quinta-feira, 19 de março de 2009

Crepusculo (Stephenie Meyer) 15ª part

15. Os Cullen
A luz de outro dia nebuloso eventualmente me acordou. Eu deitei com o braço na frente dos olhos, grogue e ofuscada. Alguma coisa, um sonho tentando ser lembrado, estava lutando pra alcançar minha consciência. Eu bocejei e rolei pra o lado, esperando que mais sono viesse. E então o dia anterior flutuou na minha consciência.“Oh!”, eu levantei tão rápido que minha cabeça ficou rodando.“O seu cabelo parece um monte de palha... mas eu gosto”. Sua voz tranqüila veio da cadeira de balanço no canto do quarto.“Edward! Você ficou”, eu vibrei, e sem pensar atravessei o quarto me jogando no colo dele. No instante que minha mente se deu conta das minhas ações, eu congelei, chocada com o meu entusiasmo descontrolado. Eu olhei pra ele, com medo de ter ultrapassado os limites.Mas ele riu.“É claro”, ele respondeu, assustado, mas feliz com a minha reação. Suas mãos esfregaram minhas costas.Eu coloquei minha cabeça cuidadosamente no ombro dele, sentindo o cheiro da sua pele.“Eu tinha certeza de que tinha sido um sonho”.
“Você não é tão criativa”, ele zombou.
“Charlie!”, eu dei um pulo sem pensar, correndo para a porta.
“Ele foi embora há uma hora - depois de reconectar os cabos da sua bateria, eu devo dizer. Eu tenho que admitir que fiquei decepcionado. Será que só isso seria necessário pra te parar, se você quisesse sair?”.
Eu fiquei onde estava, querendo responder de forma mal-educada, mas eu estava com medo de ter mal hálito matinal.
“Você geralmente não fica tão confusa de manhã”, ele reparou. Ele abriu seus braços pra me receber de novo. Um convite quase irresistível.
“Eu preciso de outro minuto humano”, eu admiti.
“Eu vou esperar”
Eu fui para o banheiro, minhas emoções eram irreconhecíveis. Eu não me reconhecia, por dentro ou por fora. O rosto no espelho era praticamente irreconhecível - olhos brilhantes demais, pontinhos vermelhos nas maçãs do meu rosto. Depois de escovar meus dentes, eu tentei dar um jeito no caos emaranhado que estava o meu cabelo. Eu joguei água gelada no meu rosto e tentei respirar normalmente, mas sem muito sucesso. Eu dei uma corridinha de volta para o meu quarto.
Parecia um milagre que ele estava lá, com os braços abertos ainda esperando por mim. Ele veio me pegar, meu coração batendo erraticamente.
“Bem vinda de volta”, ele cochichou, me pegando nos braços.
Ele me embalou por algum tempo, até que eu reparei que as suas roupas estavam trocadas, seu cabelo estava macio.
“Você foi embora?”, eu acusei, tocando o colarinho da sua camisa nova.
“Eu não podia sair daqui com as mesmas roupas que cheguei - o que os vizinhos iam pensar?”.
Eu fiz biquinho.
“Você estava profundamente adormecida; eu não perdi nenhum detalhe”, seus olhos me vislumbraram. “Você só começou a falar hoje cedo”.
Eu gemi. “O que você ouviu?”.
Seus olhos dourados ficaram suaves. “Você disse que me amava”.
“Você já sabia disso”, eu abaixei a cabeça.
“Foi bom ouvir, do mesmo jeito”.
Eu escondi minha cabeça no ombro dele.
“Eu amo você”, eu sussurrei.
“Você é minha vida agora”, ele respondeu simplesmente.
Não havia mais nada a dizer no momento. Ele nos balançou pra frente e pra trás enquanto o quarto ficava mais claro.
“Hora do café da manhã”, ele disse finalmente, casualmente - pra provar, eu tenho certeza, que ele lembrava das minhas fraquezas humanas.
Então eu tapei o meu pescoço com as duas mãos e olhei pra ele com os olhos arregalados. O rosto dele ficou chocado.
“Brincadeirinha”, eu ri silenciosamente. “E você disse que eu não sabia atuar”.
Ele fez uma careta de desgosto. “Isso não é engraçado”.
“Foi muito engraçado, e você sabe disso”. Mas eu examinei cuidadosamente os seus olhos dourados pra ter certeza de que estava perdoada. Aparentemente eu estava.
