sábado, 14 de março de 2009

Crepusculo (Stephenie Meyer) 7ª part

7. Pesadelo
Eu disse a Charlie que tinha um monte de dever de casa pra fazer, e que não queria nada pra comer. Havia um jogo de Basquete sobre o qual ele tava todo exitado, apesar de que eu não conseguia imaginar o que havia de tão especial sobre isso, então ele não estava prestando atenção em nada diferente no meu rosto ou no meu tom.Quando eu cheguei no meu quarto, eu tranquei a porta. Eu cavei na minha mesa até encontrar meus velhos fones, e pluguei eles no meu CD player. Eu peguei um CD que Phil havia me dado de Natal. Era de uma das minhas bandas favoritas, mas eles usaram baixo e agudo demais pro meu gosto. Eu o coloquei no lugar e deitei na cama. Eu coloquei os fones, apertei Play, e aumentei o volume até que machucou os meus ouvidos. Eu fechei meus olhos, mas a luz ainda incomodava, então eu coloquei um travesseiro em cima do meu rosto.Eu me concentrei bem calmamente na música, tentando entender a letra, para desvendar os complicados padrões da bateria. Na terceira vez que eu ouví o CD, eu conhecia pelo menos as letras dos refrões. Eu estava surpresa de ver que no fim eu realmente gostei da banda, assim que eu conseguí ultrapassar o barulho. Eu teria que agradecer ao Phil mais um vez.E funcionou. O barulho perturbador tornou impossível pensar - que era o propósito da tentativa. Eu ouví o Cd de novo e de novo, até que eu estava acompanhando todas as músicas, até que, finalmente, eu peguei no sono.Ei abrí meus olhos num lugar familiar. Consciente em algum lugar da minha mente de que eu estava sonhando, eu reconhecí a luz verde da floresta. Eu podia ouvir as ondas batendo nas rochas em algum lugar próximo. E eu sabia que se eu encontrasse o oceano, eu encontraria o sol, mas então, Jacob Black estava lá, apertando a minha mão, me levando de volta para a parte escura da floresta."Jacob? Qual é o problema?", eu perguntei. Seu rosto estava assustado enquanto ele lutava com todas as suas forças contra a minha resistência; eu não queria voltar para o escuro.
"Corra, Bella, você precisa correr", ele cochichou, aterrorizado.
"Por aqui, Bella" eu ouvia a voz de Mike me chamando por dentro das árvores escuras, mas eu não conseguia vê-lo.
"Porque?", eu perguntei, ainda lutando contra Jacob, agora desesperada para achar o sol.
Mas Jacob largou a minha mão e ganiu, tremendo de repente, caindo no chão escuro da floresta. Ele se contorcia enquanto eu observava cheia de horror.
"Jacob!", eu gritei. Mas ele tinha sumido. Em seu lugar havia um grande lobo com um pêlo marrom-avermelhado com olhos pretos. O lobo foi pra longe de mim, em direção á costa, os pêlos nos seus ombros estavam eriçados, leves urros saindo entre os seus caninos expostos.
"Bella, corra", Mike chamou de novo atrás de mim. Mas eu não me virei. Eu estava vendo uma luz se aproximar de mim vindo da praia.
Então Edward saiu de dentro das árvores, sua pele brilhando fracamente, seus olhos negros e perigosos. Ele levantou uma mão e me convidou a ir com ele.
O lobo ganiu á meus pés.
Eu dei um passo, indo na direção de Edward.
"Confie em mim", ele pediu.
Eu dei outro passo.
O lobo se lançou no espaço entre eu e o vampiro, os caninos virados na direção da jugular.
"Não!", eu acordei pulando na minha cama.
Meu movimento súbito fez com que os fones puxassem o CD player da mesa e ele fez um ruído enorme no chão de madeira.
Minha luz ainda estava acesa, e eu estava completamente vestida na cama, de sapatos. Eu olhei, desorientada, para o relógio na minha penteadeira. Eram cinco e meia da manhã.
Eu gemí, caí pra trás, e rolei sobre o meu rosto, chutando as minhas botas. Mesmo assim, eu estava desconfortável demais pra chegar em qualquer lugar próximo do sono. Eu rolei de volta e desabotoei o meu jeans, tirando eles de uma forma estranha enquanto eu tentava ficar na horizontal. Eu podia sentir a trança no meu cabelo, um volume desconfortável contra o meu crânio. Eu me virei de lado e tirei o elástico, rapidamente desfazendo a trança com os meus dedos. Eu coloquei o travesseiro sobre os meus olhos.
Foi inútil, é claro. Meu subconsciente havia drenado todas as imagens que eu estava tentando evitar tão desesperadamente. Eu ía ter que enfrentá-las agora.
