sábado, 7 de março de 2009

Crepusculo (Stephenie Meyer) 3ª Part

Quando eu abri meus olhos essa manhã, algo estava diferente.Era a luz. Ainda estava a luz cinza-esverdeada de um dia nublado na floresta, mas estava mais claro de alguma forma. Eu percebi que não havia nenhuma névoa vendando minha janela.Eu me levantei pra olhar lá fora, e então gemi horrorizada.Uma fina camada de neve cobria o jardim, varria a parte de cima da minha caminhonete, e deixava a estrada toda branca.Mas essa não era a pior parte.
Toda a chuva de ontem tinha congelado, virado gelo — cobrindo o topo das árvores em fantástico padrões deslumbrantes, e cobrindo a calçada com um gelo mortal. Eu tive bastante dificuldade para não cair no chão seco; poderia estar mais seguro para eu voltar agora para cama.
Charlie tinha ido para o trabalho antes de eu descer escada abaixo. De muitos modos, vivendo com Charlie tinha como eu ter meu próprio lugar, e eu fiquei me divertindo sozinha, mesmo sem ter ninguém.
Eu joguei rapidamente no chão uma tigela de cereal e um pouco de suco de laranja da caixa de papelão. Eu me sentia excitada para ir para a escola, e isso me assustou. Eu sabia que não era o estímulo do ambiente, percebi que estava me antecipando, ou meu novo grupo de amigos. Eu tinha que ser honesta comigo mesma, eu sabia que estava ansiosa para chegar a escola porque eu veria Edward Cullen.
E isso era mesmo muito estúpido.
Eu deveria o estar evitando completamente depois de minha conversa desmiolada e embaraçosa ontem.
E eu suspeitava dele; por que ele deveria mentir sobre os olhos dele? Eu ainda estava amedrontada pela hostilidade que eu às vezes sentia emanando dele, e eu ainda ficava com a língua-amarrada sempre que olhava a face perfeita dele. Eu estava plenamente cosciente que nós eramos opostos que não se atraíam. Então eu não devia estar absolutamente tão ansiosa pra ver ele hoje.
Eu tive que usar toda a minha concentração pra conseguir sobreviver á descida nos tijolos cobertos se gelo da entrada. Eu quase perdí o equilíbrio quando finalmente cheguei á caminhonete, mas eu conseguí me agarrar no retrovisor e me salvar. Claramente, hoje seria um pesadelo.
Dirigindo para a escola, eu me distraí do medo de cair e as minhas especulações não desejadas sobre Edward Cullen e pensando em Mike e Eric, e na diferença óbvia em como os garotos adolescentes me tratavam aqui.
Eu tinha certeza que era exatamente a mesma que era em Phoenix. Talvez fosse só porque os garotos de Phoenix me viram passar por todas as fases estranhas da adolescencia e ainda pensavam em mim daquele jeito. Talvez fosse porque eu era novidade aqui, onde as novidades são algo muito raro. Talvez o meu jeito desajeitado fosse visto como uma coisa mais encarecedora do que patética, me transformando numa donzela ao invés de algum tormento. Qualquer que fosse a razão, o comportamento de cãozinho de Mike e a aparente rivalidade de Eric eram desconcertantes.Eu não tinha certeza que não preferia ser ignorada.
Minha caminhonete parecia não ter problemas com o gelo preto que cobria a estrada. Apesar disso, eu dirigi bem devagar pra não cravar uma espécie de trilha na rua principal.
Quando eu saí do meu carro na escola eu ví porque eu tive tão poucos problemas.
Algo prateado chamou minha atenção, e eu caminhei para o fundo da caminhonete - segurando cautelosamente o suporte lateral - para examinar os meus pneus. Havia pequenas correntes cruzadas em formatos de diamantes ao redor deles. Charlie deve ter acordado sabe-se lá que horas pra colocar as correntes nos meus pneus. De repente eu sentí minha garganta apertando. Eu não estava acostumada a ser cuidada, e a preocupação de Charlie me pegou de surpresa.
