença de Jasper começou a aparecer. Nessa hora eu desisti da idéia de dormir rapidamente, me curvando numa pequena bola, abraçando minhas pernas com os braços.
“Alice?”, eu perguntei.
“Sim?”
Eu mantive minha voz muito calma. “O que você acha que eles estão fazendo?”
“Carlisle pretendia levar o perseguidor tão longe para o Norte quanto fosse possível, esperar que ele se aproximasse, e então encurralar ele. Esme e Rosalie deviam ir para o oeste enquanto a fêmea ainda estivesse atrás delas. Se ela fosse embora, elas deveriam voltar pra Forks pra tomar conta do seu pai. Então eu imagino que se eles não podem ligar eles estão indo bem. Significa que o perseguidor está muito perto e eles não querem que ele os ouça”.
“E Esme?”
“Eu acho que ela já deve ter voltado pra Forks. Ela não vai ligar se houver alguma chance de que a fêmea ouça. Eu espero que eles todos estejam apenas sendo cuidadosos”.
“Você acha que eles estão a salvo, mesmo?”
“Bella, quantas vezes teremos que te dizer que não há perigo pra nós?”
“Contudo, você me contaria a verdade?”
“Sim. Eu sempre vou te contar a verdade”. A voz dela era intensa.
Eu pensei por um momento, e decidi que ela estava sendo sincera.
“Então me diga... como é que você se tornou uma vampira?”
Minha pergunta pegou ela fora de guarda. Ela ficou quieta. Eu me virei pra olhar pra ela, e a expressão dela parecia ambivalente.
“Edward não quer que eu te diga”, ela disse firmemente, mas eu senti que ela não concordava com isso.
“Isso não é justo. Eu acho que tenho o direito de saber”.
“Eu sei”.
Eu olhei pra ela esperando.
Ela suspirou. “Ele vai ficar extremamente zangado”.
“Isso não é da conta dele. Isso é entre eu e você. Alice, como amiga, eu estou te implorando”. E nós éramos amigas agora, de alguma forma - e ela já devia saber que seria assim desde o início.
Ela olhou pra mim com seus olhos esplêndidos, inteligentes... escolhendo.
“Eu vou te contar o lado mecânico da coisa”, ela disse finalmente. “mas nem eu mesma me lembro do que aconteceu, e eu nunca fiz isso ou vi sendo feito, então fique consciente de que só posso te contar o que eu sei na teoria”.
Eu esperei.
“Como predadores, nós temos um excesso de armas em nosso arsenal físico - muito, muito mais do que aquilo que realmente necessitamos. A força, a velocidade, os sentidos aguçados, sem mencionar aqueles como Edward, Jasper e eu, que temos sentidos extras também. E então, como uma flor carnívora, nós somos atraentes para a nossa presa”.
Eu estava muito rígida, me lembrando do quão sugestivamente Edward havia me explicado esse mesmo conceito na clareira.
Ela sorriu um sorriso largo, nefasto. “Nós temos outra arma um tanto quanto supérflua. Nós também somos venenosos”, ela disse, seus dentes brilhando. “O veneno não mata - é meramente incapacitante. Ele se espalha lentamente, se espalhando na corrente sanguínea, pra que, uma vez mordida, a presa sente dor física demais para escapar. Um tanto quanto supérfluo, como eu disse. Se nós estivermos tão perto, a presa não vai escapar. É claro que sempre existem exceções. Carlisle, por exemplo”.
“Então... o veneno é deixado lá pra se espalhar...”, eu murmurei.
“Levam alguns dias para a transformação estar completa, dependendo de quanto veneno há na corrente sanguínea, de quão devagar o veneno entra no coração. Enquanto o coração continua batendo, o veneno se espalha, curando, mudando o corpo enquanto passa por ele. Eventualmente o coração para, e a conversão chega ao fim. Mas durante todo o tempo, durante cada minuto, a vítima estará desejando estar morta”.
Eu tremi.
“Não é muito prazeroso, você vê”.
“Edward disse que era uma coisa muito difícil de fazer...eu não entendi muito bem”.
“Nós também somos como tubarões, de certa forma. Quando nós experimentamos o sangue, ou mesmo se tivermos apenas sentido o cheiro dele, se torna muito difícil não se alimentar dele. As vezes é impossível. Então veja, morder alguém de verdade, experimentar do sangue, isso começaria o frenesi. É difícil para os dois lados - a luxúria pelo sangue de uma lado, a dor horrível do outro.”
“Porque você acha que não lembra?”
“Eu não sei. Pra todos os outros, a dor da transformação é a memória mais forte da vida humana. Eu não me lembro de como é ser humana”.
Sua voz estava severa.
Nós ficamos em silêncio, cada uma envolvida em seus próprios pensamentos.
Os segundos se passaram, e eu quase esqueci da presença dela, de tão envolvida que estava nos meus pensamentos.
Então, sem aviso, Alice saltou da cama, pousando levemente nos seus pés. Minha cabeça deu um pulo e eu encarei ela, alarmada.
“Algo mudou”. A voz dela estava alarmada, e ela não estava mais falando comigo.
Ela alcançou a porta ao mesmo tempo que Jasper. Ele obviamente estava ouvindo a nossa conversa e ouviu a exclamação súbita. Ele colocou as mãos nos ombros dela e a guiou de volta para a cama, sentando ela na beirada.
“O que você vê?”, ele perguntou atentamente, olhando dentro dos olhos dela. Os olhos estavam focados em alguma coisa que estava muito longe. Eu sentei perto dela, me inclinando para entender sua voz rápida e baixa.
“Eu vejo um quarto. É longo, e tem espelhos me todo lugar. O chão é de madeira. Ele está nesse quarto, e ele está esperando. Há dourado... uma faixa dourada por entre os espelhos”.
“Onde é o quarto?”
“Eu não sei. Está faltando alguma coisa - outra decisão que ainda não foi tomada”.
“Quanto tempo?”
“Em breve. Ele estará na sala dos espelhos hoje, ou talvez amanhã. Isso depende. Ele está esperando por alguma coisa. E ele está no escuro agora”.
A voz de Jasper estava calma, metódica, enquanto ele interrogava ela cheio de prática.
“O que ele está fazendo?”
“Ele está assistindo Tv... não, ele está passando uma fita de vídeo, no escuro, em outro lugar”.
“Você consegue ver onde é?”
“Não, é escuro demais”.
“Eu não sei. Pra todos os outros, a dor da transformação é a memória mais forte da vida humana. Eu não me lembro de como é ser humana”.
Sua voz estava severa.
Nós ficamos em silêncio, cada uma envolvida em seus próprios pensamentos.
Os segundos se passaram, e eu quase esqueci da presença dela, de tão envolvida que estava nos meus pensamentos.
Então, sem aviso, Alice saltou da cama, pousando levemente nos seus pés. Minha cabeça deu um pulo e eu encarei ela, alarmada.
“Algo mudou”. A voz dela estava alarmada, e ela não estava mais falando comigo.
Ela alcançou a porta ao mesmo tempo que Jasper. Ele obviamente estava ouvindo a nossa conversa e ouviu a exclamação súbita. Ele colocou as mãos nos ombros dela e a guiou de volta para a cama, sentando ela na beirada.
“O que você vê?”, ele perguntou atentamente, olhando dentro dos olhos dela. Os olhos estavam focados em alguma coisa que estava muito longe. Eu sentei perto dela, me inclinando para entender sua voz rápida e baixa.
“Eu vejo um quarto. É longo, e tem espelhos me todo lugar. O chão é de madeira. Ele está nesse quarto, e ele está esperando. Há dourado... uma faixa dourada por entre os espelhos”.
“Onde é o quarto?”
“Eu não sei. Está faltando alguma coisa - outra decisão que ainda não foi tomada”.
“Quanto tempo?”
“Em breve. Ele estará na sala dos espelhos hoje, ou talvez amanhã. Isso depende. Ele está esperando por alguma coisa. E ele está no escuro agora”.
A voz de Jasper estava calma, metódica, enquanto ele interrogava ela cheio de prática.
“O que ele está fazendo?”