Eu sentei, minha cabeça rodou um pouco enquanto o sangue descia. Primeiras coisas primeiro, eu pensei comigo mesma, feliz por adiar aquelas coisas pelo máximo de tempo possível. Eu levei minha bolsa para o banheiro.
O banho, porém, não demorou tanto quanto eu esperava. Mesmo demorando para secar meu cabelo, eu logo estava sem coisas pra fazer no banheiro. Eu me enrolei numa toalha e fui para o meu quarto. Eu não sabia se Charlie ainda estava dormindo ou se já havia saído. Eu fui olhar pela janela, a viatura não estava mais lá.
Pescaria de novo.
Eu me vestí lentamente com o meu sweater mais confortável e então arrumei minha cama - algo que eu nunca fiz. Eu não podia mais adiar. Eu fui para a minha mesa e liguei meu velho computador.
Eu odiava usar a Internet aqui. Meu modem era tristemente ultrapassado, meu serviço grátis era inferior; só a conexão demorou tanto que eu decidí ir buscar um tigela de cereal para mim enquanto eu esperava.
Eu comí vagarosamente, mastigando cada pedaço cuidadosamente. Quando eu terminei eu lavei a tigela e a colher, sequei os dois e guardei. Meus pés se arrastavam enquanto eu subia pela escada. Eu fui até o meu CD player primeiro, pegando ele do chão e colocando-o precisamente no centro da mesa. Eu tirei os fones, e então os guardei na gaveta da mesa. Então eu liguei o Cd, colocando nas músicas mais barulhentas.
Com outro suspiro, eu me virei para o computador. Naturalmente a tela estava lotada de pop-ups. Eu sentei na minha cadeira e comecei a fechar todas as janelinhas. Eventualmente eu conseguí entar no meu site de buscas favorito. Eu fechei mais algund pop-ups e digitei uma só palavra.
Vampiro.
Levou um tempo enlouquecedor, é claro. Quando os resultados apareceram, havia muito o que peneirar -tudo de filmes e programas de Tv á jogos de Vídeo-game, bandas de metal, e companias de cosméticos góticas.
Então eu achei um site que parecia promissor - Vampiros de A á Z.
Eu esperei pacientemente até que ele baixasse, clicando rapidamente em todas as janelinhas que apareciam na tela. Finalmente a tela estava completa - um fundo branco simples com letras pretas, com escrita acadêmica. Duas frases me saudaram na página inicial:
Pelo vasto mundo obscuro dos fantasmas e demônios não existe figura tão terrível, nenhuma figura tão horripilante e detestável, mesmo assim causadora de tal fascinação, como o vampiro, que é nem fantasma nem demônio,mas ainda assim, divide a natureza obscura e possue as terríveis e misteriosas qualidades de ambos.-
Reverendo Montague Sommers.

Se existe no mundo uma coisa tão bem-atestada, essa coisa são os vampiros.
Provas não faltam - entrevistas oficiais, testemunhos de pessoas conhecidas, de cirurgiões, de padres, de magistrados; as provas judiciais são mais completas. E com tudo isso, quem é que não acredita em vampiros?-
Rousseau

O resto do site era uma lista em ordem alfabética dos diferentes mitos envolvendo vampiros ao redor do mundo. O primeiro no qual eu cliquei, o Danag, era um vampiro das Filipinas supostamente responsável por trazer o tarô para as ilhas há muito tempo atrás. O mito ainda contava que Danag trabalhou com os humanos durante muitos anos, mas a parceria acabou quando uma mulher cortou o seu dedo e o Danag sugou toda a sua vitalidade, gostando tanto do sabor do seu sangue que acabou drenando totalmente o sangue do seu corpo.
Eu lí cuidadosamente todas as descrições, procurando por alguma coisa que me parecesse familiar, pra não dizer plausível. Parecia que a maioria das histórias de vampiros possuiam lindas mulheres como demônios e crianças como vítimas; eles pareciam querer criar histórias para explicar os altos índices de mortalidade entre as crianças, e criar para os homens uma boa desculpa para serem infiéis.
Muitas das histórias envolviam espíritos desencarnados e avisos sobre enterros impróprios.
Nada se parecia muito com o que eu via nos filmes, só alguns poucos, como o Hebreu Estrie e o polonês Upier, que ocasionalmente estavam ocupados bebendo sangue.
Só três links me chamaram a atenção: O romênio Varacolaci, um morto-vivo poderoso, que podia aparecer como um humano lindo, com a pele pálida; o Eslovaco Nelapsi, uam criatura tão forte e veloz que pode um vilarejo inteiro em apenas uma hora depois da meia-noite; e um outro, o Stregoni benefici.