“Será que eu devo refrasear?”, ele perguntou. “Está na hora do café da manhã para os humanos”.
“Oh, tudo bem”.
Ele me jogou sobre o seu ombro de pedra gentilmente, mas com uma rapidez que me deixou sem fôlego. Eu protestei enquanto ele me carregava facilmente pelas escadas, mas ele me ignorou.
Ele me colocou sentada numa cadeira.
A cozinha estava brilhante, feliz, parecendo que absorvia o meu humor.
“O que tem pra o café da manhã?”, eu perguntei prazerosamente.
Isso fez ele pensar um instante.
“Er, eu não tenho certeza. O que você quer?”. Sua sobrancelha de mármore se ergueu.
Eu sorri, ficando de pé.
“Está tudo bem, eu sei me cuidar sozinha. Me observe caçar”.
Eu encontrei uma tigela e uma caixa de cereais. Eu podia sentir seus olhos em mim enquanto eu pegava o leite e encontrava uma colher. Eu coloquei a comida na mesa, e então parei.
“Eu posso pegar alguma coisa pra você?”, eu perguntei, sem querer ser rude.
Ele só rolou os olhos. “Só coma, Bella”.
Eu sentei na mesa, observando ele enquanto comia um pouco. Ele estava me encarando, estudando todos os meus movimentos. Eu fiquei envergonahda. Eu limpei minha garganta pra falar, pra distraí-lo.
“O que está na agenda pra hoje?”, eu perguntei.
“Hmmm”, eu podia ver que ele estava tentando moldar sua resposta cuidadosamente. “O que você diria de conhecer minha família?”.
Eu engoli seco.
“Você está com medo agora?”, ele parecia esperançoso.
“Sim”, eu admiti; eu não podia esconder isso - ele podia ver nos meus olhos.
“Não se preocupe”, ele sorriu. “Eu vou te proteger”.
“Eu não estou com medo deles”, eu expliquei. “Eu estou com medo que eles... não gostem de mim. Eles não vão ficar, bem, surpresos por você levar alguém... como eu... pra casa pra conhecê-los? Eles sabem que eu sei deles?”.
“Oh, eles já sabem de tudo. Eles fizeram apostas ontem, sabia?” - ele sorriu, mas sua voz estava áspera- “Eles apostaram se eu ia te trazer do volta ou não, apesar de eu não ter idéia do porque eles apostaram contra Alice. Sob qualquer perspectiva, nós não temos segredos na minha família. Não é nem possível, já que eu leio mentes e Alice vê o futuro e tudo mais”.
“E Jasper fazendo você ficar mais calmo quando você estava com vontade de botar tudo pra fora, não se esqueça disso”.
“Você estava prestando atenção”, ele sorriu com aprovação.
“Eu aprendi a fazer isso de vez em quando”, eu brinquei. “Então Alice me viu voltando?”.
Sua reação foi estranha. “Algo assim”, ele disse desconfortavelmente, se virando pra que eu não pudesse ver seus olhos. Eu encarei ele cheia de curiosidade
“Isso ai é bom?”, ele perguntou, se virando abruptamente pra olhar pra o meu café da manhã com uma cara de brincalhão. “Honestamente, não parece muito apetitoso”.
“Bom, não é um urso pardo irritado...”, ignorando ele quando ele fez uma careta. Eu ainda estava me perguntando porque ele havia respondido aquilo quando eu mencionei Alice. Eu olhei para o meu cereal, fazendo especulações.
Ele ficou parado no meu da cozinha, uma estátua de Adonis de novo, olhando pra fora pelas janelas de trás.
Então seus olhos voltaram pra mim, ele sorriu um sorriso de tirar o fôlego.
“E eu acho que você devia me apresentar ao seu pai também, eu acho”.
“Ele já te conhece”, eu lembrei ele.
“Eu quero dizer, como seu namorado”.
Eu encarei ele com um olhar suspeito. “Porque?”.
“Não é esse o costume?”, ele perguntou inocentemente.
“Eu não sei”, eu admiti. Minha vida amorosa não havia me dado muitas referências. Não que as regras de um namoro normal se aplicassem aqui. “Isso não é necessário, sabe. Eu não espero que você... finja por minha causa”.
Seu sorriso estava paciente. “Eu não estou fingindo”.