Eu estava no canto de trás da minha caminhonete, tentando lutar com a onda de emoções que as correntes de neve troxeram, quando eu ouví um som estranho. Era como um arranhão muito alto, estava rapidamente se tornando dolorosamente alto. Eu olhei para cima, estarrecida.
Eu ví várias coisas simultâneamente. Nada estava se mexendo em câmera lenta como acontece nos filmes. Ao invés disso, a adrenalina pareceu fazer o meu cérebro trabalhar muito mais rápido, e eu fui capaz de absorver em detalhes claros várias coisas ao mesmo tempo.
Edward Cullen estava parado quatro carros á minha frente me encarando horrorizado. O rosto dele se destacou do mar de rostos, todos petrificados com a mesma expressão de choque. Mas de mais imediata importância havia uma van azul escura derrapando, pneus guinchando contra os freios, girando selvagemente no gelo do estacionamento. Ia bater num dos cantos traseiros da minha caminhonete, e eu estava entre eles. Eu nem tive tempo de fechar os meus olhos. Logo antes de ouvir o barulho de algo se quebrando vindo da carroceria da minha caminhonete, alguma coisa bateu em mim, forte, mas não da direção que eu estava esperando. Minha cabeça bateu contra o gelo empretecido, e eu senti alguma coisa sólida e fria me pressionando no chão. Eu estava deitada no chão atrás do carro de pintura queimada que estava estacionado próximo ao meu.
Mas eu não tive a chance de prestar atenção em mais nada porque a van ainda estava vindo. Ela havia feito uma curva no fundo da minha caminhonete, e ainda girando e deslizando, estava prestes a colidir comigo de novo.
Uma voz baixa me disse que alguem estava comigo, e a voz era impossível não reconhecer. Duas mãos longas, brancas ficaram protetoramente na minha frente e a van parou a um palmo de distância de mim, as mãos grandes cabendo perfeitamente num vão profundo na lateral da van. As mãos dele se moveram tão rápido que ficaram fora de foco.
Uma delas estava de repente agarrando o fundo da van, e alguma coisa estava me puxando, empurrando minhas pernas como se elas fossem de uma boneca de trapo até que elas encostaram no pneu do carro com a pintura queimada. O baque de um som metálico fez meus ouvidos doerem, e a van estava estabilizada no chão, vidro caindo no asfalto - exatamente onde minhas pernas haviam estado.
Tudo ficou absolutamente silencioso por um longo segundo antes da gritaria começar. Mas mais claramente que a gritaria, eu podia ouvir a voz baixa, desesperada de Edward no meu ouvido.
"Bella? Você está bem?”.
"Eu estou bem". Minha voz soou estranha. Eu sentei sentar, e me dei conta que ele estava me apertando do lado do corpo dele com muita força.
"Tenha cuidado”, ele avisou quando eu relutei, “eu acho que você bateu bem forte com a cabeça".
Eu me dei conta de uma dor pulsante centrada bem acima da minha orelha esquerda.
"Au", eu disse, surpresa.
"Foi o que eu pensei". “A voz dele, incrivelmente, fez parecer que ele estava prendendo uma risada”.
"Como diabos..." eu parei, tentando limpar minha mente, me orientar.
"Como é que você chegou aqui tão rápido?”.
"Eu estava parado bem ao seu lado, Bella" ele disse, seu tom estava sério de novo.
Eu tornei a sentar, e dessa vez ele deixou, soltando o seu braço da minha cintura e escorregando pra o mais longe de mim que foi possível no espaço limitado. Eu olhei para a expressão preocupada, inocente dele e mais uma vez estava disorientada pela força dos seus olhos dourados. O que é que eu estava perguntando a ele?
E então eles nos encontraram, uma multidão de pessoas com lágrimas saindo dos olhos e escorrendo pelo rosto, gritando umas para as outras, gritando para nós.
"Não se mexam" alguém instruiu.
"Tirem Tyler da van!" Outra pessoa gritou.
Havia um fluxo de atividade ao nosso redor. Eu tentei levantar, mas as mãos frias de Edward me puxaram pra baixo pelo ombro.