Sobre esse havia penas uma breve frase.
Stregoni benefici: Um vampiro italiano, destinado a ser do lado do bem, e inimigo mortal dos vampiros maus.
Era um alivio, aquele link, o único mito que aclamava a existência de vampiros do bem.
No geral, porém, havia pouco que coincidisse com as histórias de Jacob ou com as minhas próprias observações. Eu fiz um pequeno catálogo na minha mente enquanto eu lía e cuidadosamente comparava cada mito. Velocidade, força, beleza, pele pálida, olhos que mudam de cor. E então o critério de Jacob: bebedores de sangue, inimigos dos lobisomens, peles frias e imortais.
Havia muito poucos mitos que se encaixavam em cada fator.
E então, outro problema, que eu lembrei de um pequeno número de filmes que eu havia assitido e que foi trazido á tona pela leitura de hoje - vampiros não devaim poder sair de dia, o sol poderia transaformá-los em cinzas. Eles dormem em caixões o dia inteiro e só saem á noite.
Importunada, eu desliguei o computador no botão pricipal, sem esperar pra que ele desligasse apropriadamente. Apesar da minha irritação, eu estava extremamente envergonhada. Era tudo tão estúpido. Eu estava sentada no meu quarto, pesquisando sobre vampiros. O que é que havia de errado comigo? Eu decidí que grande parte da culpa estava na entrada de Forks - uma península inteira, pra falar a verdade.
Eu queria sair de casa, mas não havia nenhum lugar que eu quisesse ir que ficasse a menos de três dias de viagem de carro.
Eu calcei as minhas botas mesmo assim, sem ter certeza de pra onde eu iria, e descí as escadas. Eu vestí o meu casaco de chuva sem olhar o clima e saí porta á fora.
Estava nublado, mas ainda não estava chuvendo. Eu ignorei minha caminhonete e comecei a avançar á norte a pé, virando no quintal de Charlie e andando em direção á floresta. Não demorou muito até que eu já estivesse longe o suficiente da casa pra não ver mais a estrada, pra que o único som audível fosse o som dos meus passos na terra e as gotas de orvalho que caiam das copas.
Havia um leve rastro da trilhas que guiava o caminho pra dentro da floresta, de outra forma eu jamais me arriscaria a ir lá sozinha daquele jeito. Meu senso de direção era desastroso; eu podia me perder em lugares muito mais seguros. A trilha continuava mais e mais funda dentro da floresta, mais longe do que eu podia dizer. Ela passava pelas árvores ordenadas e pelas cicutas, pelas madeiras de teixos e pelos arbustos. Eu só conhecia vagamente as árvores ao meu redor, e o que eu sabia era só de ver Charlie apontando elas pra mim da viatura há anos atrás. Muitas delas eu não conhecia, outras delas eu não tinha como ver porque elas estava completamente cobertas de parasitas verdes.
Eu seguí na trilha tão longe quanto a minha raiva me levou. Quando ela começou a abrandar, eu diminuí o ritmo. Algumas gotas cairam em mim da árvore sobre minha cabeça, mas eu não sabia dizer se era de uma chuva que estava começando ou do orvalho de ontem, que estava nas folhas, que agora estavam lentamente voltando para a terra. Uma árvore recentemente derrubada - eu sabia que era recente porque ela ainda não estava completamente coberta de musgos - descansava sobre o tronco de outra das suas irmãs, criando um banquinho a apenas uns poucos passos da trilha. Eu passei pelos galhos e cuidadosamente, me certificando de que a minha jaqueta estava entre o ascento sujo e as minhas roupas onde quer que elas tocassem, e inclinei minha cabeça protegida com o capuz contra a árvore ainda em pé.
Esse foi o lugar errado pra vir. Eu devia ter advinhado, mas onde mais eu poderia ter ido? A floresta era de um verde escuro e se parecia demais com a cena do sonho de ontem pra permitir á minha mente um pouco de paz. Agora que já não havia mais os sons de passos, o silêncio era penetrante.
Os pássaros estavam quietos, também, e as gotas caiam com uma certa frequência, então devia ser a chuva. As samambaias ficavam mais altas que eu, agora que eu estava sentada, e eu sabia que alguém podia andar entre os troncos a três passos de distância e não me enxergar.
Aqui entre as árvores era muito mais fácil acreditar nos absurdos que haviam me deixado envergonhada em casa.
Nada mudou nesse floresta por milhares de anos, e todos os mitos e lendas de centenas de locais diferentes me pareciam muito mais possíveis aqui do que no meu quarto.
Eu me forcei a focar nas duas perguntas mais vitais que eu tinha que responder, mas eu fiz isso sem vontade.