Eu empurrei os restos do meu cereal nas bordas da tigela, mordendo meu lábio.
“Você vai dizer pra Charlie que eu sou seu namorado ou não?”, ele perguntou.
“É isso que você é?” Eu suprimi a alegria que tomava conta de mim por pensar em Edward e Charlie e a palavra namorado juntas no mesmo lugar.
“Eu tenho que admitir que já não sou mais um garoto”.
“Na verdade, eu tinha a impressão de que você era algo mais”, eu confessei, olhando para a mesa.
“Bem, nós não temos que massacrá-lo com todos os detalhes agora”. Ele se inclinou na mesa para levantar o meu queixo com um dedo frio, gentil. “Mas ele precisa de alguma explicação pra o motivo que eu fico aqui tanto tempo. Eu não quero que o Chefe Swan me dê uma ordem de prisão”.
“Você vai ficar?”, eu perguntei. “Você vai ficar aqui mesmo?”.
“Até quando você me quiser”, ele me assegurou.
“Eu sempre vou querer você”, eu avisei. “Pra sempre”.
Ele deu a volta na mesa vagarosamente, e parando a alguns passos de distância, ele se inclinou para tocar a minha bochecha com a ponta dos seus dedos. Sua expressão estava insondável.
“Isso te deixa triste?”, eu perguntei.
Ele não respondeu. Ele me olhou nos olhos por um imensurável período de tempo.
“Você já acabou”, ele finalmente perguntou.
Eu me levantei num pulo. “Sim”.
“Vá se vestir - eu vou esperar aqui”.
Foi difícil decidir o que vestir. Eu duvidava que houvesse algum livro de etiqueta que te dissesse o que vestir quando seu namoradinho vampiro te leva pra conhecer a família de vampiros dele. Era um alívio pensar na palavra sozinha. Eu sabia que eu afastava ela dos meus pensamentos intencionalmente por timidez.
Eu acabei colocando a minha única saia - longa, cor de khaki, mas casual. Eu coloquei a minha blusa azul que ele tinha elogiado. Uma rápida olhada no espelho me disse que meu cabelo estava impossível, então eu fiz um rabo de cavalo.
“Tudo bem”, eu desci as escadas. “Eu estou decente”.
Ele estava me esperando no pé da escada, mais próximo do que eu imaginava, e eu acabei me chocando com ele. Ele me equilibrou, me segurando por um instante longe cuidadosamente longe do seu corpo por alguns segundos antes de me trazer pra mais perto rapidamente.
“Errada de novo”, ele murmurou no meu ouvido. “Você está muito indecente - ninguém devia ser tentadora assim, não é justo”.
“Tentadora como?”, eu perguntei. “Eu posso me trocar...”.
Ele suspirou, balançando a cabeça. “Você é muito absurda”. Ele pressionou seus lábios frios delicadamente na minha testa e a sala rodou. O cheiro do seu hálito tornou impossível pensar.
“Será que eu devo explicar como você é tentadora pra mim?”, ele disse. Claramente era uma pergunta retórica. Ele passou seus dedos vagarosamente pela minha coluna, sua respiração estava vindo mais rápido na minha pele. Minhas mãos estavam espalmadas no seu peito, e eu senti a minha cabeça leve de novo. Ele abaixou sua cabeça devagar e encostou levemente seus lábios frios nos meus por um segundo, muito cuidadosamente, fazendo eles se abrirem.
Então eu desmoronei.
“Bella?”, sua voz estava alarmada enquanto me pegava e me mantinha de pé.
“Você... me. deixou... tonta”, eu acusei atordoada.
“ O que é que eu faço com você?”, ele gemeu exasperado. “Eu te beijei ontem e você me atacou! Hoje você desmaia nos meus braços!”.
Eu sorri fracamente, deixando os braços dele me segurarem enquanto minha cabeça rodava.
“É isso que eu ganho por ser bom em tudo”, ele suspirou.
“Esse é o problema”, eu ainda estava atordoada. “Você é bom demais. Muito, muito bom”.
“Você está passando mal?”, ele perguntou; ele já havia me visto assim antes.
“Não - não é o mesmo tipo de tontura. Eu não sei o que aconteceu”. Eu balancei a cabeça pedindo desculpas. “Eu acho que esqueci de respirar”.
“Eu não posso te levar a lugar nenhum desse jeito”.