“Ele está assistindo Tv... não, ele está passando uma fita de vídeo, no escuro, em outro lugar”.
“Você consegue ver onde é?”
“Não, é escuro demais”.
“E o quarto dos espelhos, o que mais há lá?”
“Só os espelhos, e o dourado. É uma faixa, ao redor da sala. E há uma mesa preta com um grande som e uma TV. Ele está tocando um videocassete lá, mas ele não está assistindo como faz na sala escura. Nessa sala ele só espera”. Os olhos dela vaguearam, e então se focaram no rosto de Jasper.
“Não há mais nada?”
Ela balançou a cabeça. Eles olharam um para o outro, imóveis.
“O que isso significa?”, eu perguntei.
Nenhum deles respondeu por um momento, e então Jasper olhou pra mim.
“Significa que os planos do perseguidor mudaram. Ele tomou uma decisão que vaio guiá-lo ao quarto dos espelhos, e ao quarto escuro”.
“Mas nós não sabemos onde esses quartos são?”
“Não”.
“Mas nós sabemos que ele não estará nas montanhas á Norte de Washington, sendo caçado. Ele vai enganá-los”. A voz de Alice estava vazia.
“Devemos ligar?”, eu perguntei. Eles trocaram um olhar sério, indecisos.
E então o telefone tocou.
Alice já estava do outro lado da sala antes que eu pudesse levantar minha cabeça pra olhar.
Ela apertou um botão e colocou o telefone no ouvido dela, mas ela não foi a primeira a falar.
“Carlisle”, ela respirou. Ela não pareceu surpresa ou aliviada, como eu estava.
“Sim”, ela disse, olhando pra mim. Ela escutou por um momento.
“Eu acabei de vê-lo”, ela descreveu de novo a visão que tinha acabado de ter. “O que quer que tenha colocado ele naquele avião... está levando ele para aquelas salas”. Ela parou. “Sim”, Alice disse para o telefone, e então falou comigo. “Bella?”
Ela segurou o telefone na minha direção. Eu corri pra ele.
“Alô”, eu respirei.
“Bella”, Edward disse.
“Oh, Edward! Eu estava tão preocupada”.
“Bella”, ele suspirou frustrado. “Eu te disse pra não se preocupar com nada a não ser você mesma”. Era tão incrivelmente bom poder ouvir a voz dele. Eu senti a nuvem de desespero enfraquecer e ir embora enquanto ele falava.
“Onde vocês estão?”
“Nós estamos em Vancouver. Bella, me desculpe - nós o perdemos. Ele parece estar suspeitando de nós - ele está sendo cuidadoso o suficiente pra não ficar a uma distância que possamos ouvir os pensamentos dele. Mas agora ele foi embora - parece que ele entrou num avião. Nós achamos que ele voltou pra Forks pra recomeçar tudo”. Eu podia ouvir Alice conversando com Jasper atrás de mim, as palavras rápidas dela saíam acompanhadas de um zumbido.
“Eu sei. Alice disse que ele havia escapado”.
“Contudo, você não precisa se preocupar. Ele não encontrará nada que o leve a você. Você só tem que esperar aí até que nós o encontremos de novo”.
“Eu vou ficar bem. Esme está com Charlie?”
“Sim- a fêmea esteve na cidade. Ela esteve na casa, mas só enquanto Charlie estava no trabalho. Ela não se aproximou dele, então não tenha medo. Ele está a salvo com Esme e Rosalie tomando conta”.
“O que ela está fazendo?”
“Possivelmente tentando encontrar uma pista. Ela vasculhou a cidade inteira durante a noite. Rosalie encontrou ela no aeroporto, em todas as estradas ao redor, na escola... ela está vasculhando, Bella, mas não há nada para encontrar”.
“E você tem certeza que Charlie está a salvo?”
“Sim, Esme não vai perder ele de vista. E nós estaremos lá em breve. Se o perseguidor chegar perto de Forks, nós pegamos ele”.
“Eu sinto sua falta”, eu sussurrei.
“Eu sei, Bella. Acredite em mim, eu sei. É como se você tivesse levado metade de mim com você”.
“Então, venha pegá-la”, eu desafiei.
“Breve, assim que eu puder. Mas eu vou te deixar a salvo primeiro”. A voz dele estava dura.
“Eu te amo”, eu lembrei ele.
“Será que você poderia acreditar que, a despeito de tudo em que eu te envolvi, eu te amo também?”
“Sim, na verdade, eu posso”.
“Eu vou te buscar logo”.
“Eu estarei esperando”.
Assim que o telefone ficou mudo, a nuvem de depressão começou a pairar sobre mim de novo.
Eu me virei pra entregar o celular pra Alice, e encontrei Jasper inclinado sobre a mesa, onde Alice estava fazendo desenhos num papel com o emblema do hotel. Eu me inclinei no sofá, olhando por cima dos ombros dela.
Ela desenhou uma sala: longa, retangular, com uma sessão quadrada, mais fina lá no final.
As placas de madeira estavam expostas na longitudinal em todo o chão da sala. Nas paredes, as linhas denotavam o espaço de um espelho para o outro. E então, atravessando os espelhos, acima da altura cintura, uma longa faixa. A faixa que Alice dizia ser dourada.
“É um estúdio de Balé”, eu disse, repentinamente reconhecendo as formas familiares.
Eles olharam pra mim, surpresos.
“Você conhece essa sala?”. A voz de Jasper parecia calma, mas havia algo por baixo dela que eu não podia identificar. Alice abaixou a cabeça para o seu trabalho, agora sua mão voava sobre o papel, o formato da saída de emergência no fundo da sala, o som e a TV numa mesa baixa que ficava no canto da frente da sala.
“Parece com um lugar que eu costumava freqüentar para ter aulas de dança - quando eu tinha oito ou nove anos. O formato é o mesmo”.
Eu toquei o papel no local onde a parte quadrada aparecia, estreitando a parte de trás da sala. “É aqui que eram os banheiros - as portas passavam pela outra sala de dança. Mas o som ficava aqui” - eu apontei o canto esquerdo - “Era mais velho e não havia uma TV. Havia uma janela na sala de espera - você podia ver a sala nessa posição se você olhasse por ela”.
Alice e Jasper estavam olhando pra mim.
“Você tem certeza de que é a mesma sala?” Jasper perguntou, ainda calmo.
“Não, nem um pouco - eu creio que todos os estúdios de dança sejam parecidos - os espelhos, as barras”. Eu tracei as barras nos espelhos com o dedo.
“É só que o formato me pareceu familiar”. Eu toquei a porta, que ficava exatamente no lugar onde eu lembrava.
“Você teria algum motivo pra ir lá agora?” Alice perguntou, me tirando do devaneio.
“Não, fazem quase dez anos que eu não vou lá. Eu era uma dançarina horrível - eles sempre me colocavam no fundo dos recitais”, eu admiti.
“Então não tem jeito disso estar ligado á você?”, Alice perguntou atentamente.
“Não, eu nem acho que o dono seja o mesmo. Eu estou certa de que é algum outro estúdio de dança, em outro lugar”.
“Onde era o estúdio que você freqüentava?”, Jasper perguntou numa voz casual.
“Era na esquina da casa da minha mãe. Eu costumava ir andando pra lá depois da escola...”, eu disse, minha voz fugindo. Eu não perdi o olhar que eles trocaram.
“Aqui em Phoenix, então?”, a voz dele ainda estava casual.
“Sim”, eu sussurrei. “Rua cinqüenta e oito com Cactus”.
Nós todos sentamos em silêncio, olhando para o desenho.
“Alice, o telefone é seguro?”
“Sim”, ela me assegurou. “O número vai ser localizado em Washigton”.
“Então eu posso usá-lo para ligar para a minha mãe”.
“Eu pensei que ela estivesse na Flórida”.
“Ela está - mas ela vai voltar pra casa em breve, e ela não pode voltar pra casa enquanto...” Minha voz tremeu. Eu estava pensando no que Edward havia dito, sobre a fêmea ter estado na casa de Charlie, na escola, onde meus documentos estariam.
“Como é que você vai encontrá-la?”
“Eles não têm números permanentes exceto em casa - ela tem que checar as mensagens regularmente”.