Primeiro, eu tinha que decidir se a história que Jacob me contou sobre os Cullen podia ser verdade.
Imediatamente minha mente respondeu com um ressonante não. Era ridículo e mórbido pensar em tais coisas. Mas o que, então? Eu perguntei a mim mesma.
Não havia nenhuma explicação razoável que explicasse como eu estava viva nesse momento. Eu escutei mais uma vez na minha cabeça as coisas que eu observei sozinha: a incrível velocidade, a força, os olhos mudando de preto pra dourado e preto de novo, a beleza inumana, a pele pálida, gelada. E mais - pequenas coisas que se registraram lentamente - como eles nunca comiam, a graça perturbadora com a qual se movimentevam. E o jeito como eles falavam, com um sotaque pouco familiar e frases que se encaixariam melhor num romance da virada do século do que numa sala de aula do século vinte e um.
Ele faltou à aula no dia em que fariamos o teste sanguínio. Ele não disse que não iria para a praia até que eu disse pra onde íamos. Ele parecia saber o que todos ao redor dele estavam pensando... Exceto eu.
Ele haviam me dito que o vilão, perigoso...
Poderiam os Cullen ser Vampiros?
Bem, eles eram alguma coisa. Alguma coisa fora das possibilidades de justificações rationais estava acontecendo diante dos meus olhos incrédulos. Fossem os frios de Jacob ou as minhas teorias sobre super-heróis, Edward Cullen não era...Humano.
Ele era algo mais.
Então - talvez. Essa seria a minha única resposta sobre o assunto no momento.
E então a pergunta mais importante de todas. O que é que eu ia fazer se fosse verdade?
Se Edward fosse vampiro - eu mal podia me forçar a pensar nas palavras - então o que eu deveria fazer? Envolver outra pessoa estava absolutamente fora de questão. Nem eu mesma conseguia acreditar; ninguém a quem eu contasse ia me dar bola.
Só duas opções pareciam práticas. A primeira era seguir o conselho dele: ser inteligente evitá-lo tanto quanto fosse possível. Cancelar os nossos planos, e voltar a ignorá-lo o máximo que eu pudesse. Fingir que havia uma parede de vidro impenetrável nos separando na aula quando éramos forçados a ficar juntos. Dizer pra ele me deixar em paz - e falar sério dessa vez.
Eu estava presa num repentino sentimento de agonia quando pensei nessa alternativa. Minha mente rejeitou a dor, rapidamente me levando á próxima opção.
Eu não podia fazer nada de diferente. Afinal, se ele era algo...sinistro, até agora ele não fez nada pra me machucar. Na verdade, Tyler teria muito do que se arrepender se ele não tivesse agido tão rápido. Tão rápido, eu discutí comigo mesma, que pode ter sido simplesmente uma questão de reflexos. Mas se eram reflexos que salvavam vidas, não podia ser tão ruim. Eu considerei. Minha cabeça girava sobre eixos invisíveis.
De uma coisa eu tinha certeza, se é que eu tinha certeza de alguma coisa. O Edward obscuro nomeu sonho da noite passada foi só um reflexo meu medo das palavras de Jacob, e não de Edward.
Mesmo assim, quando eu gritei aterrorizada por causa do ataque do lobisomem, não foi o medo do lobo que fez o "não" brotar dos meus lábios. Foi o medo que ele pudesse se machucar - mesmo quando ele me chamou com os caninos expostos, eu temí por ele.
E eu sabia que aí estava a minha resposta. Eu não sabia nem se havia outra escolha, na verdade. Eu já estava envolvida demais. Agora que eu sabia- se eu sabia - eu não podia fazer nada sobre os meus segredos assustadores. Porque quando eu pensava nele, na voz dele, nos seus olhos hipnóticos, a força magnética de sua personalidade, eu não queria nada além de estar com ele agora mesmo.
Mesmo se... Mas eu não conseguia pensar nisso agora. Não aqui, na floresta escura, não quando a chuva fazia tudo escurecer como o crepúsculo sobre as copas das árvores e pareciam com passos no chão de terra. Eu tremí e me levantei rapidamente do meu local de ocultação, preocupada que de alguam forma a trilha tivesse desaparcido com a chuva.
Mas estava lá, a salvo e clara, seguindo o seu caminho pelo labirinto respingante.