"Fique quieta por enquanto".
"Mas está frio", eu reclamei. Eu me surpreendí quando ele gargalhou baixinho.
Havia uma margem no som.
"Você estava bem alí", de repente eu lembrei, e a gargalhada dele parou na hora. "Você estava perto do seu carro".
A expressão dele ficou dura. "Não, eu não estava”.
"Eu ví você". Tudo ao nosso redor estava um caos. Eu pude ouvir a voz áspera de adultos se aproximando da cena. Mas eu obstinadamente me mantive na nossa discussão; eu estava certa, e ele ia ter que admitir.
"Bella, eu estava em pé com você, e eu te tirei do caminho”.Ele usou todo o poder imenso, devastador do seu olhar em mim, como se estivesse tentando me comunicar algo crucial.
"Não", eu apertei minha mandíbula.
O dourado dos seus olhos brilhou. "Por favor, Bella".
"Porque?" Eu perguntei.
"Confie em mim”.Ele alegou, a voz dele opressiva.
Eu podia ouvir o som de sirenes agora. "Você promete que vai me explicar tudo depois?”.
"Tá bom" ele disse, subtamente exasperado.
"Tá bom", eu repeti enfurecida.
Foi preciso seis paramédicos e dois professores - Senhor Varner e treinador Clapp - para afastar a van o suficiente pra trazer macas até nós. Edward veementemente recusou a dele, e eu tentei fazer o mesmo, mas o traidor contou a eles que eu tinha batido a minha cabeça e que provavelmente tinha tido uma concussão. Eu quase morrí de humilhação quando eles colocaram o suporte de pescoço. Parecia que a escola inteira estava lá, assistindo sóbriamente enquanto eles me colocaram no fundo da ambulância. Edward pôde ir na frente.
Era enlouquecedor. Pra piorar a situação, o chefe Swan chegou antes que eles pudessem me colocar a uma distância segura.
"Bella!", ele gritou em pânico quando me reconheceu na maca.
"Eu estou completamente bem, Char-pai”, eu suspirei. "Não tem nada errado comigo”.
Ele se virou para o paramédico mais próximo para pedir uma segundo opinião. Eu desliguei ele da minha mente pra tentar considerar a confusão de imagens inexplicáveis se agitando loucamente na minha cabeça.
Quando eles me tiraram de perto do carro, eu pude ver um buraco profundo na lateral do carro do carro com a pintura queimada- uma cavidade muito distinta que se ajustava ao contorno dos ombros de Edward...Como se ele tivesse se forçado contra o carro com força suficiente para danificar a estrutura de metal...
E lá estava a família dele, olhando de longe, com expressões que iam da desaprovação á furia mas que não continham nenhuma espécie de preocupação com a segurança do irmão. Eu tentei encontrar uma solução lógica que pudesse explicar o que havia acabado de ver - uma solução que excluísse a possibilidade de eu ser louca.
Naturalmente, a ambulância conseguiu uma escolta policial. Eu me sentí ridícula em cada intante enquanto eles me tiravam de lá. O que piorou a situação foi que Edward entrou no hospital por suas próprias pernas. Eu apertei meus dentes.
Eles me colocaram na sala de emergência, uam sala longa com uma fileira de camas separadas por cortinas em tom pastel. Uma enfermeira colocou um medidor de pressão arterial no meu braço e um termometro embaixo da minha língua. Já que ninguém se incomodou em puxar a cortina para me proferir alguma privacidade, eu decidí que não era mais obrigada a usar aquele suporte para pescoço ridículo.
Quando a enfermeira foi embora, eu rapidamente soltei o Velcro e joguei ele embaixo da cama.
Houve outro fluxo do pessoal do hospital, outra maca foi trazida para o meu lado. Eu reconhecí Tyler Crowley da minha aula de História embaixo das bandagens apertadas na cabeça dele que estava coberta de sangue. Tyler pareceu 100 vezes pior do que eu me sentia.
Mas ele estava me encarando ansiosamente.