“Jasper?”, Alice perguntou.
Ele pensou. “Eu acho que não pode fazer mal nenhum - mas tome o cuidado de não dizer onde está, é claro”.
Eu peguei o telefone ansiosamente e disquei o número familiar. Ele tocou quatro vezes, e então eu ouvi a voz a voz suave da minha mãe me dizendo pra deixar uma mensagem.
“Mãe”, eu falei depois do bipe. “sou eu. Escute, eu preciso que você faça uma coisa. É importante. Assim que você escutar essa mensagem, me ligue neste número”. Alice já estava a meu lado, escrevendo o número pra mim em cima do desenho dela. Eu o li cuidadosamente, duas vezes. “Por favor, não vá a lugar nenhum antes que eu tenha falado com você. Não se preocupe, eu estou bem, mas eu preciso falar com você imediatamente, não importa a hora que você receber esta ligação, está bem? Eu te amo, mãe, tchau”. Eu fechei meus olhos e rezei com todas as minhas forças pra que ela recebesse a mensagem antes de ir pra casa.
Eu sentei no sofá, batucando no prato que continha as frutas, antecipando a longa noite.
Eu pensei em ligar pra Charlie, mas eu não sabia se ele estaria em casa agora ou não. Eu me concentrei no jornal, assistindo histórias sobre a Flórida ou sobre o treinamento de Primavera - greves, ou furacões ou algum ataque terrorista - qualquer coisa que pudesse fazer eles voltarem mais cedo pra casa.
Imortalidade deve garantir paciência infinita. Nem Jasper nem Alice pareciam sentir a necessidade de alguma coisa pra fazer. Por algum tempo, Alice desenhou os traços da sala escura que ela havia visto, tudo o que ela podia ver pela leve luz da TV. Mas quando ela terminou, ela simplesmente ficou olhando para o vazio das paredes, com seus olhos eternos. Jasper, também, parecia não ter nenhuma necessidade de se mover, ou de dar uma olhadinha pelas cortinas, eu sair correndo pela porta, como eu queria.
Eu devo ter pego no sono no sofá, esperando o telefone tocar de novo. O toque frio de Alice me acordou brevemente enquanto ela me carregava para a cama, mas eu já estava inconsciente antes de encostar no travesseiro.
Crepusculo (Stephenie Meyer) 19ª part
19. Despedidas
Charlie estava me esperando acordado. Todas as luzes de casa estavam acesas. Minha mente estava bloqueada e eu estava pensando em uma maneira dele me deixar ir. Isso não ia ser prazeroso.Edward parou devagar, bem atrás da minha caminhonete. Todos os três estavam extremamente alerta, parecendo varetas de espingarda nos bancos, escutando cada som na floresta, olhando para cada sombra, sentindo cada cheiro, procurando por algo anormal. O motor desligou e eu continuei sentada, imóvel, enquanto eles escutavam.“Ele não está aqui”. Edward disse tenso. “Vamos lá”. Emmett se inclinou pra me ajudar com os cintos.“Não se preocupe, Bella”, ele disse com uma voz animada. “Nós vamos cuidar das coisas aqui rapidamente”.Eu senti os meus olhos ficando úmidos quando eu olhei pra Emmett. Eu mal o conhecia, mas assim mesmo, de alguma forma, não saber quando eu o veria de novo depois dessa noite era angustiante. Eu sabia que esse era apenas um gosto fraco das despedidas ás quais eu teria que sobrevirem na próxima hora, e esse pensamento fez as lágrimas começarem a jorrar.“Alice, Emmett”, a voz de Edward era um comando. Eles escorregaram lentamente para a escuridão, desaparecendo instantaneamente. Edward abriu a porta e me segurou pela mão, então me cercou na proteção dos seus braços. Ele caminhou rapidamente até a casa, sempre com os olhos revistando a escuridão.“Quinze minutos”, ele avisou por baixo do fôlego.“Eu posso fazer isso”, eu dei uma fungada. Minhas lágrimas me deram uma inspiração.Eu parei na varanda e segurei o rosto dele com as minhas mãos. Eu olhei impetuosamente nos olhos dele.“Eu te amo”, eu disse numa voz baixa, intensa. “Eu sempre vou amar você, não importa o que vai acontecer agora”.
“Nada vai te acontecer, Bella”, ele disse igualmente impetuoso.
“Só siga o plano, está bem? Mantenha Charlie seguro pra mim. Ele não vai gostar muito de mim depois disso, e eu quero ter a chance de me desculpar depois”.
“Entre, Bella. Nós temos que nos apressar”. A voz dele era urgente.
“Só mais uma coisa”, eu disse apaixonadamente. “Não ouça mais nenhuma palavra que eu disser esta noite!”. Ele estava se inclinando, então tudo que eu precisei fazer foi me esticar na ponta dos pés e beijar os lábios surpresos, congelados dele com toda a força que pude. Então eu me virei e abri a porta com um chute.
“Vá embora, Edward”. Eu gritei com ele, corri pra dentro e bati com a porta na sua cara ainda chocada.
“Bella?”, Charlie estava vagando na sala de estar, então já estava de pé.
“Me deixe em paz!”. Eu gritei com ele entre lágrimas, que estavam jorrando sem parar agora. Eu subi correndo para o meu quarto, batendo a porta e trancando com a chave.
Eu corri para a cama, me jogando no chão para pegar a minha mala de viagem. Eu levantei rapidamente o meu colchão pra alcançar o estrado e pegar a meia velha onde eu guardava as minhas economias secretas.
Charlie já estava batendo na porta.
“Bella, você está bem? O que está acontecendo?”. A voz dele estava assustada.
“Eu não agüento mais”, eu gritei. Minha voz falhou no momento certo.
“Ele machucou você?”, a voz de Charlie estava beirando a raiva.
“Não!”, eu gritei alguns oitavos acima do normal. Eu virei para a minha penteadeira, e Edward já estava lá, silenciosamente tirando braçadas de roupas da gaveta e jogando elas pra mim.
“Ele terminou com você?”
“Não!”, eu gritei levemente mais ofegante enquanto jogava as coisas dentro da sacola. Edward estava jogando o conteúdo de outra gaveta pra mim. A mala já estava quase cheia agora.
“O que aconteceu, Bella?”, Charlie gritou da porta, começando a bater de novo.
“Eu terminei com ele”, eu gritei de volta, sem conseguir fechar o zíper da bolsa. As mãos capazes de Edward afastaram as minhas e fecharam o zíper suavemente. Ele colocou a alça cuidadosamente no meu ombro.
“Eu estarei na caminhonete - vá!”, ele sussurou, e me empurrou em direção á porta. Ele desapareceu pela janela.
Eu destranquei a porta e empurrei Charlie com força, lutando com a minha bolsa pesada enquanto descia as escadas.
“O que aconteceu?”, ele gritou. Ele estava bem atrás de mim. “Eu pensei que você gostasse dele”.
Ele segurou meu cotovelo na cozinha. Ele ainda estava confuso, mas o seu aperto era firme.
Ele me virou pra encará-lo, e eu podia ver pelo rosto dele que ele não tinha nenhuma intenção de me deixar ir. Eu só podia pensar em uma maneira para escapar, e isso envolvia machucá-lo tanto que eu me odiei só de pensar. Mas eu não tinha tempo, e eu tinha que mantê-lo a salvo.
Eu olhei para o meu pai, lágrimas frescas nos olhos pelo que eu estava prestes a fazer.
“Eu gosto dele - esse é o problema. Eu não posso mais fazer isso! Eu não posso mais fincar raízes aqui! Eu não quero acabar presa nessa cidade estúpida, chata, como a mamãe! Eu não vou cometer o mesmo erro idiota que ela cometeu. Eu odeio isso - não posso ficar aqui nem mais um minuto”.
As mãos dele largaram meu braço como se eu tivesse o eletrocutado. Eu dei as costas ao seu rosto chocado, ferido, e comecei a andar para a porta.
“”Bells, você não pode ir agora. É noite”. Ele murmurou atrás de mim.
Eu não me virei. “Eu vou dormir na caminhonete se precisar”.