Eu a seguí apressadamente, meu capuz próximo do meu rosto, me surpreendendo, quando quase me batia nas árvores, com o quanto havia ido longe. Eu comecei a imaginar se eu realmente estava saíndo de la,ou me embrenhando ainda mais nos confins da floresta. Antes que eu tivesse um ataque de pânico, porém, eu comecei a reparar em alguns espaços entre as teias de galhos. E então eu ouví um carro passando na rua, e eu estava livre, a grama de Charlie se estendia na minha frente, a casa de recebendo, prometendo calor e meias secas. Era só meio dia quando eu entrei. Eu subí e me vestí para o resto do dia, jeans e uma camiseta, já que eu ia ficar me casa. Eu não tive que me esforçar muito pra me concentrar na tarefa do dia- um trabalho sobre Macbeth que era pra ser entregue na quarta-feira. Eu me concentrei no perfil do duro projeto contentemente, mais serena do que eu me sentia desde...bem, desde a última quinta-feira, pra ser honesta
Esse sempre foi meu jeito, de qualquer forma. Tomar decisões era a parte difícil pra mim, isso eu tinha que reconhecer. Mas uma vez que a decisão estivesse tomada, eu simplesmente fazia o que tinha que ser feito- geralmente aliviada por ter tomado uma decisão. Ás vezes o alivio era corrompido pelo desespero, como a minha decisão de vir pra Forks. Mas isso era melhor do que degladiar com as alternativas.
Essa era uma decisão ridiculamente fácil de aceitar. Perigosamente fácil.
Então o dia estava quieto, produtivo - eu terminei o meu trabalho antes das oito.
Charlie chegou com uma bela captura, e eu fiz um lembrete mental para comprar um livro de receitas pra peixes quando eu fosse pra Seattle na semana que vem. Os calafrios que percorriam a minha espinha toda vez que eu pensava nesa viagem não eram diferentes dos que eu tinha antes da história de Jacob Black. Eles deveriam ser diferentes, eu pensei. Eu devia ter medo - eu sabia que devia, mas eu não conseguia sentir o tipo certo de medo.
Eu não sonhei naquela noite, exausta por ter começado o meu dia tão cedo, e ter dormido tão mal durante a noite. Eu acordei, pela segunda vez desde que eu cheguei em Forks, com o brilho amarelo de um dia de sol. Eu fui olhar pela janela, aturdida por ver que mal havia uma nuvem no céu, e aquelas que haviam eram só pedacinhos macios de algodão que não poderiam estar carregando chuva alguma. Eu abrí a janela, surpresa por ela ter aberto tão facilmente, sem emperrar, mesmo sem ter sido aberta em todos esses anos - e suguei o ar relativamente seco.
Estava quase quente e quase não ventava. Meu sangue pulsava elétrico nas veias.
Charlie estava terminando o café da manhã quando eu descí, e ele percebeu o meu humor imediatamente.
"Belo dia lá fora". Ele comentou.
"Sim", eu concordei com um sorriso.
Ele sorriu de volta, seus olhos castanhos se enverrugando nos cantos. Quando Charlie sorría era mais fácil perceber porque minha mãe havia aceitado se casar tão rápido.
Grande parte daquele jovem romântico havia desaparecido antes que eu tivesse nascido, como o cabelo castanho e cacheado- mesma cor, se não textura dos meus- tinham sumido, lentamente revelando mais e mais a pele brilhante da testa dele. Mas quando ele sorria, eu podia ver um pouco do homem que fugiu com Renée quando ela não era nem dois anos mais velha do que eu sou agora.
Eu tomei meu café da manhã alegremente, observando as partículas de poeira que apareciam por causa da luz do sol que entrava pela janela de trás. Charlie deu adeus, e eu ouví a viatura se afastar de casa. Eu hesitei na porta de casa, a mão na minha jaqueta. Deixá-la em casa era tentador. Com um suspiro, eu a embrulhei no braço e saí para a luz brilhante que eu já não via há meses.
Á custo de cotovêlos melados de graxa, eu conseguí abrir as duas janelas da minha caminhonete quase completamente. Eu fui uma das primeiras a chegar na escola; eu nem tinha olhado para o relógio na minha pressa de sair. Eu estacionei e me dirigí para os bancos de piquenique raramente utilizados, no lado sul da cafeteria. Os bancos ainda estavam um pouco sujos, então eu sentei na minha jaqueta, feliz por dar um uso a ela. Meu dever de casa já estava terminado- resultado de uma vida social desgraçada - mas haviam alguns problemas de Trigonometria que eu não sabia se estavam certos. Eu peguei meu livro cheia de vontade de trabalhar, mas na metade do primeiro problema eu já estava sonhando acordada, olhando a luz do sol brincar com as árvores e suas casacas vermelhas.
Eu olhava desatentamente para as margens do meu dever de casa. Depois de alguns minutos, eu me dei conta de que havia desenhado cinco pares de olhos pretos me olhando pela página. Eu os apaguei com uma borracha.
"Bella!", eu ouví alguém chamar, e parecia ser Mike.