"Bella, me desculpe”.
"Eu estou bem, Tyler - você parece horrível, está tudo bem?" Enquanto falávamos, as enfermeiras começaram a tirar as bandagens encharcadas dele, deixando expostas uma porção de cortes superfíciais em toda a sua testa e na bochecha esquerda.
Ele me ignorou. "Eu pensei que fosse matar você! Eu estava indo rápido demais e batí errado no gelo...”.
Ele choramingou enquanto a enfermeira tocava o seu rosto de leve.
"Não se preocupe com isso; você errou a pontaria”.
"Como é que você saiu do caminho tão rápido? Você estava lá, e de repente não estava mais...”.
"Umm... Edward me tirou do caminho”.
"Quem?”.
"Edward Cullen- ele estava do meu lado." Eu sempre mentí muito mal; eu não soei nem um pouco convicente.
"Cullen? Eu não ví ele... uau, foi rápido demais, eu acho. Ele está bem?"
"Eu acho que sim. Ele tá aqui, em algum lugar, mas eles não o fizeram usar uma maca".
Eu sabia que eu não estava louca. O que aconteceu? Não havia nenhuma forma de explicar o que tinha visto.
Então eles me levaram pra fazer um raio-x. Eu disse a eles que não havia nada errado comigo, e eu estava certa. Nem uma concussão. Eu perguntei se podia ir embora, mas a enfermeira disse que eu tinha que falar com um médico antes. Então eu estava presa na sala de emergência, esperando, sendo molestada pelos pedidos contantes de desculpa de Tyler e pelas promessas de que ele ia me recompensar.
Eu tentei convencê-lo de que estava bem, mas ele continuou se atormentando. Finalmente, eu fechei os meus olhos e ignorei ele. Ele continuou com o seu discurso cheio de remorso.
"Ela está dormindo?", perguntou uma voz musical. Meus olhos se abriram.
Edward estava no pé da minha cama, sorrindo. Eu encarei ele. Não foi fácil - seria mais natural admirá-lo.
"Ei, Edward, eu lamento muito -" Tyler começou.
Edward levantou a mão para parar ele.
"Sem sangue, sem danos”, ele disse mostrando seus dentes brilhantes.
Ele foi se sentar na borda da cama de Tyler, me encarando. Ele sorriu de novo.
"Então, qual é o veredito?" Ele me perguntou.
"Não tem absolutamente nada de errado comigo, mas eles não querem me deixar ir embora”, eu reclamei.
"Como é que você não está acorrentado numa cama como o resto de nós?”.
"Tudo depende dos seus contatos", ele respondeu. "Mas não se preocupe, eu vim pra te animar”.
Nessa hora um médico virou no corredor e o meu queixo caiu. Ele era jovem, ele era loiro... E muito mais bonito do que qualquer estrela de cinema que eu já tenha visto. No entanto, ele era pálido e parecia cansado, com círculos embaixo dos olhos. Pela descrição de Charlie, esse tinha que ser o pai de Edward.
"Então senhorita Swan", Doutor Cullen disse numa voz notavelmete atraente, "como é que você está se sentindo?”.
"Eu estou bem", eu repetí pela última vez, eu esperava.
Ele caminhou para o painél de luz em cima da minha cabeça, e o ligou.
"Seu raio-x parece bom", ele disse. "A sua cabeça está doendo? Edward disse que você bateu com força”.
"Ela está bem", eu repeti com um suspiro, olhando de relance na direção de Edward.
Os dedos frios do doutor tatearam levemente no meu crânio. Ele percebeu quando eu gemí.
"Delicado?" Ele perguntou.
"Na verdade não", podia ser pior.
Eu ouví uma gargalhada e olhei pra ver o sorriso complacente de Edward. Eu revirei os olhos.
"Bem, o seu pai está na sala de espera - você pode ir pra casa com ele agora. Mas volte se você tiver vertigens ou se tiver qualquer problema com a sua visão”.
"Eu posso voltar para a escola?", eu perguntei, imaginando Charlie tentando ser atencioso.