“Espere só mais uma semana”, ele implorou, com o rosto ainda chocado. “Renée vai estar de volta até lá”.
Isso me pegou completamente despreparada. "O que?"
Charlie continuou ansioso, quase tagarelando de alívio quando eu hesitei. “Ela ligou enquanto você esteve fora. As coisas não estão indo tão bem na Flórida, e se Phil não assinar um contrato até o fim da semana, eles vão voltar para o Arizona. O treinador assistente dos Sidewinders disse que eles podem não ter mais vaga para outro reserva”.
Eu balancei minha cabeça, tentando reagrupar os meus pensamentos agora confusos. Cada segundo que se passava colocava Charlie mais em risco.
“Eu tenho uma chave”, eu murmurei girando a maçaneta. Ele estava perto de mim, uma das suas mãos se estendeu pra mim, seu rosto confuso. Eu não podia mais perder tempo discutindo com ele. Eu ia ter que machucá-lo mais ainda.
“Me deixe ir Charlie”, eu repeti as mesmas palavras da minha mãe quando ela saiu por essa mesma há anos atrás. Eu disse elas com a toda a raiva que consegui, e abri a porta.
“ Não seu certo, tá bem? Eu realmente, realmente odeio Forks!”
Minhas palavras cruéis fizeram seu trabalho - Charlie ficou congelado na porta, atordoado, enquanto eu saia noite afora. Eu estava com um medo horrendo do quintal da frente. Eu corri como uma selvagem para a caminhonete, visualizando uma sombra escura atrás de mim. Eu joguei minha bolsa na caçamba e abri a porta. A chave estava esperando na ignição.
“Eu te ligo amanhã”, eu gritei, esperando mais que tudo poder explicar tudo nessa hora, mas sabendo que eu jamais poderia. Eu liguei o motor e dei a partida.
Edward segurou minha mão.
“Encoste”, ele disse quando Charlie e a casa já haviam desaparecido.
“Eu posso dirigir”, eu disse entre as lágrimas que rolavam pelo meu rosto.
Suas longas mãos inesperadamente seguraram minha cintura, e o pé dele empurrou o meu do acelerador. Ele me passou por cima do colo dele, arrancando minhas mãos do volante, e de repente ele estava no banco do motorista. A caminhonete não vacilou nem um centímetro.
“Você não conseguiria encontrar a casa”, ele explicou.
Faróis brilharam de repente atrás de nós. Eu olhei pra trás de nós, com os olhos arregalados de horror.
“É só Alice”, ele me assegurou. Ele pegou minha mão de novo.
Minha mente estava cheia de imagens de Charlie. “O perseguidor?”
“Ele ouviu o fim da sua performance”, ele disso severamente.
“Charlie?”, minha voz estava apavorada.
“O perseguidor nos seguiu. Ele está atrás de nós agora mesmo”.
Meu corpo ficou gelado.
“Nós podemos despistá-lo?”
“Não”, mas ele acelerou enquanto falava. O motor da caminhonete gemeu em protesto.
De repente, o meu plano já não parecia mais tão brilhante.
Eu estava olhando para os faróis de Alice quando a caminhonete balançou e uma sombra escura saltou do lado de fora da janela.
O grito percorreu a minha corrente sanguínea durante uma fração de segundo antes que Edward tapasse minha boca com a mão dele.
“É Emmett”.
Ele liberou a minha boca, e passou o braço ao redor da minha cintura.
“Está tudo bem, Bella”, ele prometeu. “Você vai ficar a salvo”.
Nós corremos pela cidade vazia em direção a auto-estrado que dava para o Norte.
“Eu não havia percebido que você estava tão chateada com a vida numa cidadezinha”, ele disse convencionalmente, e eu sabia que ele estava tentando me distrair. “Parecia que você estava se ajustando muito bem - especialmente recentemente. Talvez eu estivesse apenas me adulando por estar fazendo a vida mais interessante pra você”.
“Eu não estava sendo boazinha”, eu confessei, ignorando a sua tentativa de me divertir, olhando para os meus joelhos. “Foi exatamente aquilo que minha mãe disse quando deixou ele. Eu acho que você pode dizer que eu atingi abaixo da cintura”.
“Não se preocupe. Ele vai te perdoar”. Ele sorriu um pouco, apesar do sorriso não ter alcançado os olhos dele.
Eu olhei pra ele desesperadamente, ele viu o pânico que havia nos meus olhos.
“Bella, vai ficar tudo bem”.
“Mas não vai ficar tudo bem quando eu não estiver com você”, eu sussurrei.
“Nós estaremos juntos de novo em alguns dias”, ele disse, apertando o seu abraço em mim. “Não se esqueça que isso foi idéia sua”.
“Foi a melhor idéia - é claro que foi minha”.
Seu sorriso de resposta foi vazio e desapareceu rapidamente.
“Porque isso aconteceu?”, eu perguntei, minha voz era inquisitiva. “Porque comigo?”
Ele olhou com os olhos vazios para a estrada. “É minha culpa - eu fui um bobo de ter te exposto daquele jeito”. A raiva na voz dele era dirigida pra si mesmo.
“Não foi isso que eu quis dizer”, eu insisti. “Eu estava lá, grande coisa. Isso não incomodou os outros dois. Porque que esse James resolveu me matar? Tem, gente em tudo que é lugar, porque eu?”
Ele hesitou, pensando antes de responder.
“Eu dei uma boa olhada na mente dele esta noite”, ele começou com uma voz baixa. “Eu não tenho certeza de que havia alguma coisa que eu pudesse fazer pra evitar isso, uma vez que ele viu você. Isso é parcialmente sua culpa”. Sua voz estava torta. “Se você não cheirasse tão apavorantemente saborosa, talvez ele não tivesse se incomodado. Mas quando eu te defendi... bem, isso piorou muito as coisas. Ele não esta acostumado a ser contrariado, não importa o quanto o objeto seja sem importância. Ele se vê como um caçador e nada mais. Sua existência foi consumida por perseguições, e um bom desafio é tudo o que ele pede da vida. de repente nós apresentamos a ele um lindo desafio - um grande clã de criaturas poderosas todas inclinadas a proteger um elemento frágil. Você não acreditaria em como ele está eufórico agora. Esse é o jogo favorito dele, e nós fizemos o jogo ficar ainda mais interessante”. O tom dele estava cheio de repulsa.
Ele pausou por um momento.
“Mas se eu tivesse esperado, ele teria te matado lá mesmo”, ele disse com uma frustração desesperada.
“Eu achei... que não cheirava igual para os outros... como cheiro pra você”, eu disse hesitantemente.
“Você não cheira. Mas isso não significa que você também não seja tentadora para eles. Você é tão apelativa para o perseguidor - ou qualquer um deles - do mesmo jeito que você é apelativa pra mim, e isso teria gerado uma briga lá mesmo”.
Eu tremi.
“Eu não vejo outra escolha além de matá-lo agora”, ele murmurou. “Carlisle não vai gostar”.
Eu podia ouvir os pneus passando pela ponte, apesar de não conseguir ver o rio no escuro. Eu sabia que estávamos perto. Eu tinha que perguntar agora.
“Como se pode matar um vampiro?”
Ele olhou pra mim com olhos ilegíveis e com a voz repentinamente áspera. “A única forma de ter certeza é fazê-lo em fragmentos e queimar os pedaços”.
“E os outros dois vão lutar com ele?”
“A mulher vai. Eu não tenho certeza sobre Laurent. Eles não têm laços muito fortes- eles só estão juntos por conveniência. Ele ficou com vergonha de James na clareira...”
“Mas James e a mulher - eles vão tentar matar você?”, eu perguntei com a voz crua.
“Bella, não ouse perder seu tempo se preocupando comigo. Preocupe-se apenas com a sua própria segurança e - por favor, por favor - tente não ser descuidada”.
“Ele ainda está seguindo?”
“Sim. No entanto, ele não vai atacar a casa. Não essa noite”.
Ele virou na estrada invisível, Alice seguindo logo atrás.