“Eu estou bem”, eu insisti. “Sua família vai pensar que eu sou louca do mesmo jeito, qual é a diferença?”.
Ele mediu minha expressão por um instante. “Eu gosto muito do tom da sua pele”, ele disse inesperadamente. Eu corei de prazer, e desviei o olhar.
“Olha, eu tô dando muito duro pra não pensar no que eu estou fazendo, então será que já podemos ir?”, eu perguntei.
“E você está com medo não porque vai pra uma casa cheia de vampiros, mas porque você tem medo que esses vampiros não aprovem você, correto?”.
“É isso mesmo”, eu disse imediatamente, surpresa com o tom casual que ele usou ao dizer essas palavras.
Ele balançou a cabeça. “Você é incrível”.
Eu me dei conta, enquanto ele dirigia minha caminhonete até a parte central da cidade, que eu não fazia idéia de onde ele morava. Nós passamos sobre a ponta do rio Calawah, pegando a estrada que ia para o norte, as casas passando por nós, estavam ficando maiores. Então passamos por outras casas coladas umas nas outras, dirigindo na direção da vasta floresta. Eu estava pensando se seria melhor perguntar ou ser paciente quando ele virou numa estrada sem pavimento. Não havia sinalização, ela era praticamente invisível entre as árvores. A floresta se estendia pelos dois lados, deixando a estrada á frente visível discernível apenas por causa de umas curvas em formato de serpente, ao redor das árvores antigas.
E então, alguns quilômetros mais á frente, havia algo brilhando por entre as árvores, e então de repente apareceu uma pequena clareira, ou será que era um quintal? O brilho da floresta, no entanto, não desapareceu, pois havia seis árvores enormes que circundavam o lugar em todas as suas arestas. As sombras mantinham suas sombras seguras sobre as paredes da casa que se erguia por entre elas, tornando obsoletas as minhas primeiras explicações.
Eu não sabia o que esperar, mas definitivamente não era isso. A casa era antiga, graciosa, e tinha provavelmente uns cem anos. Era pintada de um branco suave, fraquinho, tinha três andares, era retangular e bem proporcionada. As janelas e portas faziam parte da estrutura original ou de uma restauração muito bem feita. Minha caminhonete era o único carro á vista. Eu podia ouvir um rio por perto, escondido pela obscuridade da floresta.
“Uau”.
“Você gostou?”, ele sorriu.
“Tem... um certo charme”.
Ele deu um puxãozinho na ponta do meu rabo de cavalo e deu uma gargalhada.
“Pronta?”, ele perguntou, abrindo a porta.
“Nem um pouquinho - vamos lá”. Eu tentei sorrir, mas parece que minha garganta estava presa. Eu passei a mão no cabelo nervosamente.
“Você está adorável”, ele pegou minha mão calmamente, sem pensar.
Nós caminhamos pelo longo portal de entrada. Eu sabia que ele podia sentir minha tensão; seu polegar fazia círculos nas costas da minha mão.
Ele abriu a porta pra mim.
Por dentro era ainda mais surpreendente, menos previsível, do que do lado de fora.
Era muito clara, muito aberta, e muito grande. Isso originalmente devem ter sido vários quartos, mas as paredes foram removidas em muitas partes pra criar um espaço maior. O fundo, virado para o sul foi inteiramente substituído por vidros, e, além da sombra das árvores, o quintal terminava num rio enorme. Uma escada gigantesca dominava o lado oeste da sala. As paredes, o teto baixo, o chão de madeira, e os finos tapetes, eram todos de tons variantes de branco.
Esperando por nós, em pé no lado esquerdo da porta, num lado da sala que continha um piano enorme e espetacular, estavam os pais de Edward.
Eu vi o Doutor Cullen primeiro, é claro, eu ainda não podia deixar de me chocar com a sua juventude e perfeição ultrajante. Ao lado dele estava Esme, eu presumi, a única da família que eu ainda não conhecia. Ela tinha o mesmo rosto pálido, lindo que os outros tinham. Alguma coisa no formato de coração do seu rosto, seus cachos macios, de uma cor caramelada, me fez lembrar de filmes épicos. Ela era pequena, mais esbelta, mas mais angular, mais cheinha que os outros. Eles dois estavam vestidos casualmente, com roupas claras que combinavam com o interior da casa. Eles deram um sorriso de boas vindas, mas não fizeram nenhum movimento para se aproximar. Eu imaginei que eles estavam tentando não me assustar.
