9.Teoria
"Posso fazer só mais uma?", eu implorei enquanto Edward acelerava ainda mais pela rua vazia. Ele não parecia estar prestando nenhuma atenção á pista.Ele suspirou."Uma", ele concordou. Seus lábios se pressionaram formando uma linha."Bem... você disse que sabia que eu não tinha entrado na livraria, e que eu tinha ido para o sul. Eu só estava me perguntando como você sabia disso”.Ele desviou o olhar, deliberadamente."Eu pensei que não estávamos mais sendo evasivos”, eu disparei.Ele quase sorriu."Tudo bem, então. Eu seguí o seu cheiro”.Ele olhou para a estrada, dando um tempo pra eu recompor minha expressão. Eu não conseguia pensar numa resposta aceitável pra isso, mas eu guardei a informação cuidadosamente pra estudá-la no futuro. Eu tentei me concentrar. Eu não estava pronta pra deixar ele terminar, justo agora que ele estava finalmente explicando as coisas."E você também não respondeu uma das minhas perguntas", eu lembrei.Ele me olhou com desaprovação. "Qual delas?"."Como funciona - essa coisa de ler mentes? Você pode ler a mente de todo mundo, em qualquer lugar? Como você faz isso? O resto da sua família pode...?" Eu me sentí uma boba, pedindo explicações pra uma coisa assim."Isso é mais que uma", ele apontou. Eu simplesmente entrelacei meus dedos e olhei pra ele, esperando."Não, sou só eu. E eu não consigo ouvir qualquer um, em qualquer lugar. Eu tenho que estar pelo menos um pouco perto. Quanto mais familiar é a... voz de alguém, de mais longe eu posso ouví-la. Mas ainda assim, não mais longe que alguns quilômetros”.Ele parou pensando. "É como estar num corredor enorme e cheio de gente, todos falando ao mesmo tempo. É só um ruido - um zumbido de vozes no fundo. Até que eu me concentro em uma das vozes, e aí o que ela está pensando se torna claro”. "Na maioria das vezes eu desligo todas - se não eu posso me destrair demais. E então fica mais fácil parecer normal” -ele fez uma careta quando disse a palavra-.
"Isso quando eu não estou respondendo acidentalmente ao pensamento das pessoas e não á suas vozes"."Porque será que você não pode me ouvir?", eu perguntei curiosamente.Ele olhou pra mim, seus olhos estavam enigmáticos."Eu não sei", ele murmurou. "A única suposição é que talvez a sua mente não trabalhe da forma como a deles trabalha. Como se os seus pensamentos estivessem na frequência AM quando eu só posso ouvir Fm".Ele sorriu pra mim, divertido de repente."Minha mente não trabalha direito? Eu sou uma aberração?" - as palavras me incomodaram mais do que deviam - provavelmente porque a ficha caiu. Eu sempre suspeitei que era uma aberração, e fiquei com vergonha de ver as suspeitas confirmadas."Eu ouço vozes na minha cabeça e você preocupada que você a aberração". Ele sorriu “Não se preocupe, é apenas uma teoria..." seu rosto se contraiu. "O que nos leva de volta a você".Eu suspirei. Como começar?"Nós não deixamos de ser evasivos?", ele me lembrou suavemente.Eu desviei o olhar do seu rosto pela primeira vez, tentando encontrar as palavras. Aí eu olhei para o velocímetro."Minha nossa!" Eu gritei. "Diminua"."Qual é o problema?", ele perguntou alarmado. Mas não diminuiu a velocidade."Você está indo á quase duzentos por hora!", eu ainda estava gritando. Eu olhei cheia de pânico pela janela, mas estava escuro demais pra enxergar. A estrada só era visível até onde os faróis alcançavam. A floresta dos dois lados da estrada pareciam paredes negras - e seriam duram como paredes de aço se nós batêssemos nelas a essa velocidade."Relaxe, Bella". Ele revirou os olhos, ainda sem reduzir."Você está tentando nos matar?", eu perguntei."Nós não vamos bater".Eu tentei moderar meu tom de voz. "Porque você está com tanta pressa?"."Eu sempre dirijo assim", ele me olhou dando um sorriso torto."Mantenha os olhos na estrada!"."Eu nunca sofrí um acidente, Bella - eu nunca sequer levei uma multa”.Ele sorriu e deu um tapinha na testa. "Detector de radar embutido".