Nós dirigimos até a casa. As luzes de dentro estavam brilhando, mas elas faziam muito pouco para aliviar a escuridão da floresta. Emmett abriu minha porta antes que a caminhonete estivesse parada; ele me tirou do banco, me agarrou como uma bola no seu peito largo, e me levou correndo pela porta.
Nós entramos na grande sala, Edward e Alice dos nossos lados. Todos eles já estavam lá; eles já estavam de pé com o som da nossa aproximação. Laurent ficou entre eles. Eu podia ouvir leves rugidos saindo da garganta de Emmett quando ele me colocou no chão ao lado de Edward.
“Ele está nos seguindo”, Edward anunciou, olhando diretamente pra Laurent.
O rosto de Laurent estava descontente. “Era isso que eu temia”.
Alice dançou até o lado de Jasper e cochichou no seu ouvido; seus lábios tremiam com a velocidade do seu discurso silencioso. Eles voaram pelas escadas juntos. Rosalie observou os dois, e então se moveu para o lado de Emmett. Seus lindos olhos eram intensos e - quando se fixaram em mim - furiosos.
“O que ele vai fazer?” Carlisle perguntou á Laurent com um tom arrepiante.
“Eu lamento”, ele respondeu. “Eu temia que quando o seu garoto defendeu ela, que isso iria irritá-lo”.
“Você pode pará-lo?”
Laurent balançou a cabeça. “Nada pode parar James depois que ele começa”.
“Nós vamos pará-lo”, Emmett prometeu. Não havia duvida que ele estava falando sério.
“Você não pode pará-lo. Eu nunca vi nada como ele em meus trezentos anos. Ele é absolutamente letal. Foi por isso que eu me juntei ao bando dele”.
O bando dele, eu pensei, é claro. O show de liderança não passava disso, um show.
Laurent estava balançando a cabeça. ele olhou pra mim e depois de volta pra Carlisle.
“Vocês têm certeza de que vale a pena?”
O rugido irado de Edward encheu a sala. Laurent deu um passo pra trás.
Carlisle olhou gravemente para Laurent. “Eu temo que você terá que fazer uma escolha”.
Laurent compreendeu. Ele pensou por um momento. Seus olhos passaram por todos os rostos, e finalmente varreram a sala clara.
“Eu estou intrigado pelo estilo de vida que vocês criaram aqui. Mas eu não vou me meter nisso. Eu não sou inimigo de nenhum de vocês, mas não vou me colocar contra James. Eu acho que vou para o Norte - visitar aquele clã em Denali”. Ele hesitou. “Não subestimem James. Ele tem uma mente brilhante e sensos fora do comum.
Ele está tão confortável no mundo dos humanos quanto vocês parecem estar, e ele não vai permitir que vocês se intrometam... eu lamento pelo que isso causou aqui. Lamento mesmo”. Ele fez uma reverência com a cabeça, mas eu vi quando ele lançou outro olhar confuso na minha direção.
“Vá em paz”. Foi a resposta formal de Carlisle.
Laurent deu outra olhada á sua volta, e então correu para a porta.
O silêncio durou menos de um segundo.
“Quão perto?”, Carlisle perguntou á Edward.
Esme já estava se mexendo; a mão dela tocou um teclado complementar acima de qualquer suspeita, e com um gemido, grandes venezianas de metal começaram a selar as paredes de vidro. Eu fiquei pasma.
“Á cerca de três milhas antes do rio; ele está circulando pra se encontrar com a fêmea”.
“Qual é o plano?”
“Nós vamos despistá-lo, e então Alice e Jasper levam ela para o sul”.
“E então?”
O tom de Edward era mortal. “Assim que Bella estiver longe, nós vamos caçá-lo”.
“Eu acho que não há outra escolha”, Carlisle concordou, seu rosto severo.
Edward se virou para Rosalie.
“Leve ela lá pra cima e troquem de roupas”. Edward comandou. Ela olhou pra ele com um olhar lívido de descrença.
“Porque eu deveria?”, ela falou. “O que ela é pra mim - além de uma ameaça que você escolheu pra soltar entre nós”.
Eu dei um passo pra trás pra me proteger do veneno da voz dela.
“Rose...”, Emmett murmurou, colocando uma mão no ombro dela. Ela afastou ele.
Mas eu estava observando Edward o tempo todo, conhecendo seu temperamento, preocupada com a reação dele.
Ele me surpreendeu. Ele desviou o olhar de Rosalie como se ela nem tivesse falado, como se ela nem existisse.
“Esme?”, ele pediu calmamente.
“É claro”, Esme murmurou.
Esme já estava ao meu lado em menos de um pulsar do meu coração, me colocando facilmente em seus braços e me levando pelas escadas antes que eu pudesse ficar chocada.
“O que nós estamos fazendo?”, eu perguntei sem fôlego enquanto ela me colocava em um quarto escuro em algum lugar no segundo andar.
“Tentando confundir o cheiro. Não vai funcionar por muito tempo, mas vai ajudar você na saída”. Eu podia ouvir as roupas dela caindo no chão.
“Eu não acho que vou caber...”, eu hesitei, mas as suas mãos já estavam abruptamente tirando a minha camisa. Eu rapidamente tirei meus jeans sozinha. Ela me passou alguma coisa que parecia como uma camisa. Eu lutei pra colocar os meus braços nos buracos certos. Assim que eu consegui ela me passou sua calça comprida. Eu coloquei elas mas não consegui tirar meus pés; elas eram longas demais. Ela inteligentemente enrolou as bainhas algumas vezes pra que eu pudesse ficar de pé. De alguma forma, ela já estava usando as minhas roupas. Ela me puxou de volta para as escadas, onde Alice estava esperando, uma pequena maleta de couro estava na mão dela. Cada uma delas agarrou um dos meus cotovelos e me carregaram enquanto voavam escadas abaixo.
Parecia que tudo já havia sido resolvido lá embaixo durante a nossa ausência. Edward e Emmett estavam prontos pra partir, Emmett carregava uma mala que parecia ser pesada sobre seu ombro. Carlisle estava passando algo pequeno para Esme. Ele se virou e passou a mesma coisa para Alice - era um pequeno celular prateado.
“Esme e Rosalie vão pegar a sua caminhonete, Bella”, ele disse enquanto passava por mim. Eu balancei a cabeça, olhando cautelosamente para Rosalie. Ela estava olhando para Carlisle com uma expressão ressentida.
“Alice, Jasper - levem a Mercedes. Vocês vão precisar dos vidros escuros no Sul”.
Eles também balançaram a cabeça.
“Nós vamos com o Jipe”.
Eu estava surpresa de ver que Carlisle pretendia ir com Edward. Eu me dei conta, com uma pontada de medo, que eles haviam planejado a festa da caçada.
“Alice”, Carlisle perguntou. “Eles vão morder a isca?”
Todo mundo olhou pra Alice quando ela fechou os olhos e ficou incrivelmente rígida.
Finalmente ela abriu os olhos. “Ele vai seguir vocês. A mulher vai seguir a caminhonete. Nós seremos capazes de partir depois disso”. A voz dela era resoluta.
“Vamos lá”, Carlisle começou a andar em direção á cozinha.
Mas Edward foi para o meu lado na hora. Ele me agarrou com o seu aperto de aço, me puxando contra ele. Ele pareceu não se dar de que a família dele estava olhando quando ele puxou meu rosto ao encontro do seu, fazendo meus pés saírem do chão. Pelo mais breve segundo, seus lábio estavam gelados e duros contra os meus. Então acabou. Ele me colocou no chão, ainda segurando meu rosto, seus olhos gloriosos queimando nos meus.
Seus olhos ficaram vazios, curiosamente mortos quando ele se virou me dando as costas.
E eles foram embora.
Nós ficamos lá, os outros olhando em outras direções enquanto lágrimas silenciosas rolavam pelo meu rosto.
O momento de silêncio permaneceu, e então o telefone de Esme vibrou na mão dela. Ele voou para o seu ouvido.
“Agora”, ela disse. Rosalie foi saindo pela porta sem outro olhar em minha direção,mas Esme tocou minha bochecha enquanto passava por mim.
“Fique segura”. O sussurro dela continuou no ar enquanto elas saiam pela porta. Eu ouvi minha caminhonete começar a funcionar ruidosamente, e então ir embora.