"Talvez você devesse pegar leve hoje".
Eu dei uma olhada pra Edward. "Ele vai poder voltar para a escola?”.
"Alguém tem que espalhar a boa notícia que nós sobrevivemos", Edward disse fazendo chacota.
"Na verdade", Doutor Cullen corrigiu. "Parece que toda a escola está na sala de espera”.
"Ah não", eu gemí cobrindo o rosto com as mãos.
Dr. Cullen ergueu as sobrancelhas. "Você quer ficar?”.
"Não, não!" Eu insisti jogando as minhas pernas pelo lado da cama e me colocando rápido de pé. Rápido demais - eu cambaleei, e Doutor Cullen me sugurou. Ele pareceu preocupado.
"Eu estou bem”.Eu assegurei pra ele. Não tinha porque dizer pra ele que os meus problemas com o equilíbrio não tinham nada a ver com o fato de eu ter batido com a cabeça.
"Tome Tylenol para a dor" ele sugeriu enquanto me sustentava.
"Não dóe tanto", eu insisti.
"Parece que você teve muita sorte", Doutor Cullen disse enquanto assinava a meu quadro com um gesto floreado.
"Sorte que Edward estava do meu lado", eu emendei com um olhar duro na direção do objeto da minha declaração.
"Oh, bem, sim", Doutor Cullen concordou, subitamente ocupado com uns papéis na frente dele.Depois ele olhou pro outro lado, pra Tyler, e andou até a próxima cama. Minha intuição flutuou; o Doutor sabia de tudo.
"Eu temo que você terá que ficar conosco um pouco mais de tempo". Ele disse para Tyler e começou a checar os cortes dele.
Assim que o Doutor ficou de costas eu me aproximei de Edward.
"Será que eu posso falar com você por um minutinho?" Eu cochichei por baixo do fôlego. Ele deu um passo se afastando de mim, sua mandíbula subitamente apertada.
"Seu pai está esperando por você", ele disse entre dentes.
Eu olhei de relance pra Doutor Cullen e Tyler.
"Eu gostaria de falar com você em particular, se você não se incomodar”, eu pressionei.
Ele me olhou fixamente, e depois me deu as costas e caminhou pelo longo quarto. Eu praticamente tive que correr para acompanhá-lo.
Assim que viramos na curva para um pequeno corredor, ele se virou para me encarar.
"O que você quer?" Ele perguntou, parecendo aborrecido. Seus olhos eram frios.
A expressão nada amigável dele me intimidou. Minhas palavras sairam com menos severidade do que eu pretendia. "Você me deve uma explicação", eu lembrei ele.
"Eu salvei a sua vida - eu não te devo nada"
Eu vacilei com o resentimento na voz dele. "Você prometeu”.
"Bella, você bateu com a cabeça, você não sabe do que está falando”.
O tom dele era cortante.
Agora o meu temperamento estava em chamas, eu encarei ele desafiadoramente. "Não tem nada errado com a minha cabeça".
Ele me encarou de volta. "O que você quer de mim, Bella?”.
"Eu quero saber a verdade”,eu disse."Eu quero saber porque estou mentindo por você”.
"O que você acha que aconteceu?", ele soltou.
Saiu num sopro.
"Tudo o que eu sei é que você não estava em nenhum lugar perto de mim - Tyler também não viu você, então não diga que eu batí muito forte com a cabeça. Aquela van ia esmagar nós dois - e não esmagou, e as suas mãos deixaram buracos na lateral dela - e você deixou um buraco na lateral daquele outro carro, e você não está absolutamente machucado. E a van devia ter amassado as minhas pernas, mas você estava segurando ela..." Eu tinha noção do quanto aquilo soava louco, e eu não pude continuar. Eu estava com tanta raiva que podia sentir as lágrimas chegando; eu tentei forçá-las a desaparecer apertando os meus dentes juntos.
Ele estava me olhando incrédulo. Mas o rosto dele estava tenso, na defensiva.