"Muito engraçado", eu soltei. "Charlei é um policial, lembra? Eu fui criada para obedecer todas as leis de trânsito. Além do mais, se você bater o Volvo e transformá-lo numa sanfona, provavelmente você vai se levantar e sair dele".
"Provavelmente”, ele disse com uma risa curta, dura. "Mas você não".
Ele suspirou e eu observei aliviada enquanto observava o ponteiro baixando gradualmente. "Feliz?”.
"Quase".
"Eu odeio dirigir devagar", ele murmurou.
"Isso é devagar?”.
"Chega de comentários sobre como eu dirijo", ele cortou. "Eu ainda estou esperando pela sua última teoria".
Eu mordí meu lábio. Ele olhou pra mim, seus olhos estavam inexperadamente gentis.
"Eu não vou rir", ele prometeu.
"Eu estou com mais medo que você fique com raiva de mim".
"É assim tão ruim?”.
"Em grande parte, sim”.
Ele esperou. Eu estava olhando para as minhas mãos, então não pude ver sua expressão.
"Vá em frente", sua voz era calma.
"Eu não sei como começar", eu admití.
"Comece pelo começo... você disse que não foi você quem criou essa teoria".
"Não"
"Onde você a encontrou - num livro? Um filme?", ele testou.
"Não - foi Sábado, na praia". Eu arriquei dar uma olhada para o rosto dele. Ele pareceu confuso.
"Eu dei de cara com um amigo antigo da família - Jacob Black", eu continuei. "O pai dele e Charlie são amigos desde que eu era bebê”.
Ele ainda parecia confuso.
"O pai dele é um dos ansiões Quileute". Eu observei ele cuidadosamente. A sua expressão confusa estava congelada no lugar.
"Nós fomos dar uma volta" - eu não contei que havia planejado tudo.
"- Ele estava me contando umas histórias antigas - tentando me assustar, eu acho. Ele me contou uma..." eu hesitei.
"Vá em frente", ele disse.
"Sobre vampiros". Eu me dei contar de que estava cochichando. Eu não conseguia olhar para o seu rosto agora. Mas eu ví seus dedos apertando o volante convulsivamente.
"E você imediatamente pensou em mim?". Ainda calmo.
"Não. Ele... mencionou sua família".
Ele estava em silêncio, olhando para a estrada.
Eu fiquei preocupada de repente, preocupada em proteger Jacob.
"Ele só achava que era uma superstição boba", eu disse rapidamente.
"Ele não esperava que eu pensasse nada dela". Não parecia que estava sendo o suficiente, eu tenho que confessar. "Foi minha culpa, eu forcei ele a me dizer".
"Porque?”.
"Lauren disse uma coisa sobre você - ela estava tentando me provocar. Um garoto mais velho da tribo disse que vocês não iam até lá, só que pra mim pareceu que ele quis dizer outra coisa. Então eu fiquei sozinha com Jacob e tirei a verdade dele", eu admití, deixando a cabeça cair.
Ele me surpreendeu quando começou a sorrir. Eu olhei pra ele. Ele estava sorrindo, mas seus olhos estavam concentrados, olhando para a estrada.
"Como foi que você forçou ele a contar?", ele perguntou.
"Eu tentei flertar com ele - e funcionou melhor do que eu imaginava". Eu comecei a ficar corada enquanto lembrava.
"Eu queria ter visto isso", ele sorriu obscuramente. "E você me acusando de deslumbrar as pessoas - pobre Jacob Black"
Eu corei e olhei para a noite pela janela.
"E o que você fez depois?" Ele perguntou depois de um minuto.
"Eu fiz algumas pesquisas na Internet".
"E isso te convenceu?" A voz dele parecia pouco interessada. Mas as mãos dele estavam apertando o volante.
"Não. Nada fazia sentido. A maioria das coisas era meio boba. E então...". Eu parei.
"O que?”.
"Eu decidí que não importava", eu murmurei.
"Que não importava?" O tom dele me fez olhar pra cima -finalmente eu havia penetrado aquela máscara. O seu rosto estava incrédulo, com só uma ponta de raiva que eu temia.
"Não", eu disse suavemente. "Pra mim não importa o que você é".
Um tom duro, de zombaria inundou sua voz. "Você não se importa se eu for um mostro? Se eu não for humano?”.
"Não".
Ele ficou em silêncio, olhando diretamente pra frente de novo. Seu rosto estava sem expressão e frio.