Jasper e Alice esperaram. O telefone de Alice já parecia estar em sua ouvido antes mesmo de vibrar.
“Edward disse que a mulher está na cola de Esme. Eu vou pegar o carro”. Ela sumiu por dentro das sombras por onde Edward havia saído.
Jasper e eu olhamos um para o outro. Ele ficou na entrada longe de mim... sendo cuidadoso.“Você está errada, sabe”. Ele disse baixinho.“O que?”, eu me engasguei.“Eu posso sentir como você se sente no momento - e você vale a pena”.“Não valho não”, eu murmurei. “Se algo acontecer á eles, terá sido por nada”.“Você está errada”, ele repetiu, sorrindo carinhosamente pra mim.Eu não ouvi nada, mas do nada Alice entrou na sala pela porta da frente com os braços abertos pra mim.“Posso?”, ela perguntou.“Você é a primeira a pedir permissão”, eu dei um sorriso torto.Ela me levantou nos seus braços esguios tão facilmente quanto Emmett, se curvando protetoramente sobre mim, e então nós voamos pela porta, deixando as luzes brilhantes pra trás.
Charlie estava me esperando acordado. Todas as luzes de casa estavam acesas. Minha mente estava bloqueada e eu estava pensando em uma maneira dele me deixar ir. Isso não ia ser prazeroso.Edward parou devagar, bem atrás da minha caminhonete. Todos os três estavam extremamente alerta, parecendo varetas de espingarda nos bancos, escutando cada som na floresta, olhando para cada sombra, sentindo cada cheiro, procurando por algo anormal. O motor desligou e eu continuei sentada, imóvel, enquanto eles escutavam.“Ele não está aqui”. Edward disse tenso. “Vamos lá”. Emmett se inclinou pra me ajudar com os cintos.“Não se preocupe, Bella”, ele disse com uma voz animada. “Nós vamos cuidar das coisas aqui rapidamente”.Eu senti os meus olhos ficando úmidos quando eu olhei pra Emmett. Eu mal o conhecia, mas assim mesmo, de alguma forma, não saber quando eu o veria de novo depois dessa noite era angustiante. Eu sabia que esse era apenas um gosto fraco das despedidas ás quais eu teria que sobrevirem na próxima hora, e esse pensamento fez as lágrimas começarem a jorrar.“Alice, Emmett”, a voz de Edward era um comando. Eles escorregaram lentamente para a escuridão, desaparecendo instantaneamente. Edward abriu a porta e me segurou pela mão, então me cercou na proteção dos seus braços. Ele caminhou rapidamente até a casa, sempre com os olhos revistando a escuridão.“Quinze minutos”, ele avisou por baixo do fôlego.“Eu posso fazer isso”, eu dei uma fungada. Minhas lágrimas me deram uma inspiração.Eu parei na varanda e segurei o rosto dele com as minhas mãos. Eu olhei impetuosamente nos olhos dele.“Eu te amo”, eu disse numa voz baixa, intensa. “Eu sempre vou amar você, não importa o que vai acontecer agora”.
“Nada vai te acontecer, Bella”, ele disse igualmente impetuoso.
“Só siga o plano, está bem? Mantenha Charlie seguro pra mim. Ele não vai gostar muito de mim depois disso, e eu quero ter a chance de me desculpar depois”.
“Entre, Bella. Nós temos que nos apressar”. A voz dele era urgente.
“Só mais uma coisa”, eu disse apaixonadamente. “Não ouça mais nenhuma palavra que eu disser esta noite!”. Ele estava se inclinando, então tudo que eu precisei fazer foi me esticar na ponta dos pés e beijar os lábios surpresos, congelados dele com toda a força que pude. Então eu me virei e abri a porta com um chute.
“Vá embora, Edward”. Eu gritei com ele, corri pra dentro e bati com a porta na sua cara ainda chocada.
“Bella?”, Charlie estava vagando na sala de estar, então já estava de pé.
“Me deixe em paz!”. Eu gritei com ele entre lágrimas, que estavam jorrando sem parar agora. Eu subi correndo para o meu quarto, batendo a porta e trancando com a chave.
Eu corri para a cama, me jogando no chão para pegar a minha mala de viagem. Eu levantei rapidamente o meu colchão pra alcançar o estrado e pegar a meia velha onde eu guardava as minhas economias secretas.
Charlie já estava batendo na porta.
“Bella, você está bem? O que está acontecendo?”. A voz dele estava assustada.
“Eu não agüento mais”, eu gritei. Minha voz falhou no momento certo.
“Ele machucou você?”, a voz de Charlie estava beirando a raiva.
“Não!”, eu gritei alguns oitavos acima do normal. Eu virei para a minha penteadeira, e Edward já estava lá, silenciosamente tirando braçadas de roupas da gaveta e jogando elas pra mim.
“Ele terminou com você?”
“Não!”, eu gritei levemente mais ofegante enquanto jogava as coisas dentro da sacola. Edward estava jogando o conteúdo de outra gaveta pra mim. A mala já estava quase cheia agora.
“O que aconteceu, Bella?”, Charlie gritou da porta, começando a bater de novo.
“Eu terminei com ele”, eu gritei de volta, sem conseguir fechar o zíper da bolsa. As mãos capazes de Edward afastaram as minhas e fecharam o zíper suavemente. Ele colocou a alça cuidadosamente no meu ombro.
“Eu estarei na caminhonete - vá!”, ele sussurou, e me empurrou em direção á porta. Ele desapareceu pela janela.
Eu destranquei a porta e empurrei Charlie com força, lutando com a minha bolsa pesada enquanto descia as escadas.
“O que aconteceu?”, ele gritou. Ele estava bem atrás de mim. “Eu pensei que você gostasse dele”.
Ele segurou meu cotovelo na cozinha. Ele ainda estava confuso, mas o seu aperto era firme.
Ele me virou pra encará-lo, e eu podia ver pelo rosto dele que ele não tinha nenhuma intenção de me deixar ir. Eu só podia pensar em uma maneira para escapar, e isso envolvia machucá-lo tanto que eu me odiei só de pensar. Mas eu não tinha tempo, e eu tinha que mantê-lo a salvo.
Eu olhei para o meu pai, lágrimas frescas nos olhos pelo que eu estava prestes a fazer.
“Eu gosto dele - esse é o problema. Eu não posso mais fazer isso! Eu não posso mais fincar raízes aqui! Eu não quero acabar presa nessa cidade estúpida, chata, como a mamãe! Eu não vou cometer o mesmo erro idiota que ela cometeu. Eu odeio isso - não posso ficar aqui nem mais um minuto”.
As mãos dele largaram meu braço como se eu tivesse o eletrocutado. Eu dei as costas ao seu rosto chocado, ferido, e comecei a andar para a porta.
“”Bells, você não pode ir agora. É noite”. Ele murmurou atrás de mim.
Eu não me virei. “Eu vou dormir na caminhonete se precisar”.
“Espere só mais uma semana”, ele implorou, com o rosto ainda chocado. “Renée vai estar de volta até lá”.
Isso me pegou completamente despreparada. "O que?"
Charlie continuou ansioso, quase tagarelando de alívio quando eu hesitei. “Ela ligou enquanto você esteve fora. As coisas não estão indo tão bem na Flórida, e se Phil não assinar um contrato até o fim da semana, eles vão voltar para o Arizona. O treinador assistente dos Sidewinders disse que eles podem não ter mais vaga para outro reserva”.
Eu balancei minha cabeça, tentando reagrupar os meus pensamentos agora confusos. Cada segundo que se passava colocava Charlie mais em risco.
“Eu tenho uma chave”, eu murmurei girando a maçaneta. Ele estava perto de mim, uma das suas mãos se estendeu pra mim, seu rosto confuso. Eu não podia mais perder tempo discutindo com ele. Eu ia ter que machucá-lo mais ainda.
“Me deixe ir Charlie”, eu repeti as mesmas palavras da minha mãe quando ela saiu por essa mesma há anos atrás. Eu disse elas com a toda a raiva que consegui, e abri a porta.