“Carlisle, Esme”, a voz de Edward quebrou o curto silêncio. “Esta é Bella”.
“Seja bem vinda, Bella”, os passos de Carlisle eram medidos, cuidadosos enquanto ele se aproximava. Ele ergueu sua mão tentadoramente. Eu dei um passo á frente para balançar a mão dele.
“É bom vê-lo de novo, Doutor Cullen”.
“Por favor, me chame de Carlisle”.
“Carlisle”, eu sorri pra ele, minha súbita confiança me surpreendeu. Eu podia sentir o alívio de Edward á meu lado.
Esme sorriu e também deu um passo á frente, vindo na direção da minha mão. O seu aperto frio e forte foi exatamente como eu esperava.
“É muito bom conhecer você”, ela disse sinceramente.
“Obrigada. É bom conhecer você também”. E era mesmo. Era como conhecer uma fada de contos - ou Branca de Neve, pela cor.
“Onde estão Alice e Jasper?”, Edward perguntou, mas ninguém respondeu, já que eles apareceram no topo da escada.
“Ei, Edward”, Alice chamou entusiasmada. Ela correu escada abaixo, uma mistura de cabelos pretos e pele branca, parando graciosamente na minha frente. Carlisle e Esme olharam para ela com olhos cheios de avisos, mas eu gostei. Era natural - pra ela, pelo menos.
“Oi, Bella”, ela disse e se inclinou para me dar um beijo na bochecha. Se Carlisle e Esme pareciam assustados antes, agora eles estavam alarmados. Havia choque nos meus olhos também, mas eu estava feliz por ela parecer me aceitar tão inteiramente. Eu estava surpresa por sentir Edward tão rígido ao meu lado. Eu olhei para o rosto dele, mas a sua expressão não me disse nada.
“Você realmente cheira bem, eu não tinha reparado antes”. Ela comentou, me deixando totalmente envergonhada.
Ninguém mais parecia saber exatamente o que dizer, e então Jasper estava lá - alto e leonino. Um sentimento de paz passou pelo meu corpo, e de repente eu estava totalmente a vontade a despeito de onde eu estava. Edward olhou pra Jasper, levantando um sobrancelha, e então eu lembrei do que Jasper podia fazer.
“Olá, Bella”, Jasper disse. Ele manteve a distância, sem me oferecer um aperto de mão.
Mas era impossível se sentir mal perto dele.
“Olá, Jasper”, eu respondí timidamente pra ele, e depois para os outros - e vocês têm uma casa linda”, eu comentei convenientemente.
“Obrigada”, Esme disse. “Estamos muito felizes por você ter vindo”. Ela falou cheia de sentimento, e então eu percebi que ela estava me achando corajosa.
Eu me dei conta de que Rosalie e Emmett não estavam em lugar algum, então me lembrei da resposta muito inocente de Edward quando eu perguntei se eles não gostavam de mim.
A expressão de Carlisle me tirou dessa linha de pensamento, ele estava olhando para Edward com um expressão intensa. Pelo canto dos meus olhos, eu vi Edward afirmar com a cabeça uma vez.
Eu virei o olhar, tentando ser educada. Meus olhos foram parar de novo no lindo instrumento que havia na sala. De repente eu me lembrei da minha fantasia de infância que, se um dia eu ganhasse na loteria, eu compraria um piano bem grande pra minha mãe. Ela não era muito boa - ela só tocava pra si mesma no nosso teclado de segunda mão - mas eu adorava vê-la tocar. Ela ficava feliz, absorvida - nessas horas, ela parecia ser um ser novo, misterioso pra mim, alguém que não era a mãe que eu conhecia. Ela tentou me dar aulas, é claro, mas como toda criança, eu reclamei até que ela me deixou em paz.
Esme notou minha preocupação.
“Você toca?”, ela me perguntou, inclinando a cabeça na direção do piano.
Eu balancei minha cabeça. “Nem um pouco. Mas é lindo. É seu?”.
“Não”. Ela riu. “Edward não te contou que é um músico?”.
“Não”. Eu olhei para a expressão inocente dele com os olhos revirados. “Mas eu já devia saber, eu acho”.
Esme ergueu suas sobrancelhas delicadas, confusa.
“Edward consegue fazer tudo, não é?”, eu expliquei.
Jasper riu silenciosamente e Esme deu a Edward uma olhada de reprovação.