Eu olhei em volta para me dar conta de que a escola já estava cheia enquanto eu estava sentada aqui, ausente. Todo mundo estava usando camisetas, alguns até de shorts, apesar de a temperatura não estar acima dos 18 graus.
Mike estava vindo na minha direção vestindo bermudas Khaki e uma camisa de Rúgby listrada, acenando.
"Ei, Mike", eu cumprimentei, acenando de volta, incapaz de ser pouco receptiva numa manhã como essa.
Ele veio se sentar ao meu lado, os seus cabelos arrepiados tinham uma brilhante cor dourada no sol, um sorriso rasgando o seu rosto. Ele estava tão contente em me ver que eu não pude deixar de me sentir gratificada.
"Eu não tinha reparado antes - o seu cabelo é um pouco rúivo", ele comentou, pegando entre os dedos uma mecha que estava flutuando com a brisa suave.
"Só no sol".
Eu fiquei um pouco desconfortável quando ele colocou a mecha atrás da minha orelha.
"Belo dia, não é?”.
"Meu tipo de dia", eu concordei.
"O que você fez ontem?", o tom dele era provavelmente muito autoritário.
"Eu trabalhei no meu projeto”.Eu não mencionei que já havia acabado - não havia necessidade de parecer presumida.
Ele bateu na testa com a mão. "Oh, é -é pra quinta-feira, não é?”.
"Umm, quarta, eu acho”.
"Quarta?" Ele fez uma careta. "Isso não é bom... O que você está escrevendo no seu?”.
"Se o tratamento de Shakespeare para com as mulheres era misógino".
Ele me encarou como se eu tivesse falado em Latin.
"Eu acho que terei que trabalhar nisso hoje á noite", ele disse, vazio. "Eu ia te perguntar se você queria sair".
"Oh", eu fui pega fora de guarda. Porque eu não podia mais conversar com Mike sem a situação ficar estranha?
"Bom, nós podíamos sair pra jantar ou alguma coisa assim... e eu podia trabalhar nisso depois", ele sorriu pra mim esperançosamente.
"Mike", eu odiava ser colocada contra a parede. "Eu acho que não é a melhor idéia".
O rosto dele desmoronou. "Porque não?”, ele perguntou, seus olhos cuidadosos. Meus pensamentos foram parar em Edward, imaginando se era nisso que ele estava pensando também.
"Eu acho... e se você repetir isso em outro lugar eu vou te espancar até a morte", eu ameacei. "Mas eu acho que machucaria os sentimentos de Jéssica”.
Ele estava desnorteado, obviamente ele não havia pensado nisso. "Jéssica?”.
"Sério, Mike, você é cego?”.
"Oh", ele exalou - claramente confuso. Eu me aproveitei disso pra fazer a minha fuga.
"É hora da aula, eu não posso me atrasar de novo", eu agarrei os meus livros e os enfiei na minha mochila.
Nós caminhamos em silêncio até a sala de aula, e a expressão dele estava distraída. Eu esperava que fossem quais fossem esses sentimentos nos quais ele estava inundado, que eles o levassem para a direção correta.
Quando eu ví Jéssica em trigonometria, ela estava estourando de entusiasmo. Ela, Angela, e Lauren estavam indo á Port Angeles esta noite pra comprar vestidos para o baile, e ela queria que eu fosse também, apesar de eu não precisar de um vestido. Não havia o que decidir. Podia até ser legal sair da cidade com algumas amigas, mas Lauren estaria lá. E quem sabe o que eu poderia estar fazendo nessa noite... Mas definitivamente não erame envolver nesse tipo de situação. É claro que eu estava feliz com o sol. Mas esse não era o único responsável pelo meu humor eufórico, nem de perto.
Então eu dei a ela um talvez, dizendo a ela que eu teria que falar com Charlie antes.
Ela não falou de nada alkém do baile no caminh para a aula de Espanhol, continuando depois da aula como se nem tivesse sido interrompida, cinco minutos depois estávamos indo almoçar. Eu estava preocupada demais com os meus próprios pensamentos pra pensar no que ela estava dizendo. Eu estava dolorosamente ansiosa pra ver não só ele, mas todos os Cullen - pra compará-los ás novas suspeitas que estavam na minha mente. Enquanto eu cruzava a entrada da cafeteria, eu sentí o primeiro formigamento de medo descer a minha espinha e se alojar no meu estômago. Será que eles tinham como adivinhar o que eu estava pensando? E então eu tive um outro formigamento - será que Edward estaria esperando pra sentar comigo?
Como de costume, eu olhei para a mesa dos Cullen. Um arrepio de pânico fez meu estômago tremer quando eu percebí que ela estava vazia.