“ Não seu certo, tá bem? Eu realmente, realmente odeio Forks!”
Minhas palavras cruéis fizeram seu trabalho - Charlie ficou congelado na porta, atordoado, enquanto eu saia noite afora. Eu estava com um medo horrendo do quintal da frente. Eu corri como uma selvagem para a caminhonete, visualizando uma sombra escura atrás de mim. Eu joguei minha bolsa na caçamba e abri a porta. A chave estava esperando na ignição.
“Eu te ligo amanhã”, eu gritei, esperando mais que tudo poder explicar tudo nessa hora, mas sabendo que eu jamais poderia. Eu liguei o motor e dei a partida.
Edward segurou minha mão.
“Encoste”, ele disse quando Charlie e a casa já haviam desaparecido.
“Eu posso dirigir”, eu disse entre as lágrimas que rolavam pelo meu rosto.
Suas longas mãos inesperadamente seguraram minha cintura, e o pé dele empurrou o meu do acelerador. Ele me passou por cima do colo dele, arrancando minhas mãos do volante, e de repente ele estava no banco do motorista. A caminhonete não vacilou nem um centímetro.
“Você não conseguiria encontrar a casa”, ele explicou.
Faróis brilharam de repente atrás de nós. Eu olhei pra trás de nós, com os olhos arregalados de horror.
“É só Alice”, ele me assegurou. Ele pegou minha mão de novo.
Minha mente estava cheia de imagens de Charlie. “O perseguidor?”
“Ele ouviu o fim da sua performance”, ele disso severamente.
“Charlie?”, minha voz estava apavorada.
“O perseguidor nos seguiu. Ele está atrás de nós agora mesmo”.
Meu corpo ficou gelado.
“Nós podemos despistá-lo?”
“Não”, mas ele acelerou enquanto falava. O motor da caminhonete gemeu em protesto.
De repente, o meu plano já não parecia mais tão brilhante.
Eu estava olhando para os faróis de Alice quando a caminhonete balançou e uma sombra escura saltou do lado de fora da janela.
O grito percorreu a minha corrente sanguínea durante uma fração de segundo antes que Edward tapasse minha boca com a mão dele.
“É Emmett”.
Ele liberou a minha boca, e passou o braço ao redor da minha cintura.
“Está tudo bem, Bella”, ele prometeu. “Você vai ficar a salvo”.
Nós corremos pela cidade vazia em direção a auto-estrado que dava para o Norte.
“Eu não havia percebido que você estava tão chateada com a vida numa cidadezinha”, ele disse convencionalmente, e eu sabia que ele estava tentando me distrair. “Parecia que você estava se ajustando muito bem - especialmente recentemente. Talvez eu estivesse apenas me adulando por estar fazendo a vida mais interessante pra você”.
“Eu não estava sendo boazinha”, eu confessei, ignorando a sua tentativa de me divertir, olhando para os meus joelhos. “Foi exatamente aquilo que minha mãe disse quando deixou ele. Eu acho que você pode dizer que eu atingi abaixo da cintura”.
“Não se preocupe. Ele vai te perdoar”. Ele sorriu um pouco, apesar do sorriso não ter alcançado os olhos dele.
Eu olhei pra ele desesperadamente, ele viu o pânico que havia nos meus olhos.
“Bella, vai ficar tudo bem”.
“Mas não vai ficar tudo bem quando eu não estiver com você”, eu sussurrei.
“Nós estaremos juntos de novo em alguns dias”, ele disse, apertando o seu abraço em mim. “Não se esqueça que isso foi idéia sua”.
“Foi a melhor idéia - é claro que foi minha”.
Seu sorriso de resposta foi vazio e desapareceu rapidamente.
“Porque isso aconteceu?”, eu perguntei, minha voz era inquisitiva. “Porque comigo?”
Ele olhou com os olhos vazios para a estrada. “É minha culpa - eu fui um bobo de ter te exposto daquele jeito”. A raiva na voz dele era dirigida pra si mesmo.
“Não foi isso que eu quis dizer”, eu insisti. “Eu estava lá, grande coisa. Isso não incomodou os outros dois. Porque que esse James resolveu me matar? Tem, gente em tudo que é lugar, porque eu?”
Ele hesitou, pensando antes de responder.
“Eu dei uma boa olhada na mente dele esta noite”, ele começou com uma voz baixa. “Eu não tenho certeza de que havia alguma coisa que eu pudesse fazer pra evitar isso, uma vez que ele viu você. Isso é parcialmente sua culpa”. Sua voz estava torta. “Se você não cheirasse tão apavorantemente saborosa, talvez ele não tivesse se incomodado. Mas quando eu te defendi... bem, isso piorou muito as coisas. Ele não esta acostumado a ser contrariado, não importa o quanto o objeto seja sem importância. Ele se vê como um caçador e nada mais. Sua existência foi consumida por perseguições, e um bom desafio é tudo o que ele pede da vida. de repente nós apresentamos a ele um lindo desafio - um grande clã de criaturas poderosas todas inclinadas a proteger um elemento frágil. Você não acreditaria em como ele está eufórico agora. Esse é o jogo favorito dele, e nós fizemos o jogo ficar ainda mais interessante”. O tom dele estava cheio de repulsa.
Ele pausou por um momento.
“Mas se eu tivesse esperado, ele teria te matado lá mesmo”, ele disse com uma frustração desesperada.
“Eu achei... que não cheirava igual para os outros... como cheiro pra você”, eu disse hesitantemente.
“Você não cheira. Mas isso não significa que você também não seja tentadora para eles. Você é tão apelativa para o perseguidor - ou qualquer um deles - do mesmo jeito que você é apelativa pra mim, e isso teria gerado uma briga lá mesmo”.
Eu tremi.
“Eu não vejo outra escolha além de matá-lo agora”, ele murmurou. “Carlisle não vai gostar”.
Eu podia ouvir os pneus passando pela ponte, apesar de não conseguir ver o rio no escuro. Eu sabia que estávamos perto. Eu tinha que perguntar agora.
“Como se pode matar um vampiro?”
Ele olhou pra mim com olhos ilegíveis e com a voz repentinamente áspera. “A única forma de ter certeza é fazê-lo em fragmentos e queimar os pedaços”.
“E os outros dois vão lutar com ele?”
“A mulher vai. Eu não tenho certeza sobre Laurent. Eles não têm laços muito fortes- eles só estão juntos por conveniência. Ele ficou com vergonha de James na clareira...”
“Mas James e a mulher - eles vão tentar matar você?”, eu perguntei com a voz crua.
“Bella, não ouse perder seu tempo se preocupando comigo. Preocupe-se apenas com a sua própria segurança e - por favor, por favor - tente não ser descuidada”.
“Ele ainda está seguindo?”
“Sim. No entanto, ele não vai atacar a casa. Não essa noite”.
Ele virou na estrada invisível, Alice seguindo logo atrás.
Nós dirigimos até a casa. As luzes de dentro estavam brilhando, mas elas faziam muito pouco para aliviar a escuridão da floresta. Emmett abriu minha porta antes que a caminhonete estivesse parada; ele me tirou do banco, me agarrou como uma bola no seu peito largo, e me levou correndo pela porta.
Nós entramos na grande sala, Edward e Alice dos nossos lados. Todos eles já estavam lá; eles já estavam de pé com o som da nossa aproximação. Laurent ficou entre eles. Eu podia ouvir leves rugidos saindo da garganta de Emmett quando ele me colocou no chão ao lado de Edward.
“Ele está nos seguindo”, Edward anunciou, olhando diretamente pra Laurent.
O rosto de Laurent estava descontente. “Era isso que eu temia”.
Alice dançou até o lado de Jasper e cochichou no seu ouvido; seus lábios tremiam com a velocidade do seu discurso silencioso. Eles voaram pelas escadas juntos. Rosalie observou os dois, e então se moveu para o lado de Emmett. Seus lindos olhos eram intensos e - quando se fixaram em mim - furiosos.
“O que ele vai fazer?” Carlisle perguntou á Laurent com um tom arrepiante.
“Eu lamento”, ele respondeu. “Eu temia que quando o seu garoto defendeu ela, que isso iria irritá-lo”.