“Eu espero que você não tenha ficado se mostrando - é rude”. Ela repreendeu.
“Só um pouquinho”, ele sorriu livremente. O rosto dela se suavizou com o som, e eles trocaram um olhar que eu não entendi, apesar de Esme ter parecido quase presumida.
“Na verdade, ele foi modesto demais”, eu corrigí.
“Bem, toque pra ela”, Esme encorajou.
“Você acabou de dizer que ficar me mostrando era rude”, ele disse.
“Pra toda regra há uma exceção”, ela replicou.
“Eu gostaria de te ouvir tocar”, eu me ofereci.
“Está resolvido, então”, Esme empurrou ele na direção do piano. Ele me puxou com ele, fazendo com que eu me sentasse ao seu lado no banco.
Ele me deu um olhar longo, exasperado antes de virar as chaves.
E então seus dedos flutuaram rapidamente nas teclas, e a sala foi ocupada por uma composição tão complexa, tão luxuriosa, que era difícil acreditar que era tocada apenas por um par de mãos. Eu senti meu queixo cair, minha boca ficou aberta de pasmo, e eu ouvi gargalhadas atrás de mim por causa da minha reação.
Edward olhou pra mim casualmente, a melodia ainda soava ao nosso redor sem intervalos, eu pisquei. “Você gosta?”.
“Você compôs isso?”, eu gaguejei, entendendo tudo.
Ele afirmou com a cabeça. “É a favorita de Esme”.
Eu fechei meus olhos, balançando a cabeça.
“Qual é o problema?”.
“Eu estou me sentindo extremamente insignificante”.
A música ficou mais devagar, se transformando em outra mais leve, e para a minha surpresa eu reconheci a melodia da sua canção saindo da profusão das notas.
“Essa é inspirada em você”, ele disse suavemente. A música ficou insuportavelmente doce.
Eu não conseguia falar.
“Eles gostam de você, sabe”, ele disse convencionalmente. “Especialmente Esme”.
Eu olhei pra trás, a sala enorme estava vazia agora.
“Onde eles foram?”.
“Estão tentando nos dar privacidade, eu acho”.
Eu suspirei. “Eles gostam de mim. Mas Rosalie e Emmett...” , eu parei, sem ter certeza de como expressar minhas dúvidas.
Ele fez uma careta. “Não se preocupe com Rosalie”, ele disse, seus olhos estavam grandes e persuasivos. “Ela vai aparecer”.
Meus lábios se contorceram ceticamente. “Emmett?”
“Bem, ele acha que eu sou um lunático, e é verdade, mas ele não tem nenhum problema com você. Ele só está tentando apoiar Rosalie”.
“Porque é que isso aborrece tanto ela?” eu não tinha certeza de que queria saber a resposta.
Ele deu um suspiro longo. “Rosalie tem mais problemas com... com o que você é. Pra ela é difícil ter alguém de fora sabendo da verdade. Ela está comum pouco de inveja”.
“Rosalie tem inveja de mim?”, eu perguntei incrédula. Eu imaginei um universo onde a Rosalie de tirar o fôlego, teria motivos pra ter inveja de mim.
“Você é humana”, ele ergueu os ombros. “Ela também queria ser”.
“Oh”, eu murmurei, ainda aturdida. “Porém, até Jasper”.
“Na verdade aquilo foi culpa minha”, ele disse. “Eu te disse que ele foi o último de nós a tentar se adaptar ao nosso meio de vida. Eu pedi que ele mantivesse distância.”
Eu pensei na razão pela qual ele faria isso, e tremi.
“Carlisle e Esme?”, eu continuei rapidamente pra não deixar ele reparar.
“Eles estão felizes por me ver feliz. Na verdade, Esme não se importaria se você tivesse três olhos e pés gigantes. Durante todo esse tempo, ela temeu por mim, achando que eu estava perdendo algo essencial por conta da transformação, que eu era jovem demais quando Carlisle me transformou... ela está radiante. Toda vez que eu te toco ela fica prestes a explodir de alegria”.
“Alice parece muito... entusiasmada”.
“Alice tem a sua própria forma de enxergar as coisas”, ele disse com os lábios apertados.
“Você não vai me explicar isso, vai?”
Um momento de comunicação sem palavras passou por nós. Ele se deu conta de que eu sabia que ele estava me escondendo alguma coisa. Eu me dei conta de que ele não ia me contar nada. Ainda não.