"Você está com raiva", eu suspirei. "Eu não devia ter dito nada".
"Não", mas o seu tom estava tão duro quanto o seu rosto.
"Eu prefiro saber o que você está pensando - mesmo se o que você estiver pensando for uma loucura".
"Então eu estou errada de novo?", eu desafiei.
"Não era a isso que eu me referia. 'Não importa’”, ele me citou, apertando os dentes.
"Eu estou certa?", eu ofeguei.
"Isso importa?”.
Eu respirei fundo.
"Na verdade não", eu parei. "Mas eu estou curiosa”.Pelo menos minha voz estava composta.
De repente ele estava resignado. "Você está curiosa sobre o que?”.
"Quantos anos você tem?”.
"Dezessete", ele respondeu prontamente.
"Há quanto tempo você tem dezessete?”.
Seus lábios se contorceram enquanto ele ainda olhava para a estrada.
"A algum tempo", ele admitiu finalmente.
"Ok", eu sorrí, feliz por ele finalmente estar começando a ser honesto comigo. Ele olhou pra mim com olhos preocupados, como ele tinha olhado antes, quando estava preocupado que eu entrasse em choque. Eu sorrí para encorajá-lo e ele fez uma careta.
"Não ria de mim - mas como é que você consegue sair durante o dia?”.
Ele riu do mesmo jeito. "Mito".
"Você queima no sol?”.
"Mito"
"Dorme em caixôes?
"Mito". Ele hesitou por um momento e um tom estranho invadiu sua voz. "Eu não posso dormir".
Eu levei um minuto para absorver isso. "Nunca?”.
"Nunca", ele respondeu, sua voz quase inaudível. Ele voltou a olhar pra mim com uma expressão tristonha. Os olhos dourados prenderam os meus, e eu perdí a linha de pensamento de novo. Eu continuei olhando pra ele até que ele virou o olhar.
"Você ainda não perguntou a coisa mais importante". Sua voz estava dura de novo. E quando ele olhou pra mim, seus olhos estavam frios.
Eu pisquei, ainda deslumbrada. "E qual é?”.
"Você não está preocupada com a minha dieta?", ele perguntou sarcasticamente.
"Oh", eu murmurei. "Isso”.
"Sim, isso”.Sua voz estava vazia. "Você não quer saber se eu bebo sangue?”.
Eu vacilei. "Jacob me disse algo sobre isso”.
"O que Jacob disse?", ele perguntou monótono.
"Ele disse que você e sua família não... caçam pessoas. Ele disse que você e sua família não são perigosos porque vocês só caçam animais".
"Ele disse que não éramos perigosos?" Sua voz estava profundamente cética.
"Não exatamente. Ele disse que vocês não deviam ser perigosos. Mas os Quileute não quiseram vocês nas terras deles, só por precaução".
Ele olhou para frente, mas eu não sei dizer se ele estava olhando para a estrada ou não.
"Então ele estava certo? Sobre não caçar pessoas?" Eu tentei manter minha voz o mais uniforme possível.
"Os Quileute têm uma boa memória", ele murmurou.
Eu considerei isso um sim.
"Porém, não deixe isso te enganar”, ele avisou. "Eles estavam certos em nos evitar. Nós ainda somos perigosos”.
"Eu não entendo".
"Nós tentamos", ele explicou devagar. "Geralmente somos bons no que fazemos. As vezes cometemos erros. Eu, por exemplo, me permitindo ficar sozinho com você".
"Isso é um erro?", eu ouví a tristeza na minha voz, mas não sei se ele também ouviu.
"Um erro bem perigoso", ele murmurou.
Nós dois ficamos em silêncio depois disso. Eu observei os faróis virando com as curvas na estrada. Eles se moviam rápido demais; não parecia ser real, parecia ser um video game. Eu estava consciente do tempo passando rápido, como a estrada embaixo de nós, e eu estava com um medo horroroso de nunca mais ter outra oportunidade de ficar assim a sós com ele - abertamente, as janelas que existiam entre nós haviam desaparecido. As palavras dele haviam se acabado, e eu não gostei da idéia. Eu não queria perder nem um minuto que tinha com ele.
"Me conte mais", eu pedí desesperadamente, sem me importar com o que ele disesse, contanto que eu pudesse ouvir a sua voz de novo.
Ele me olhou rapidamente, surpreso pela mudança do tom da minha voz.
"O que mais você quer saber?”.