Com um resto de esperança eu vasculhei o resto da cafeteria, esperando encontrá-lo sozinho, esperando por mim.
O lugar estava praticamente lotado - nós nos atrasamos em Espanhol - mas não havia sinal de Edward ou de ninguém da sua família. A desolação me atingiu com uma força devastadora.
Eu cambaleei ao lado de Jéssica, sem me importar mais em fingir que estava prestando atenção.
Nós estavamos atrasadas o suficiente pra encontrar todo mundo na nossa mesa. Eu evitei uma cadeira vazia ao lado de Mike e preferí me sentar ao lado de Angela. Eu vagamente reparei que Mike segurou a cadeira educadamente pra Jéssica se sentar, e o rosto dela se iluminou em resposta.
Angela perguntou algumas sobre o trabalho sobre Macbeth, que eu respondí tão naturalmente quanto pude enquanto mergulhava em sofrimento. Ela, também, me convidou para sair essa noite com elas, e agora eu concordei, me agarrando em qualquer coisa que me distraísse.
Eu me dei conta de que estava agarrando a última ponta de esperança quando entrei na aula de Biologia, ví o lugar vazio, e me deixei levar por outra onda de desapontamento.
O resto do dia passou devagar, sem graça. Na Educação Física, nós tivemos uma palestra sobre os princípios do Badminton, a próxima tortura á qual eles iam me expor. A melhor parte foi que o treinador não chegou a terminar, então amanhã eu teria outro dia livre. Não importa que depois desse dia eles iam me armar com uma raquete antes de me soltar no resto dos estudantes.
Eu estava feliz em deixar a escola, então eu podia fazer beicinho e me lastimar livremente antes de sair com Jéssica e companhia.
Mas logo que eu entrei na casa de Charlie, Jéssica ligou pra cancelar os nossos planos. Eu tentei parecer feliz por Mike ter convidado ela para jantar - eu realmente estava feliz que ele finalmente parecia estar entendendo - mas o meu entusiasmo pareceu falso até para os meus próprios ouvidos. Ela remarcou as compras para amanhã.
O que me deixou com poucas escolhas no que se trata de distrações.
Eu tinha peixe marinando para o jantar, com salada e pão que sobrou da noite passada, então não havia nada pra fazer nesse aspecto. Eu passei meia hora concentrada no dever de casa, mas depois eu já estava de saco cheio disso também. Eu chequei meu E-mail, lendo milhares de cartas antigas da minha mãe, ficando mais animada enquanto elas progrediam para o presente. Eu suspirei e digitei uma resposta rápida.

MÃE,
DESCULPE. EU ESTIVE FORA. EU FUI Á PRAIA COM ALGUNS AMIGOS. E TIVE QUE FAZER UM TRABALHO.

Minhas desculpas era honestamente patéticas, então eu desistí.

HOJE ESTÁ FAZENDO SOL LÁ FORA - EU SEI, EU TAMBÉM ESTOU CHOCADA - ENTÃO EU VOU LÁ FORA PARA SUGAR TODA A VITAMINA D QUE EU PUDER. EU AMO VOCÊ.
BELLA.

Eu decidí matar um hora com leitura não-relacionada com a escola. Eu tinha uma pequena coleção de livros que eu trouxe comigo pra Forks,o maior volume se tratava de um apanhado das obras de Jane Austen. Eu selecionei um e me dirigí para o quintal, levando uma colcha antiga que havia no armário.
No quintal pequeno, quadrado de Charlie, eu dobrei a colcha no meio e deitei na sombra das árvores na grama aparada que sempre seria um pouco úmida, não importava quanto o sol brilhasse.
Eu deitei sobre o estômago, cruzando os tornozelos no ar, passando os livros tentando decidir qual deles eu escolheria. Os meus favoritos eram Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade. Eu tinha lido o primeiro mais recentemente, então eu comecei com Razão e Sensibilidade, só par me lembrar que o herói da história se chamava Edward, com raiva, eu abri Mansfield Park, mas o herói desse livro se chamava Edmund, que era perto o suficiente.
Não haviam outros nomes disponíveis no século dezoito? Eu fechei o livro, aborrecida, e me virei de costas. Eu não pensaria em mais nada além do calor na minha pele, eu disse a mim mesma severamente. A briza ainda estava leve, mas fez as mechas do meu cabelo soprarem no meu rosto, e isso fez um pouco de cócegas.
Eu joguei o meu cabelo pra cima da minha cabeça, deixando ele descansar na colcha embaixo de mim, e me concentrei de novo no calor que tocava os meus cílios, as maçãs do meu rosto, meu nariz, meus lábios, meus braços, meu pescoço, que passava pelo pano da minha camiseta leve...