“Então o que Carlisle estava te dizendo mais cedo?”
Suas sobrancelhas se juntaram. “Você percebeu, não foi”.
Eu levantei os ombros. “É claro”.
Ele me olhou pensativo por alguns segundos antes de responder. “Ele queria me contar uma novidade- ele não sabia se era algo que ele devia compartilhar com você”.
“Você vai?”
“Eu tenho, porque eu vou ficar um pouco... insuportavelmente super protetor nos próximos dias - ou semanas - e eu não quero que você pense que eu sou naturalmente insuportável”.
“O que há de errado?”
“Nada errado, necessariamente. Alice viu alguns visitantes se aproximando. Eles sabem que estamos aqui, e estão curiosos”.
“Visitantes?”
“Sim, bem...eles não são como nós, é claro- nos seus hábitos alimentares, eu quero dizer. Eles provavelmente nem vão aparecer na cidade, mas eu certamente não vou tirar os olhos de você de jeito nenhum, até que eles tenham ido embora”.
Eu me arrepiei.
“Finalmente uma resposta racional!”, ele murmurou. “Eu já estava começando a acreditar que você não tinha o menor senso de auto-preservação”.
Eu deixei essa passar, olhando ao redor, meus olhos admirando de novo a sala espaçosa.
Ele seguiu meu olhar. “Não é o que você esperava, não é?”, ele perguntou com uma voz presumida.
“Não”, eu admiti.
“Sem caixões, sem caveiras empilhadas nos cantos; eu nem acho que temos teias de aranha... que decepção isso deve ser pra você”. Ele continuou zombando.
Eu ignorei suas brincadeiras. “É tão clara... tão aberta”.
Ele estava mais sério quando respondeu. “É o único lugar onde não precisamos nos esconder”.
A música que ele ainda estava tocando, a minha música, foi chagando ao fim, as notas finais mudando para um tom mais melódico. A última nota ecoou no silêncio.
“Obrigada”, eu murmurei. Eu me dei conte de que estava com lágrimas nos olhos. Eu enxuguei elas, envergonhada.
Ele tocou o canto dos meus olhos, enxugando uma que eu havia deixado escapar. Ele levantou o dedo, analisando significantemente a umidade da gota. Então, tão rapidamente que eu mal pude reparar, ele colocou o dedo na boca para experimentá-la.
Eu olhei pra ele questionadoramente, e ele olhou pra mim por um momento até que ele finalmente sorriu.
“Você quer ver o resto da casa?”
“Não tem caixões?”, eu verifiquei, o sarcasmo na minha voz estava escondendo a verdadeira ansiedade que eu sentia.
Ele sorriu, pegando minha mão, me levando pra longe do piano.
“Sem caixões”, ele prometeu.
Nós subimos a enorme escadaria, minha mão passando pela superfície delicada do corrimão. O longo corredor que se seguia ás escadas era revestido com uma madeira cor de mel, a mesma das madeiras do chão.
“O quarto de Rosalie e Emmett... o escritório de Carlisle... o quarto de Alice”, ele fazia gestos enquanto passávamos pelas portas.
Nós teríamos continuado, mas eu parei no fim do corredor, olhando incrédula para o ornamento pendurado na parede acima da minha cabeça. Edward deu uma gargalhada por causa da minha expressão.
“Você pode sorrir”, ele disse. “É mesmo um pouco irônico”.
Eu não ri, minha mão levantou automaticamente com um dedo erguido para tocar a grande cruz de madeira. A sua madeira escura contrastava com o tom claro das paredes. Eu não toquei, apesar de estar muito curiosa pra saber se ela era tão suave ao toque quanto parecia ser aos olhos.
“Deve ser muito antiga”, eu advinhei.
Ele ergueu os ombros. “Do início da década de 1630, mais ou menos”.
Eu desviei o olhar da cruz pra olhar pra ele.
“Porque vocês mantêm isso aqui?”, eu perguntei.
“Nostalgia. Pertenceu ao pai de Carlisle”.
“Ele colecionava antiguidades?”, eu perguntei em dúvida.
“Não. Ele mesmo a fez. Costumava ficar na parede sobre o altar da sacristia onde ele pregava”.