"Me diga porque você caça animais ao invés de gente", eu sugerí, minha voz ainda estava cheia de desespero. Eu me dei conta de que os meus olhos estavam molhados, e lutei contra a aflição que estava tomando conta de mim.
"Eu não quero ser um monstro". Sua voz estava muito baixa.
"Mas animais não são o suficiente?”.
Ele parou. "Eu não posso ter certeza, é claro, mas eu acho que é como viver a base de tofu e leite de soja; nós nos chamamos de vegetarianos, nossa piada particular. Não sacia a fome -ou melhor, dizendo, a sede. Mas nos mantém fortes o suficiente para sobrevivermos. Na maioria das vezes". Seu tom se tornou obscuro.
"Umas vezes são mais difíceis que outras".
"É muito difícil pra você agora?", eu perguntei.
Ele suspirou. "Sim".
"Mas você não está com fome agora". Eu disse confidencialmente, afirmando, não perguntando.
"Porque você acha isso?”.
"Seus olhos. Eu disse que tinha uma teoria. Eu percebí que as pessoas - homens em particular - são mais chatos quando estão com fome".
Ele deu uma gargalhada. "Você é muito observadora, não é?”.
Eu não respondí, eu só prestei atenção ao som da sua risada, guardando ela na minha memória.
"Você estava caçando com Emmett esse fim de semana?", eu perguntei quando estava silencioso de novo.
"Sim", ele pausou por um instante, como se estivesse se decidindo entre me contar alguma coisa ou não. "Eu não queria ir embora, mas foi necessário. É um pouco mais fácil ficar perto de você quando eu não estou com sede".
"Porque você não queria ir?”.
"Me deixa... nervoso... ficar longe de você”.Seus olhos eram gentís, mas intensos, e eles pareciam estar fazendo os meus ossos amolecerem. "Eu não estava brincando quando te disse pra ficar longe do oceano ou sobre o acidente na quinta. Eu estava distraído durante o fim de semana inteiro, preocupado com você. E depois do que aconteceu hoje á noite, eu estou surpreso que você tenha sobrevivido ao fim de semana sem nenhum arranhão". Ele balançou a cabeça, e de repente pareceu se lembrar de alguma coisa. "Bem, não exatamente sem um arranhão"
"O que?”.
"Suas mãos", ele me lembrou. Eu olhei para as minhas palmas, para os arranhões quase sarados. Seus olhos não perdiam nada.
"Eu caí", eu suspirei.
"Foi o que eu pensei”.Seus lábios se contorceram nos cantos. "Eu acho que, sendo você, podia ter sido bem pior - e essa possibilidade me atormentou o tempo inteiro enquanto eu estive fora. Foram três dias bem longos. Eu deixei o Emmett louco".
Ele sorriu pra mim como se estivesse se sentindo culpado.
"Três dias? Vocês não voltaram hoje?”.
"Não, nós voltamos no Domingo".
"Então porque nenhum de vocês foi para a escola?", eu estava frustrada, quase com raiva por todas as decepções que eu sofrí durante a sua ausência.
"Bem, você perguntou se o sol me machuca, e não machuca. Mas eu não posso sair na luz do sol - pelo menos, não quando as pessoas estão olhando".
"Porque não?”.
"Um dia desses eu te mostro", ele prometeu.
Eu pensei nisso por um momento.
"Você podia ter me ligado", eu decidi.
Ele parecia confuso. "Mas eu sabia que você estava em segurança".
"Mas eu não sabia onde você estava", eu hesitei e depois abaixei os olhos.
"O que?", sua voz aveludada estava compelida.
"Eu não gostei. De não te ver. Me deixou ansiosa também", eu corei dizendo isso em voz alta.
Ele estava quieto. Eu olhei pra cima, apreensiva, sua expressão estava cheia de dor.
"Ah", ele gemeu baixinho. "Isso não é certo".
Eu não conseguí entender a resposta dele. "O que foi que eu disse?”.
"Será que você não vê, Bella? Uma coisa é eu me fazer completamente infeliz. Outra completamente diferente é você estar tão envolvida".
Ele virou seus olhos angustiados para a estrada, as palavras dele estavam saindo tão rápidas que eu quase não conseguia entender.
"Eu não quero ouvir que você se sente assim". Sua voz era baixa, mas urgente. As palavras dele me cortaram. “É errado. Não é seguro”.
“Eu sou perigoso - compreenda isso, Bella".
"Não", eu fiz de tudo para não parecer uma criança mimada.