"Você acha que eu tirei uma van de cima de você?". O tom dele questionava a minha sanidade, mas só me deixou mais suspeitas. Era como uma fala perfeitamente decorada por um ator talentoso.
Eu simplesmente afirmei com a cabeça uma vez, mandíbula apertada.
"Ninguém vai acreditar nisso, sabe”.Agora a voz dele tinha um tom de zombaria.
"Eu não vou contar pra ninguem". Eu disse cada palavra vagarosamnete, cuidadosamnete controlando a minha raiva.
A surpresa apareceu no rosto dele. "Então porque isso importa?”.
"Importa pra mim" eu insistí. "Eu não gosto de mentir - então seria melhor se eu tivesse uma boa razão pra fazer isso”.
"Será que você não pode só me agradecer e esquecer isso?”.
"Obrigada", eu disse fumaçando e esperando.
"Você não vai desistir, vai?”.
"Não”.
"Nesse caso... eu espero que você goste do desapontamento”.
Nós nos olhamos em silêncio. Eu fui a primeira a quebrar o silêncio, tentando manter o foco. Eu corria o risco de me distrair com o seu rosto lívido, glorioso. Era como tentar encarar um anjo destruidor.
"Porque você se incomoda?" Eu perguntei frigidamente.
Ele pausou, por um instante seu rosto estonteante ficou inesperadamente vulnerável.
"Eu não sei", ele cochichou.
Aí ele me deu as costas e caminhou pra longe de mim.
Eu estava com tanta raiva que demorou uns minutos até que eu pudesse me mover. Quando eu consegui andar, eu caminhei lentamente para a saída no final do corredor.
A sala de espera estava mais desagradável do que eu temia. Parecia que todos os rostos que eu conhecia em Forks estavam lá, me encarando. Charlie correu para o meu lado; eu levantei as mãos.
"Não tem nada de errado comigo", eu assegurei solenemente. Eu ainda estava importunada, sem o mínimo humor pra conversinha.
"O que o doutor disse?”.
"Doutor Cullen me viu, e ele disse que eu estava bem e que podia ir pra casa”, eu suspirei. Mike e Jéssica e Eric estavam todos lá, começando a vir na nossa direção. "Vamos logo", eu apressei.
Charlie colocou o braço atrás das minhas costas, não necessariamente me tocando, e me guiou até as portas de vidro da saída. Eu acenei timidamente para os meus amigos, esperando convencê-los de que eles não precisavam mais se preocupar comigo.
Era um enorme alívio - a primeira vez que já me sentí assim - entra na viatura.
Nós dirigimos em silêncio. Eu estava tão presa nos meus pensamentos que praticamente nem reparei que Charlie estava lá. Eu tinha certeza que a postura defensiva de Edward era uma confirmação de todas as bizarrices que eu ainda não podia acreditar que tinha testemunhado.
Quando nós chegamos em casa, Charlie finalmente falou.
"Umm... você vai precisar ligar pra Renée", ele baixou a cabeça, em sinal de culpa.
Eu estava apática. “Você contou á mamãe!”.
"Desculpe”.
Eu batí a porta da viatura um pouco mais forte do que o necessário quando saí.
Minha mãe estava histérica, é claro. Eu tive que dizer a ela que estava bem pelo menos umas trinta vezes antes dela se acalmar. Ela me implorou pra voltar pra casa - esqucendo que nossa casa estava vazia naquele momento - mas as súplicas dela foram mais fáceis de resistir do que eu imaginava. Eu estava consumida pelo mistério que Edward representava. E uma pouco mais obsecada pelo próprio Edward.
Burra, burra, burra.
Eu não estava tão ansiosa pra deixar Forks quanto eu deveria estar, como qualquer pessoa normal e sã deveria estar.
Eu decidí que devia ir dormir mais cedo naquela noite. Charlie continuou cuidando de mim ansiosamente, e isso estava me deixando nervosa. Eu parei no caminho pra pegar três Tylenol no banheiro. Eles ajudaram, e quando a dor passou, eu peguei no sono.
Essa foi a primeira noite que eu sonhei com Edward Cullen.

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