A próxima coisa da qual eu tive consciência foi do som da viatura de Charlie, virando nos tijolos da entrada. Eu sentei supresa, me dando contade que a luz havia ido embora, por trás da árvores, e que eu tinha pego no sono. Eu olhei ao redor, confusa, com o sentimento de que eu não estava mais sozinha.
"Charlie?", eu perguntei, mas eu podia ouvir a porta da frente batendo.
Eu levantei rápido, tolamente atordoada, juntando a colcha suja e os meus livros.
Eu corrí pra dentro pra colocar óleo pra ferver na frigideira, percebendo que o jantar ia atrasar.
Charlie estava pendurando o seu cinturão e tirando as botas quando eu entrei.
"Desculpa, pai, o jantar ainda não está pronto- eu peguei no sono lá fora", eu repremí um bocejo.
"Não se preocupe", ele disse. "Eu queria saber o placar do jogo, mesmo."
Eu assistí TV com Charlie depois do jantar pra ter alguma coisa pra fazer. Não havia nada interessante pra assistir, mas ele sabia que eu não gostava de beiseball, então ele colocou num canal bobo que nem um de nós gostava. Apesar disso, ele pareceu feliz, por estarmos fazendo alguma coisa juntos. E foi bom, a despeito da minha depressão, deixá-lo feliz.
"Pai", eu disse durante os comerciais, "Jéssica e Angela vão procurar vestidos para o baile amanhã em Port Angeles, e elas querem que eu as ajude a escolher... você se importa se eu for com elas?”.
"Jéssica Stanley?”, ele perguntou.
"E Angela Weber". Eu suspirei quando tive que lhe passar os detalhes.
Ele estava confuso. "Mas você não vai para o baile, não é?”.
"Não, pai, eu vou ajudar elas a encontar os vestidos - você sabe, vou dar críticas construtivas". Eu não teria que explicar isso para uma mulher.
"Bem, Ok". Ele pareceu perceber que era uma coisa do departamento feminino.
"Mas é dia de semana".
"Nós vamos sair logo depois da aula, assim poderemos voltar cedo. Você dá um jeito no jantar, não é?”.
"Bella, eu conseguíme alimentar por dezessete anos antes de você vir pra cá", ele me lembrou.
"Eu não sei como você conseguiu sobreviver", eu murmurei, e então adicionei mais claramente, "Eu vou deixar algumas coisas pra você preparar um sanduíche na geladeira, tá bom? Bem em cima".
Estava ensolarado de novo no outro dia. Eu acordei com renovada esperança que eu inutilmente tentei reprimir. Eu tentei me vestir para o clima mais ameno com uma blusa com um decote em formato de V - algo que eu usava no inverno em Phoenix.
Eu planejei tanto a minha entrada na escola que mal tive tempo de chegar á sala de aula.
Com o coração vazando, eu circulei o estacionamento procurando por uma vaga, enquanto procurava pelo Volvo prateado que claramente não estava lá. Eu estacionei no último corredor, correndo para a aula de Inglês, chegando sem fôlego, mas vitoriosa, antes do sinal tocar.
Estava igual a ontem- eu não conseguia evitar os brotos de esperanças que se semeavam na minha mente, só pra que depois eles fossem dolorosamente esmagados enquanto eu procurava por ele no almoço ou quando sentava na minha mesa vazia na aula de Biologia.
O esquema de Port Angeles estava de pé de novo, e deixou tudo mais atraente pelo fato de que Lauren tinha outros planos. Eu estava muito ansiosa pra sair da cidade, então eu não conseguia parar de olhar por cima do ombro, esperando que ele aparecesse do nada como ele costumava fazer. Eu prometí pra mim mesma que estaria de bom humor essa noite pra não estragar a diversão de Angela ou de Jéssica na sua caça ao vestido. Talvez eu pudesse até fazer umas compras também. Eu me recusava a pensar que teria que fazer compras sozinha em Seattle esse fim de semana, sem o mínimo de interesse no trato antigo. É claro que ele não podia cancelar sem pelo menos me ligar.
Depois da escola, Jéssica me acompanhou até em casa com o seu Mercury branco pra que eu pudesse deixar os meus livros e a minha camionhonete. Eu penteei o meu cabelo rapidamente enquanto estava lá dentro, sentindo um pouco de excitação por estar deixando Forks. Eu deixei um bilhete para Charlie em cima da mesa, explicando de novo onde encontrar o jantar, troquei a minha carteira da minha mochila para uma bolsa que eu raramente usava, e corrí pra me juntar á Jéssica. Depois nós passamos na casa da Angela, e ela estava esperando por nós.
Minha excitação cresceu espontâneamente enquanto nós nos dirigíamos aos limites da cidade.

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