"Eu estou falando sério", ele grunhiu.
"Eu também. Eu já falei que não me importo com o que você é. É tarde demais”.
A voz dele chicoteou, baixa e forte. "Nunca diga isso".
Eu mordí meu lábio, e estava feliz que ele não sabia o quanto doía. Eu olhei para fora. Já devíamos estar perto agora. Ele estava dirigindo rápido demais.
"No que você está pensando?", ele perguntou, com a voz ainda dura. Eu só balancei a cabeça, sem ter certeza se conseguia falar. Eu podia sentí-lo olhando para o meu rosto, mas continuei olhando para frente.
"Você está chorando?", ele parecia intimidado. Eu não tinha reparado na umidade que os meus olhos estavam começando a acumular.
Eu rapidamente passei a mão na minha bochecha, e sem dúvida, lá estavam as lágrimas traidoras, me delatando.
"Não" eu disse, mas minha voz tremeu.
Eu ví ele levantar a mão direita na minha direção cheio de hesitação, mas então ele parou e colocou a mão de volta na direção.
"Me desculpe". A voz dele estava queimando de arrependimento. Eu sabia que ele não estava se desculpando pelas palavras que haviam me aborrecido.
A escuridão nos envolveu em silêncio.
"Me diga uma coisa", ele perguntou depois de outro minuto, eu podia ouví-lo se esforçar para usar um tom mais leve.
"Sim"
"No que você estava pensando hoje a noite, pouco antes de eu virara na esquina? Eu não conseguí entender a sua expressão - você não parecia assustada, você parecia estar bastante concentrada em alguma coisa”.
"Eu estava pensando em como incapacitar uma pessoa - você sabe, autodefesa. Eu ía enfiar o nariz dele dentro cérebro". Eu pensei no homem de cabelo escuro com uma onda de ódio me invadindo.
"Você ia lutar com eles?" Isso pareceu aborrecê-lo. "Você não pensou em correr?”.
"Quando eu corro eu caio demais", eu admití.
"E quanto a gritar por ajuda?”.
"Eu estava chegando nessa parte".
Ele balançou a cabeça. "Você estava certa - eu definitivamente estou lutando contra o destino tentando manter você viva”.
Eu suspirei. Nós estavamos indo mais devagar, passando pela fronteira de Forks. Levou menos de vinte minutos.
"Eu vou ver você amanhã?", eu perguntei.
"Sim - eu também tenho que entregar o meu trabalho". Ele sorriu.
"Eu vou guardar um lugar pra você no almoço".
Eu fiquei idiota, depois de tudo que passamos essa noite, aquela promessa me fez sentir borboletas no estômago, e me deixou incapacitada de falar.
Nós estávamos na frente da casa de Charlie. As luzes estavam ligadas, meu carro estava no lugar, tudo estava extremamente normal.
Era como acordar de um sonho. Ele parou o carro, mas eu não me moví.
"Você promete que vai estar lá amanhã?”.
"Eu prometo".
Eu pensei por um momento, depois balancei a cabeça. Eu tirei o seu casaco, dando mais um cheiradinha.
"Você pode ficar com ele - você não tem um para usar amanhã", ele me lembrou.
Eu entreguei pra ele. "Eu não quero ter que explicar ao Charlie".
"Oh, tudo bem". Ele sorriu.
Eu hesitei, minha mão na maçaneta do carro, tentando prolongar o momento.
"Bella?” - ele perguntou num tom diferente. Sério, mas hesitante.
"Sim?", eu me virei pra ele ansiosa demais.
"Me promete uma coisa?”.
"Sim", eu disse e depois me arrependí da minha incondicionalidade. E se ele me pedisse pra ficar longe dele? Isso eu não podia prometer.
"Não vá na floresta sozinha".
Eu encarei ele confusa. "Porque?”.
Ele fez uma carranca, e seus olhos estavam apertados quando ele olhou pela janela.
"Nem sempre eu sou a coisa mais perigosa lá fora. Vamos ficar aqui".
Eu tremí um pouco pela inexpressão da voz dele, mas eu estava aliviada. Essa, pelo menos, era uma promessa fácil de cumprir.
"Como você quiser".
"Até amanhã", ele suspirou e aí eu percebí que ele queria que eu fosse embora agora.
"Até amanhã, então". Eu abrí a porta sem vontade.