Eu não tinha certeza se o meu rosto demonstrava o meu choque, mas só na duvida, eu me virei para olhar para a velha cruz novamente. Eu fiz as contas rapidamente na cabeça; a cruz já tinha mais de trezentos e setenta anos de idade. O silêncio perdurou enquanto eu lutava pra entender o conceito de todos esses anos.
“Você está bem?”, ele parecia preocupado.
“Quantos anos Carlisle tem?”, eu perguntei baixinho, ignorando sua pergunta, ainda olhando pra cima.
“Ele acabou de celebrar seu aniversário de trezentos e sessenta e dois anos”, Edward disse. Eu olhei pra ele, um milhão de perguntas estavam nos meus olhos.
Ele me olhava cuidadosamente enquanto falava.
“Carlisle nasceu na Inglaterra, na década de 1640, ele acha. Naquela época o tempo não era tão contado quanto hoje, pelos menos não para as pessoas comuns. No entanto, foi logo antes da lei de Cromwell”.
Eu mantive meu rosto composto, consciente de que ele estava me estudando enquanto eu ouvia. Era mais fácil se eu tentasse não acreditar no que ouvia.
“Ele era filho de um pastor Anglicano. A mãe dele morreu no parto. Seu pai era um homem intolerante. Quando os protestantes chegaram ao poder,ele foi a favor da perseguição dos católicos romanos e de outras religiões. Ele também acreditava muito fortemente no poder do mal. Ele comandou caçadas por bruxas, lobisomens... e vampiros.”,. eu fiquei muito rígida quando ouvi a palavra. Eu tenho certeza de que ele reparou, mas ele continuou sem parar.
“Eles queimaram muitas pessoas inocentes- é claro que as criaturas que eles estavam procurando não eram tão fáceis de pegar.
“Quando o pastor ficou velho, ele ordenou que seu filho obediente ficasse em seu lugar. No começo, Carlisle foi uma decepção; ele não via ninguém pra acusar tão rapidamente, não via demônios que não existiam. Mas ele era insistente e mais inteligente que o seu pai. Ele realmente descobriu um covil de vampiros de verdade que viviam se escondendo nos esgotos da cidade, só saindo durante a noite, pra caçar. Naqueles tempos, quando essas criaturas não eram só lendas e mitos, era assim que eles viviam.
“As pessoas pegaram suas tochas e lanças, é claro”- seu breve sorriso estava sombrio agora- “e esperaram onde Carlisle havia visto um deles saindo para a rua. Finalmente, um deles saiu”. Sua voz estava muito baixa; eu tive que dar duro pra ouvir.
“Ele devia ser muito velho, e fraco com fome. Carlisle ouviu ele chamando os outros em Latin quando sentiu o cheiro das pessoas. Ele correu pelas ruas, e Carlisle -que tinha vinte e dois anos e era muito rápido - estava liderando a perseguição. A criatura poderia facilmente despistá-los, mas Carlisle acha que ele estava com muita fome, então ele se virou e atacou. Ele pulou em Carlisle primeiro,mas os outros estavam logo atrás, e ele virou pra se defender. Ele matou outros dois homens, se alimetou de um terceiro e deixou Carlisle sangrando na rua” .
Ele parou. Eu podia ver que ele estava tentando esconder alguma parte da história, escondendo alguma coisa de mim.
“Carlisle sabia o que seu pai ia fazer. Os corpos seriam queimados- tudo que haviam sido infectado pelo monstro tinha que ser destruído. Carlisle agiu instintivamente pra salvar sua vida. ele saiu da rua rastejando enquanto o resto do bando corria atrás do demônio. Ele se escondeu numa plantação, se escondendo numa colheita de batatas por três dias. Foi um milagre que ele tenha conseguido se manter em silêncio, permanecer em segredo sem ser descoberto.
“Então tudo acabou e ele descobriu no que havia se transformado”.
Eu não tenho certeza do que a minha expressão estava dizendo, mas de repente ele parou.
“Como você está se sentindo?”, ele perguntou.
“Eu estou bem”, eu assegurei. E de repente eu mordí meu lábio com hesitação, ele deve ter visto a curiosidade queimando nos meus olhos.
Ele sorriu. “Eu espero que você tenha mais perguntas pra mim”.
“ Algumas”.
Seu sorriso cresceu mostrando seus dentes brilhantes. Ele começou a andar pelo corredor, me puxando pela mão. “Venha, então”, ele me encorajou. “Eu vou te mostrar”.

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