“Você pode pará-lo?”
Laurent balançou a cabeça. “Nada pode parar James depois que ele começa”.
“Nós vamos pará-lo”, Emmett prometeu. Não havia duvida que ele estava falando sério.
“Você não pode pará-lo. Eu nunca vi nada como ele em meus trezentos anos. Ele é absolutamente letal. Foi por isso que eu me juntei ao bando dele”.
O bando dele, eu pensei, é claro. O show de liderança não passava disso, um show.
Laurent estava balançando a cabeça. ele olhou pra mim e depois de volta pra Carlisle.
“Vocês têm certeza de que vale a pena?”
O rugido irado de Edward encheu a sala. Laurent deu um passo pra trás.
Carlisle olhou gravemente para Laurent. “Eu temo que você terá que fazer uma escolha”.
Laurent compreendeu. Ele pensou por um momento. Seus olhos passaram por todos os rostos, e finalmente varreram a sala clara.
“Eu estou intrigado pelo estilo de vida que vocês criaram aqui. Mas eu não vou me meter nisso. Eu não sou inimigo de nenhum de vocês, mas não vou me colocar contra James. Eu acho que vou para o Norte - visitar aquele clã em Denali”. Ele hesitou. “Não subestimem James. Ele tem uma mente brilhante e sensos fora do comum.
Ele está tão confortável no mundo dos humanos quanto vocês parecem estar, e ele não vai permitir que vocês se intrometam... eu lamento pelo que isso causou aqui. Lamento mesmo”. Ele fez uma reverência com a cabeça, mas eu vi quando ele lançou outro olhar confuso na minha direção.
“Vá em paz”. Foi a resposta formal de Carlisle.
Laurent deu outra olhada á sua volta, e então correu para a porta.
O silêncio durou menos de um segundo.
“Quão perto?”, Carlisle perguntou á Edward.
Esme já estava se mexendo; a mão dela tocou um teclado complementar acima de qualquer suspeita, e com um gemido, grandes venezianas de metal começaram a selar as paredes de vidro. Eu fiquei pasma.
“Á cerca de três milhas antes do rio; ele está circulando pra se encontrar com a fêmea”.
“Qual é o plano?”
“Nós vamos despistá-lo, e então Alice e Jasper levam ela para o sul”.
“E então?”
O tom de Edward era mortal. “Assim que Bella estiver longe, nós vamos caçá-lo”.
“Eu acho que não há outra escolha”, Carlisle concordou, seu rosto severo.
Edward se virou para Rosalie.
“Leve ela lá pra cima e troquem de roupas”. Edward comandou. Ela olhou pra ele com um olhar lívido de descrença.
“Porque eu deveria?”, ela falou. “O que ela é pra mim - além de uma ameaça que você escolheu pra soltar entre nós”.
Eu dei um passo pra trás pra me proteger do veneno da voz dela.
“Rose...”, Emmett murmurou, colocando uma mão no ombro dela. Ela afastou ele.
Mas eu estava observando Edward o tempo todo, conhecendo seu temperamento, preocupada com a reação dele.
Ele me surpreendeu. Ele desviou o olhar de Rosalie como se ela nem tivesse falado, como se ela nem existisse.
“Esme?”, ele pediu calmamente.
“É claro”, Esme murmurou.
Esme já estava ao meu lado em menos de um pulsar do meu coração, me colocando facilmente em seus braços e me levando pelas escadas antes que eu pudesse ficar chocada.
“O que nós estamos fazendo?”, eu perguntei sem fôlego enquanto ela me colocava em um quarto escuro em algum lugar no segundo andar.
“Tentando confundir o cheiro. Não vai funcionar por muito tempo, mas vai ajudar você na saída”. Eu podia ouvir as roupas dela caindo no chão.
“Eu não acho que vou caber...”, eu hesitei, mas as suas mãos já estavam abruptamente tirando a minha camisa. Eu rapidamente tirei meus jeans sozinha. Ela me passou alguma coisa que parecia como uma camisa. Eu lutei pra colocar os meus braços nos buracos certos. Assim que eu consegui ela me passou sua calça comprida. Eu coloquei elas mas não consegui tirar meus pés; elas eram longas demais. Ela inteligentemente enrolou as bainhas algumas vezes pra que eu pudesse ficar de pé. De alguma forma, ela já estava usando as minhas roupas. Ela me puxou de volta para as escadas, onde Alice estava esperando, uma pequena maleta de couro estava na mão dela. Cada uma delas agarrou um dos meus cotovelos e me carregaram enquanto voavam escadas abaixo.
Parecia que tudo já havia sido resolvido lá embaixo durante a nossa ausência. Edward e Emmett estavam prontos pra partir, Emmett carregava uma mala que parecia ser pesada sobre seu ombro. Carlisle estava passando algo pequeno para Esme. Ele se virou e passou a mesma coisa para Alice - era um pequeno celular prateado.
“Esme e Rosalie vão pegar a sua caminhonete, Bella”, ele disse enquanto passava por mim. Eu balancei a cabeça, olhando cautelosamente para Rosalie. Ela estava olhando para Carlisle com uma expressão ressentida.
“Alice, Jasper - levem a Mercedes. Vocês vão precisar dos vidros escuros no Sul”.
Eles também balançaram a cabeça.
“Nós vamos com o Jipe”.
Eu estava surpresa de ver que Carlisle pretendia ir com Edward. Eu me dei conta, com uma pontada de medo, que eles haviam planejado a festa da caçada.
“Alice”, Carlisle perguntou. “Eles vão morder a isca?”
Todo mundo olhou pra Alice quando ela fechou os olhos e ficou incrivelmente rígida.
Finalmente ela abriu os olhos. “Ele vai seguir vocês. A mulher vai seguir a caminhonete. Nós seremos capazes de partir depois disso”. A voz dela era resoluta.
“Vamos lá”, Carlisle começou a andar em direção á cozinha.
Mas Edward foi para o meu lado na hora. Ele me agarrou com o seu aperto de aço, me puxando contra ele. Ele pareceu não se dar de que a família dele estava olhando quando ele puxou meu rosto ao encontro do seu, fazendo meus pés saírem do chão. Pelo mais breve segundo, seus lábio estavam gelados e duros contra os meus. Então acabou. Ele me colocou no chão, ainda segurando meu rosto, seus olhos gloriosos queimando nos meus.
Seus olhos ficaram vazios, curiosamente mortos quando ele se virou me dando as costas.
E eles foram embora.
Nós ficamos lá, os outros olhando em outras direções enquanto lágrimas silenciosas rolavam pelo meu rosto.
O momento de silêncio permaneceu, e então o telefone de Esme vibrou na mão dela. Ele voou para o seu ouvido.
“Agora”, ela disse. Rosalie foi saindo pela porta sem outro olhar em minha direção,mas Esme tocou minha bochecha enquanto passava por mim.
“Fique segura”. O sussurro dela continuou no ar enquanto elas saiam pela porta. Eu ouvi minha caminhonete começar a funcionar ruidosamente, e então ir embora.
Jasper e Alice esperaram. O telefone de Alice já parecia estar em sua ouvido antes mesmo de vibrar.
“Edward disse que a mulher está na cola de Esme. Eu vou pegar o carro”. Ela sumiu por dentro das sombras por onde Edward havia saído.
Jasper e eu olhamos um para o outro. Ele ficou na entrada longe de mim... sendo cuidadoso.“Você está errada, sabe”. Ele disse baixinho.“O que?”, eu me engasguei.“Eu posso sentir como você se sente no momento - e você vale a pena”.“Não valho não”, eu murmurei. “Se algo acontecer á eles, terá sido por nada”.“Você está errada”, ele repetiu, sorrindo carinhosamente pra mim.Eu não ouvi nada, mas do nada Alice entrou na sala pela porta da frente com os braços abertos pra mim.“Posso?”, ela perguntou.“Você é a primeira a pedir permissão”, eu dei um sorriso torto.Ela me levantou nos seus braços esguios tão facilmente quanto Emmett, se curvando protetoramente sobre mim, e então nós voamos pela porta, deixando as luzes brilhantes pra trás.
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