"Bella?" Eu me virei e ele estava inclinado na minha direção, seu rosto pálido, glorioso, á apenas alguns centímetros de mim. Meu coração parou de bater.
"Durma bem", ele disse. Sua respiração soprou em meu rosto, me deixando fascinada. Era a mesma essência que exalava do casaco dele, mas numa forma mais concentrada. Eu pisquei, totalmente ofuscada. Ele se afastou.
Eu não conseguí me mover de novo até que o meu cérebro ficou regulado novamente.
Então eu saí estranhamente do carro, precisando usar alguma coisa como suporte. Eu pensei ouví-lo sorrindo, mas o som foi baixo demais pra eu ter certeza.
Ele esperou até que eu estivesse na frente da porta, só então ele ligou o motor e eu ouvi ele dar ré silenciosamente. Eu me virei e ví o carro desaparecendo na esquina. Eu me dei conta de que estava muito frio.
Eu peguei a chave mecanicamente, abri a porta, e então entrei.
Charlie me chamou da sala de estar. "Bella?”.
"Sim, pai, sou eu". Eu entrei pra vê-lo. Ele estava assistindo um jogo de baseball.
"Você chegou cedo”.
"Cheguei". Eu estava surpresa.
"Ainda não são nem oito horas", ele me disse. "Vocês se divertiram?”.
"Sim - foi muito divertido". Minha cabeça estava dando voltas enquanto eu tentava me lembrar da noite só de garotas que eu havia planejado. "Elas duas encontraram vestidos."
"Você está bem?”.
"Eu só estou cansada. Eu caminhei demais”.
"Bem, talvez fosse melhor você ir se deitar". Ele pareceu preocupado. Eu imaginei como o meu rosto estaria.
"Eu só vou ligar pra Jéssica primeiro"
"Você não estava com ela?", ele perguntou, surpreso.
"Sim - mas eu deixei meu casaco no carro dela. Eu quero ter certeza de que ela vai levar para a escola amanhã".
"Bom, pelo menos deixe ela chegar em casa primeiro".
"Certo", eu concordei.
Eu fui direto para a cozinha e caí, exausta, numa cadeira. Eu realmente estava me sentindo um pouco tonta agora. Eu imaginei se era o choque chegando no fim das contas. Vê se se controla, eu disse pra mim mesma.
O telefone tocou de repente, me assustado. Eu tirei do gancho.
"Alô?", eu perguntei sem fôlego.
"Bella?”.
"Ei, Jess, eu ia ligar pra você”.
"Você chegou em casa?" A voz dela estava aliviada...E surpresa.
"Sim. Eu deixei meu casaco no seu carro - você pode levá-lo amanhã?”.
"Claro. Mas me conte o que aconteceu!”, ela ordenou.
"Um amanhã - na aula de Trigonometria, está bem?”.
Ela entendeu rapidamente. "Oh, seu pai está aí?”.
"Sim, é isso mesmo".
"Ok, eu falo com você amanhã, então. Tchau!". Eu podia ouvir a imaciência na voz dela.
"Tchau, Jess".
Eu subí as escadas lentamente, um torpor dominando a minha mente. Eu me preparei para ir para a cama sem prestar a mínima atenção com o que estava fazendo. Não foi até que eu estivesse embaixo do chuveiro - a água muito quente, queimando minha pele - que eu me dei conta de que estava morrendo de frio. Eu tremí violentamente por alguns minutos até que os jatos de água finalmente relaxaram meus musculos rígidos. Então eu fiquei embaixo do chuveiro, cansada demais pra me mexer, até que a água quente começou a acabar.
Eu saí, me envolvi cuidadosamente numa toalha, tentando manter o calor da água para que os tremores não voltassem. Eu me vestí rapidamente pra ir para a cama e me enfiei embaixo do edredon, me curvando até ficar no formato de uma bola, me abraçando para manter o calor. Uns pequenos tremores passaram por mim.
Minha mente ainda estava rodando, cheia de imagens que eu não conseguia entender, e algumas que eu lutei pra reprimir. Nada perecia estar claro no início, mas quanto mais perto eu chegava da inconsciência, mais algumas coisas se tornavam evidentes.
Sobre três coisas eu tinha certeza absoluta. Primeira - Edward era um vampiro.
Segunda - havia uma parte dele - e eu não sabia o quão poderosa ela poderia ser - que tinha sede do meu sangue.
E terceira, eu estava incondicionalmente e irrevogavelmente apaixonada por ele.
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